Coluna publicada no dia 20/06.
Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados Associados. Professor Universitário.
A fumaça das explosões ainda sobe no céu de Gaza, os tratores blindados avançando nas planícies ucranianas e os satélites registrando drones iranianos ziguezagueando sobre Israel!
E a ONU? Bem, a ONU redige! Redige muito! Redige comunicados, resoluções, apelos e notas de repúdio! Há décadas, é mais conhecida por suas declarações do que por seus atos — e, sejamos justos, que belas declarações!
Se fosse pelo vocabulário pacificador, o planeta já teria sido canonizado.
Desde 1945, a Organização das Nações Unidas nos promete que jamais viveremos outra grande guerra. E de fato, ao menos a III Guerra Mundial não foi oficialmente declarada.
O que temos é um festival de pequenos apocalipses, guerras por procuração, operações “especiais” e bombardeios com hora marcada. O espetáculo da barbárie segue em cartaz, e a ONU assiste da plateia VIP, emitindo alertas humanitários entre um café e outro em Genebra e Nova Iorque.
Quando a Rússia resolveu brincar de Império e adentrou a Ucrânia com tanques e bandeiras de nostalgia soviética, muitos olharam para Nova Iorque esperando algo mais do que indignação polida.
Mas o Conselho de Segurança é uma espécie de clube em que cada grande potência tem direito de calar as outras — o tal “poder de veto” que transforma qualquer tentativa de ação em pantomima. O agressor, vejam só, tem a chave do cadeado. É como pedir a um lobo para votar sobre o direito de ovelhas existirem.
E o que dizer de Irã e Israel? Um eterno duelo de sombras, foguetes e comunicados. De tempos em tempos, a ONU pede “moderação”. Sim, moderação! E o mais surpreendente é que ainda há quem se impressione com a ineficácia da instituição — como se sua inutilidade já não fosse uma tradição.
O internacionalista Hans Morgenthau, um dos pais do realismo nas relações internacionais, já dizia que “a política internacional é uma luta constante por poder”. A ONU, nesse contexto, parece uma trupe de teatro experimental tentando atuar no Coliseu romano.
Sua boa vontade é genuína, mas irrelevante. Seu idealismo é bonito, mas desarmado. E suas reuniões são longas, muito longas — o que talvez explique por que tantas crises terminam antes de qualquer resolução prática.
No fim das contas, talvez a ONU funcione melhor como espelho moral do que como ferramenta política. Uma espécie de confessionário diplomático, onde os Estados vão lavar as mãos e dizer, entre uma hipocrisia e outra, que “estão profundamente preocupados”. Mas preocupação não estanca sangue, e solidariedade não derruba drones. A paz, ao que tudo indica, continua sendo negociada por fora — nas sombras, nos arsenais, nos gabinetes que não usam bandeira azul.
Mas vamos reconhecer: se o mundo acabar amanhã, haverá um último comunicado da ONU pedindo calma, equilíbrio e diálogo. Provavelmente em PDF. Com selo institucional. E tradução simultânea.