O transporte oferecido pela Secretaria de Saúde para pacientes do SUS virou o centro de uma discussão acalorada entre representantes do Legislativo e o diretor do setor, Almir Bastos Silva Júnior, na sessão mais recente da Câmara de Vereadores de Canela, na noite de ontem, segunda-feira (16).
Em um discurso extenso, na Tribuna do Povo, Júnior fez um balanço das ações do departamento e saiu em defesa dos servidores e da estrutura disponível. Em seguida, o vereador Jone Wulff (PSD) foi direto nas críticas ao atendimento oferecido à população.
“Senhores, deixei na mesa de vocês todas as informações perenes desses primeiros seis meses de governo”, iniciou Júnior. Ele detalhou o funcionamento do transporte, que, segundo ele, faz cerca de 1.920 viagens para consultas, exames, quimioterapia e radioterapia, levando 10.233 pacientes em diversas cidades, de Porto Alegre a Guaporé.
A estrutura, conforme Júnior, envolve 12 veículos (incluindo duas ambulâncias e duas vans), 17 motoristas e quatro viagens diárias com empresas terceirizadas. Ele mencionou uma economia mensal de aproximadamente R$ 20 mil com a redução de terceirizações e a diminuição de horas extras dos motoristas da secretaria.
O diretor também comentou o uso de uma ambulância terceirizada que, segundo ele, gerava custos excessivos ao município. “Só no ano passado, perto de R$ 1,3 milhão”, disse. Júnior ainda afirmou que conseguiu uma emenda de R$ 450 mil com um deputado federal para adquirir uma nova van.
Apesar da longa explicação, Júnior reconheceu que pede laudos médicos para alguns pacientes justificarem o uso de transporte porta a porta. “Determinadas pessoas hoje têm a condição tão boa, como pacientes, que podem realmente ir até a UBS e pegar o transporte, deixar o carro (para quem realmente precisa), que é o que eu peço para as pessoas me comprovarem em laudo (que não teriam condições para ter que pegar um transporte alternativo ao da Saúde)”, justificou.
A fala provocou reações imediatas. O vereador Jone Wulff, em seu espaço de fala, foi categórico em sua crítica ao comportamento do diretor. “Recebi bastante reclamação do transporte da Saúde. Por incrível que pareça, recebi bastante áudios… e todos eles eram direcionados ao senhor Júnior, todos eles reclamando do atendimento”, relatou.
Wulff focou na exigência de laudo para pacientes em tratamento de câncer. “A pessoa já tem a carteirinha que está sendo tratada lá no setor de oncologia, aí ela vai ter que ir lá pegar mais um laudo pra apresentar uma coisa que nunca foi preciso. Nunca foi preciso”, protestou. O vereador ainda reforçou que recebeu relatos de pacientes reclamando da postura de Júnior. “Todos direcionados a ele, citando que ele era mal educado, que era grosso”.
Visivelmente indignado, Jone Wulff pediu empatia e respeito. “A pessoa chega lá já debilitada… tem que se colocar no lugar das pessoas”, disse. Ele relatou o caso de uma paciente em tratamento oncológico há um ano e meio que ligou para ele chorando. “Tem que tratar bem, se não tem capacidade de tratar bem, tem que pegar e sair fora”, disparou. “Ali chega gente doente, já nos extremos psicologicamente. Não é um favor, tem que tratar bem sim, com respeito às pessoas.”
O vereador ainda mandou um recado claro: “Quem não fizer, ali na frente vai pagar. Vou cobrar sempre, vou lá cobrar, o que eu tiver que falar eu vou falar. Não tenho medo de ninguém, de ninguém.”
O embate expôs o desgaste entre a gestão da saúde e o Legislativo municipal, além de escancarar a insatisfação de parte da comunidade quanto ao serviço. Júnior encerrou sua fala pedindo união entre os vereadores e o Executivo. “O momento agora é do povo. É o povo que merece atenção e destaque”, disse, colocando-se à disposição da Câmara. “O plantão da secretaria fica comigo 24 horas, podem ligar, o que eu puder fazer para ajudar qualquer um, eu estou à plena disposição.”












