Placa histórica que fica em fente a 'Bodega' fala sobre o começo de Gramado.
Gian Wagner
GRAMADO – Muito antes de ser Gramado, estas terras serviam de paradouro para tropeiros. O que levava essas pessoas a usar esta região para o descanso? O grandioso terreno gramado que havia onde hoje é a região central do município. A parada dos tropeiros acontecia muito antes dos primeiros moradores chegarem na região, que ainda era “terra sem dono”. Foi o descendente de português, Tristão José Francisco de Oliveira que, junto com sua esposa Leonor de Souza, construiu a primeira casa, um rancho de tábuas, no que viria a ser Gramado. A família, o casal e onze filhos, subiram a Serra por volta de 1875, quase trinta anos antes dessas terras serem consideradas distrito.
Algum tempo depois, Tristão foi à Lages, Santa Catarina, buscar José Manoel Corrêa, esposa e cinco filhos. Eles chegaram nas terras da Serra Gaúcha com uma tropilha de gado. Conseguiram com o governo estadual da época sesmarias de terras e começaram a criar vaca para o leite e trabalhar com cascas de árvores e erva-mate. Livros históricos registram um mapa de 1880 que mostra José Manoel Correa como o primeiro morador e proprietário da região. As terras dele na época englobavam muito do que hoje é o município de Gramado.
Até 1904 a região pertencia a Taquara do Mundo Novo, hoje o município de Taquara. Essa região se tornou o 3º Distrito da então Taquara em 19 de abril daquele ano, com sua sede na Linha Nova. A determinação foi desativada em 10 de novembro do mesmo ano em novo ato municipal que criou o 4º Distrito com sede em Mundo Novo (Três Coroas) e o 5º Distrito, com sede na Linha Nova. Estes atos foram comandados por Diniz Martin Rangel, o Intendente de Taquara do Mundo Novo. O 5º Distrito era grande e composto por Linha Nova, São Roque, Caracol, São João, Canella e uma localidade chamada Bernardes que muitos acreditam ser onde hoje é o Quilombo. Marcondes, Campestre e parte do que hoje é Parobé também pertenciam ao Distrito.
Em 1913 o local denominado “Gramado” passou a fazer parte do 5º Distrito e foi decidido que este seria o local da Sede. Caracol e Canella continuariam ligados ao Distrito até 1926, quando desmembram para um 6º Distrito. Historiadores acreditam que Diniz escolheu em primeiro momento a Linha Nova por medo de perder a divisa com Caxias e São Sebastião do Caí. Posteriormente, a troca da sede distrital possibilitaria forte imigração italiana na Linha Nova e Linha Bonita.
A LIGAÇÃO QUE MUDARIA A HISTÓRIA DA REGIÃO – No centenário do ano que a viação férrea chegou à Várzea Grande, através de Sander (Três Coroas), é imprescindível destacar a importância desta ligação com o desenvolvimento da hoje Gramado. A via-férrea chegou a região Central de Gramado em 1924 e permitiu maior mobilidade, principalmente no comércio. Mas não demorou muito para o trem também trazer pessoas curiosas em conhecer esta região, que logo passariam a visitar com frequência a cidade.
A VILA – Em 1938 Gramado passou a ser uma Vila. Era bastante estruturada para a época. Desde 1904 já tinha cartório de notas e registro civil e em 1914 concluiu-se a construção de uma capela. Em 1917 foi criada a Paróquia São Pedro e em 1918 instalada agência do Correio e um escritório do Banco Nacional do Comércio. Em 1920 Gramado tinha iluminação elétrica fornecida por usina própria e em 1926 inaugurava-se uma escola católica. Anos depois, em 1937, foi instalado o Hospital Santa Terezinha.
Casa da antiga 'Bodega', que servia de armazém para os primeiros moradores da região.
POR QUE SE EMANCIPAR? – Conforme o relato do primeiro prefeito Walter Bertolucci em um pronunciamento mais tarde transcrito para livros que contam a história de Gramado, uma das principais razões da emancipação era o modelo de Taquara administrar os distritos. O sub-prefeito recebia na época 10% do saldo que sobrasse na economia distrital. Se arrecadasse muito e gastasse pouco, o valor recebido pelo sub-prefeito era maior. A emancipação do 6º Distrito (Canela) em 1944 e seu desenvolvimento inspiraram os emancipadores gramadenses.
PRIMEIRA TENTATIVA – A Vila de Gramado tinha estrutura, mesmo ainda pequena. Recebia turistas, naquela época chamados de veranistas por procurar a Serra no verão e a Vila já possuía quatro hotéis nos anos finais da década de 1930. Nos finais de semana a localidade também promovia lazer através do Cine Esplendid, cafés e produtos feitos na própria comunidade.
Tendo em vista essa evolução, houve uma reunião com líderes comunitários. A primeira ata pró-emancipação é de 22 de janeiro de 1948. Desta reunião, foram eleitos os primeiros diretores do Movimento Pró-Emancipação. Compunham a diretoria Osvaldo Seidl, Eurico Albrecht, Hugo Daros e Walter Bertolucci. A comissão teve seis reuniões até ser inconstitucionalizada no mesmo ano. Foi necessário uma reforma na Constituição Estadual para novas emancipações no Rio Grande do Sul e o foco da Comissão de 48 passou da emancipação para a reforma, que só ocorreria em 1953.
Neste ano, Walter Bertolucci passou a ser o presidente da Comissão.
TRÂMITES PARA A EMANCIPAÇÃO – O cenário de Gramado um ano antes de ser município era assim: o Distrito tinha 12.417 habitantes, sendo destes 2075 eleitores. A receita da época era de 666.270 Cruzeiros. A lista de adesão ao movimento teve expressivas 689 assinaturas, número alto para o cenário da época. “Não foi difícil, foi trabalhoso”, disse o primeiro prefeito em relato publicado.
O plebiscito de 1953 contou com 883 eleitores. Uma maioria absoluta aprovou a emancipação. Foram 854 votos a favor e 12 contrários; 13 brancos e quatro nulos. O município foi criado pela Lei 2522 de 15 de dezembro de 1954, data que será comemorada neste sábado (14), em um almoço no Esporte Clube Ipiranga, na Linha Nova. Os cartões custam R$ 35 e estão sendo comercializados pelo próprio clube.
Prédio do primeiro açougue da região, hoje cuidado pela Família Bof.
AS PRIMEIRAS ELEIÇÕES – As primeiras eleições de Gramado ocorreram em 20 de fevereiro de 1955. Walter Bertolucci foi eleito primeiro prefeito e tomou posse oito dias depois. Também foram eleitos sete vereadores para compor a Câmara. Esse governo durou dez meses. Na eleição de 1956, Walter foi reeleito e a Câmara de Vereadores passou por renovação.
DINIZÓPOLIS – A característica de ser um gramado ser um campo paradouro para tropeiros muito antes daquele local ser uma cidade pesou muito para manter a região do 5º Distrito com o nome de sua Sede. Houve lá em 1913, na mudança da sede, a escolha do nome Dinizópolis para a região. O nome seria dado em homenagem ao Intendente de Taquara do Mundo Novo, Diniz Martins Rangel, que é considerado o primeiro administrador oficial da região. Porém, no fim prevaleceu o topônimo “gramado”, inspirado na original nomeação da região.
“HOJE? HOJE FICOU A HISTÓRIA” – 115 anos depois de ser Sede do Distrito, primeiro do 3º Distrito depois do 5º Distrito, Linha Nova preserva seu passado. “Hoje? Hoje ficou a história”, disse Rodrigo Bof, da Família Bof, que trabalha com turismo histórico na Linha Nova há três anos através do roteiro Linha Bella. Eles também estão no roteiro Caminhos de Caravaggio. “O turismo no interior tá crescendo muito, a procura é bem boa”, conta Zulmiro Bof, que é descendente dos proprietários antigos que viveram naquela região desde os primórdios.
Em frente à Igreja há um ‘bodegão’, o antigo armazém dos primeiros habitantes daquela região. Ao lado o primeiro açougue. Estes dois locais fazem parte do tour cuidado pela Família Bof. Mais à frente há a Sociedade Ipiranga e casas antigas. O Turismo no local já ocorria há anos, levando visitantes que buscam conhecer a história de Gramado. A chegada do asfalto em 2013 fez o trajeto ficar mais acessível e atrativo aos visitantes, contribuindo para a evolução do turismo. “O asfalto melhorou muito e ajudou para focar no agroturismo”, conta Bof.
O Parque das Olivas, que fica na localidade, também foi inaugurado há poucos anos e é hoje um dos maiores empreendimentos da região, que contribui para o crescimento turístico local.
1ª Comissão Pró-Emancipação (1948)
Presidente: Osvaldo Seidl
Vice-presidente: Erico Albrecht
Secretário: Hugo Daros
Tesoureiro: Walter Bertolucci
Comissão Emancipadora (1953)
Presidente: Walter Bertolucci
Secretário: Hugo Daros
Tesoureiro: Euzébio Baçzaretti
1ª Legislatura (1955)
Arno Michaelsen
Augusto Ferrari
Carlos Altreiter Filho
Ivo Bertolucci
Júlio Floriano Petersen
Remi Zatti
Theodoro Michaelsen
Votação plebiscito de 1953
Eleitores: 883
Favoráveis: 854
Contrários: 12
Brancos: 13
Nulos: 4
Gramado em 1953
Habitantes: 12.417
Eleitores: 2075
Receita: 666.270 Cruzeiros
Atividades comemorativas do final de semana
Hoje: Encontro Gramado e Seus Colonizadores
Local: Praça das Etnias
Horário: 18h
Sábado: Almoço “Onde Gramado Começou”
Local: EC Ipiranga, Linha Nova
Horário: 12h
Domingo: Culto ecumênico e apresentação da Orquestra Sinfônica
Local: Igreja Nossa Senhora de Lourdes
Horário: 17h30
Domingo: Encerramento, bolo e parabéns
Local: Museu do Trem
Horário: 19h
Fotos: Gian Wagner/JIH
Boa tarde, gostei muita da publicação. Estou procurando a história dos meus avós em canela e gramado RS. Nasceu em agosto de 1899, mas só foi registrado em maio 1904, na comarca do Mundo Novo, parochia do Senhor Bom Jezus RS. Meus bisavós residiam em Santa Maria neste primeiro districto. Solicitei certidão de nascimento em Taquara RS. Tudo pertencia a Taquara? Como era ou foi as divisões das cidades?