REGIÃO – Mauricio Nogueira, 43 anos, mas por este nome poucos vão descobrir que se trata de um dos personagens esportivos mais conhecidos e idolatrados na Região das Hortênsias. Mas se citar Balu, aí todos saberão de quem estamos falando.
Conhecido pela serenidade, disciplina e dedicação por onde joga, nesta entrevista como não poderia ser diferente falou de Serrano e Gramadense. Além dos momentos de glórias nos dois clubes, revelou um dos motivos que o fez trocar a camisa do clube de Canela pelo rival de Gramado.
Além disso, Balu lembrou de atletas com quem atuou e alguns até hoje que continua jogando em competições de futsal e futebol mantendo vínculo de amizade com Zóio, Hélio, Felipe Corrêa, entre outros. O atleta citou a importância dos jovens em praticar esporte, independente de qual modalidade, visto ser este um dos maiores aliados no combate à desigualdade social e drogas.
Jornal Integração: Gostaria que tu falasse da tua trajetória, como foram os primeiros chutes pelos campos ou quadras e qual treinador/professor orientou nos teus ensinamentos?
Balu: Lembro que comecei nos campinhos de terra, fui gostando cada vez mais do futebol e com 12 anos em um grupo de quatro amigos na Celulose brincávamos de duplas de pênalti e ficamos sabendo da escolinha do Serrano e combinamos de ir participar. Cheguei lá [estádio Dr. Pedro Sander] envergonhado, pedindo se podíamos treinar. Nos deram fardamento, fomos para o campo e o professor perguntou se eu era lateral e para falar a verdade nem sabia onde ficava esta posição (risos) e o professor Flávio Padilha, meu primeiro treinador me orientou e depois fui iniciando na categoria juvenil do Serrano.
JI: Qual jogador, seja do futebol profissional ou amador, que na época quando começou a atuar foi uma referência e por que?
B: Duas pessoas referências que admirava e cheguei a marcar, convivo até hoje: o Hélio, muito diferenciado, ídolo até hoje, respeito pela pessoa que é ele; e outro que considero que aprendi foi o Zóio, era fácil jogar ao lado dele. Te posicionava, coordenava, a bola vinha certinho no cruzamento, como pessoa e jogador um grande companheiro. Têm outros também como o Luizão e Irineu, foram fundamentais para mim. No ano do título pelo Serrano [1998] que poderia colocar muito mais gente, excelentes ensinamentos.
JI: Tu já teve oportunidade de atuar como jogador profissional? Se sim, por que não foi dado continuidade?
B: Em 1998 durante uma pré-temporada do Grêmio, participei de dois amistosos pelo Serrano e Ortopé. Um radialista da Rádio Bandeirantes [Jorge Estrada] me indicou um procurador e fizemos contato, na época trabalhava em uma loja de materiais de construção. Tratamos do assunto junto com o Jânio Machado e encaminhamos para jogar no São José [de Porto Alegre] que subiu para o Gauchão e tive a experiência de estar no grupo principal. Não cheguei a atuar, grupo já estava formado, mas para mim prevaleceu a experiência de estar convivendo com profissionais, foi um aprendizado. Na época tinha 21 anos, minha esposa estava grávida da primeira filha e acabei vindo embora do Zequinha e meu procurador perguntou o motivo, pois estava encaminhando minha contratação para o Glória de Vacaria. Mas era muito jovem e queria formar uma família e ficar perto dos pais, me sentia muito sozinho e decidi vir embora, não quis saber do profissional, mas sei que joguei esta chance fora, então oriento para os mais jovens que agarrem e aproveitem as oportunidades.
JI: Quanto tempo tu atuou vestindo a camisa do Serrano? Fala um pouco da tua trajetória serranista e da decisão do título.
B: Foram mais de sete anos de Serrano, trajetória com momentos bons e complicados, mas graças a Deus a maior parte de momentos maravilhosos. Antes do título, lembro de 1997, que tínhamos um time que não havia como perder, jogadores consagrados e ex-profissionais muito fortes e ficamos pelo caminho. Já em 1998, ano da conquista, time mais caseiro e regional, muitos pratas da casa e formamos uma família, ano bem gostoso de jogar, estava bem preparado vindo recentemente do São José. No dia 15 de novembro de 1998 a grande final, lembro de tudo até hoje. Naquela época tínhamos dificuldades para treinar, muito frio, duas vezes por semana com chuva e frio todos engajados e tínhamos o apoio de todos, o Janio Machado e João Prestes dando todo o suporte. Lembro de um jogo na segunda fase contra a Juventus de Feliz, no intervalo a nossa torcida foi agredida, eles achavam que não classificaríamos para o quadrangular e jogamos nesta fase final e na partida em Canela, vencemos por 1 a 0, com gol meu.
JI: Você também atuou no maior rival do Serrano. Como foi na época, em 2009 ter decidido vestir a camisa do Gramadense?
B: Foi uma decisão que tive que tomar sozinho, muitos não sabem o que aconteceu naquela época. Em 2008 foi um ano muito difícil. Estava no Serrano e foi quando meu pai faleceu, não tinha cabeça para treinar, jogar futebol e fazia poucos dias o Serrano estava para começar o Estadual Amador, estava sem ‘cabeça’ discutia muito e na estreia vieram em casa me buscar e se não viessem não tinha ido jogar, admito. Foi um domingo muito triste, não gosto de lembrar. Disputei um lance, juiz achou que fui desleal acabei sendo expulso e infelizmente agredi o árbitro e na época não tive apoio e defesa do Serrano, era bastante jovem, fui processado e estava no Fórum, sozinho diante do árbitro, advogado dele, juíza e sem ninguém para me apoiar e defender. Custos muito altos, não tinha condições de pagar a indenização, mas consegui de forma parcelada, paguei do meu bolso, não deram apoio algum, perdi aquele ano e, em 2009 recebi o convite do Gramadense, foi tarefa difícil de escolher por toda a história no Serrano, mas aceitei.
JI: Com o Gramadense, também conquistou o Estadual Amador e ainda o Sul Brasileiro, fala também um pouco desta trajetória com o clube de Gramado, dando detalhes destes momentos históricos e da decisão dos dois títulos.
B: Grupo muito querido, comissão técnica que sentia que o Gramadense estava disposto a ser campeão mesmo. Foram muitas contratações e sabia que teria que batalhar muito para estar no grupo. Era somente um treino por semana, mas muito bem aproveitado. Íamos para os jogos, nossas famílias estavam junto, ficávamos ansiosos para chegar domingo que era dia das partidas. Ficamos campeões contra o Ivoti e tive a felicidade de ser o único campeão com o Serrano e Gramadense. No ano de 2010, perdemos o título estadual, mas antes conquistamos o Sul Brasileiro. Posso dizer que foram momentos e histórias que guardo, marcaram minha vida tenho carinho por todos. Torcedores dos dois times, das duas cidades me abraçam com carinho e respeito, muito bom sair na rua e receber este afeto, não tem preço, dinheiro que paga estas lembranças do povo querido de Canela e Gramado.
JI: Além dos atletas do Serrano que tu citou e do Gramadense qual que você atuou era diferenciado?
B: Difícil citar um e não outros, mas uma pessoa muito próxima que até hoje jogamos juntos, amigo e irmão Felipe Corrêa de Gramado. Ele me deu muita força, me apoiou, poderia ter desistido naquele ano que o Gramadense foi campeão, pois cada jogo naquela semana um novo jogador era contratado para fortalecer e quando vinha os laterais ele [Felipe] sempre dizia faz a tua, que não tem como sair o esquema de jogo é o que tu sabe jogar, faz o feijão com arroz tu não vai sair do grupo. Outra pessoa querida foi o Amarelo, fora de série, sensacional grande zagueiro pedia para erguer a cabeça e dizia “vamos que preciso de ti”, carinho muito grande por ele.
JI: O futebol tem também momentos que ultrapassam as quatro linhas. É verídico ou lenda, que tu deixou um campo de jogo em meio a uma partida do estadual amador, para defender seu pai na arquibancada em uma confusão de torcida?
B: Este jogo foi na final do Estadual Amador, quando vencemos pelo Serrano. Estava no segundo tempo, jogando contra o Vila Rosa de Dois Irmãos e aquele dia tinha muita torcida nossa, toda minha família foi e meu pai procurou um lugar para se refugiar do sol, escolheu no lado do adversário e tinha uma falta para nós e ele infelizmente gritou “vamos fazer agora nesses alemão” e gerou a confusão. Foi bastante agredido e atravessei o campo para trocar a chuteira, percebi a briga, mas não imaginei que fosse com meu pai, minha irmã foi no alambrado e me avisou. Naquilo minha única reação foi correr e subi na tela, tinha uns quatro metros e quando estava para pular o Jorge Carasai me puxou para eu não ser expulso. Estava bravo e vi meu pai ensanguentado, foi para o hospital, pessoal levou e podia ficar tranquilo e o juiz me abraçou e pediu para me acalmar se colocava no meu lugar, treinador também conversou. Na sequência, neste lance da falta, eles foram sair com a bola erraram e o Hélio marcou.
JI: Você continua atuando nas competições regionais, o que o Balu faz nestes momentos sem campeonatos, consegue na medida do possível realizar atividades físicas?
B: Atualmente em Gramado estou atuando no 14 Bolachopp [1ª Divisão de Gramado], tenho respeito e carinho muito grande por este clube e quando eu parar de jogar de uma forma quero ajudar. Em Canela, neste ano ajudei a formar o time, os Guris da Vila Boeira [2ª Divisão] abrindo portas para muitos jovens, estou inscrito também para jogar e nestes momentos de paralisação, nos meus dias de folga mantenho a forma na academia em casa, procurando manter em forma, também por saúde.
Para a garotada que está iniciando a trajetória no futebol e futsal, qual a orientação que tu passa a eles, pois muitos sonham em serem profissionais, mas não alcançam estes objetivos e o quanto o esporte ensina para a vida das pessoas?
B: Peço que dêem valor ao esporte, pois ensina muito. Fizemos muitas amizades é um meio que estamos de bem com a vida, fora das drogas, esporte é alegria, amor e paixão. Quem gosta, curte, sabe o que isso significa e tenho a dizer para vocês façam de tudo para ser alguém na vida e aproveitem as boas oportunidades. Temos bons exemplos a serem seguidos, tem o Ramiro [ex-Grêmio, atualmente no Corinthians] lembro dele, sentado na beira do campo, perguntando para mim quantos cruzamentos desta lateral e ele me assistia jogar como torcedor. Tem o Paulo Josué de Canela que está atuando fora do país [Malásia], tem que se espelhar nestas pessoas, aproveitar os incentivos e abraçar e se dedicar ao esporte.
A entrevista
A entrevista pode ser conferida no Facebook Jornal Integração Hortênsias, na barra vídeos – Redação Esportes ou acessando o site www.leiafacil.com/podcasts clicando no link Redação Esportes 14/05.
Texto e foto: Tiago Manique/JIH