Fernando Gusen
CANELA – Transitar pelas ruas de Canela exige cada vez mais paciência. As vias são as mesmas há anos enquanto que o fluxo de veículo cresce ano a ano. Para se ter uma idéia deste inchaço no trânsito, hoje a frota de automóveis na cidade já supera os 29 mil carros, enquanto que em 2010 eram 17 mil veículos. Sem contabilizar o movimento turístico que é presente dioturnamente. E é nos horários de pico que se percebe que não há ‘para onde correr’.
Atento ao crescimento da frota e à falta de caminhos alternativos de alivio aos deslocamentos, o Poder Público canelense está cumprindo com uma exigência do governo federal, por meio da Lei 12.587/2012, que determinou um prazo até este ano para as cidades elaborarem um Plano Municipal de Mobilidade de Urbana.
Por licitação, o Município contratou a empresa PróCidades Consultoria em Planejamento Urbano de Porto Alegre, que nos últimos seis meses está trabalhando em um estudo, levantamento e elaboração de propostas para serem implantadas. O Plano está se encaminhando para a conclusão da 3ª e última fase (elaboração de propostas) e precisa ser concluído totalmente ainda neste ano para poder pleitear recursos federais para investimentos em infraestrutura de mobilidade urbana.
No dia 11 deste mês, a Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Mobilidade Urbana realizou uma audiência pública para apresentar uma lista de propostas que são viáveis para resolver os problemas de Canela. Após a audiência, a reportagem do Integração procurou a equipe da Prefeitura que está acompanhando a empresa PróCidades na elaboração deste trabalho e foi atendida pelo secretário adjunto de Meio Ambiente, Urbanismo e Mobilidade Urbana, David Keller, o arquiteto Geraldo Noll, a engenheira civil Vera Madeira, a arquiteta Patrícia Michelon, o agente administrativo Moisés de Souza e a assessora jurídica Endi Betin.
Nesta segunda-feira (15), iniciou-se o prazo de 10 dias para a população interessada no assunto procurar a Prefeitura para conhecer o levantamento e também encaminhar sugestões para os técnicos. Dúvidas também podem ser encaminhadas para o e-mail [email protected] ou ainda pelo telefone 3282.5173. Nas próximas semanas o Plano de Mobilidade será finalizado e encaminhado para a Câmara de Vereadores, que poderá realizar novas audiências públicas para enriquecer o projeto.
Os três pontos mais críticos
Não é preciso ser técnico de trânsito para observar que os locais com maiores problemas em Canela são a avenida João Pessoa, rua Getúlio Vargas e entorno da Catedral de Pedra. E os profissionais que fizeram o levantamento ratificam isso. Os estudos realizados indicam soluções para todo complexo viário da cidade, especialmente estes três eixos.
Conforme apresentado no diagnóstico, o sistema viário da cidade, principalmente nos bairros, apresenta uma série de descontinuidades decorrentes do processo espontâneo de expansão da cidade. Esta condição sobrecarrega o sistema viário principal, sobretudo nos eixos que acumulam o tráfego local e o tráfego regional de passagem, com especial atenção para a Av. Osvaldo Aranha/Felisberto Soares, Getúlio Vargas e João Pessoa.
A empresa responsável pelo estudo observou que o tecido urbano de Canela tem potencial para criação de eixos de circulação com o prolongamento de algumas vias, abertura de novos trechos, bem como a remodelação geométrica com ajustes pontuais. As intervenções e propostas permitirão a criação de eixos viários alternativos com intuito de distribuir os fluxos que hoje se concentram sobre os principais eixos.
As soluções sugeridas vão desde mudanças de sentido em determinadas ruas e sinalização até obras de engenharia de alto investimento financeiro, como viaduto, trincheira, desapropriação de terras e abertura de novas ruas.
As medidas avaliadas como mais simples serão as primeiras a saírem do papel, ainda assim serão colocadas em prática somente após o término da programação do Sonho de Natal, em janeiro, quando inicia a baixa temporada.
Primeiro acontecem as medidas de curto prazo, que não envolvem grandes investimentos nem desapropriações de áreas. Os sentidos binários (mão única) estão nesta lista de ações a serem colocadas em pratica. Neste caso, ocorre apenas nova sinalização.
A implantação de rótulas também é vista como alternativa para melhorar o trânsito. Estas serão realizadas à médio prazo. As maiores obras de engenharia e que requerem investimentos mais elevados, como anel viário e perimetrais, serão desenvolvidas a longo prazo.
Diretrizes baseadas em estudos técnicos
Os técnicos da Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Mobilidade Urbana reforçam a necessidade do estudo e exaltam que tudo foi feito por profissionais gabaritados, com levantamento de dados e foco na coletividade.
“Se agora já está assim, imagine como vai ficar amanhã ou depois com essa quantidade de empreendimentos que estão e que ainda serão feitos em Canela”, observou a arquiteta Patrícia Michelon.
“Este plano nos dá as diretrizes, depois será preciso fazer projeto por projeto, caso a caso, de cada interferência que será feita, e tudo sempre de acordo com o que rege o Plano Diretor do Município”, explicou a engenheira Vera Madeira. E acrescentou: “É necessário, não apenas para cumprir as exigências, mas pela necessidade mesmo. Foi feito um estudo minucioso com intuito de resolver nosso problema de mobilidade”.
Algumas das obras carecem de sintonia com Gramado para serem colocadas em prática, a exemplo a perimetral. “A cidade está crescendo e evoluindo, temos que projetar os próximos anos. Isso precisa ser feito em algum momento. Este estudo realizado também levou em consideração nossa geografia e o lado para onde a cidade está crescendo”, alertou o agente administrativo Moisés de Souza, citando a região dos bairros São Luiz, Canelinha e Saiqui.
“Tudo está sendo fito pensando no bem coletivo. As diretrizes são baseadas em estudos técnicos, feitos por profissionais da área, inclusive com contagem de fluxo hora a hora”, disse Moisés.
Evolução da frota em Canela
2010 – 17.481
2011 – 18.957
2012 – 20.553
2013 – 22.298
2014 – 23.912
2015 – 25.263
2016 – 26.126
2017 – 27.049
2018 – 28.005
Baseado nesta evolução, a projeção para 2040, por exemplo, é que Canela tenha uma frota de 59.693 veículos e uma população estimada em 64 mil pessoas, o que representa, praticamente um carro por habitante. “Se já está difícil transitar pela cidade hoje, imagine nos próximos anos”, avalia a engenheira civil Vera Madeira.
Propostas para a entrada da cidade
Um dos principais gargalos é o complexo de circulação na entrada da cidade. As vias que formam este eixo foram estudadas em conjunto, visto a conectividade entre elas, e quatro cenários foram sugeridos. O primeiro, e mais barato, é o rearranjo funcional das vias existentes para aliviar a tensão sobre a Getúlio Vargas. Neste caso, a Getúlio Vargas passaria a ser mão única (só desce) e quem vem pela Tenente Manoel Corrêa teria que seguir em direção a Vila Suzana até a próxima quadra. A partir do Grande Hotel, a Tenente Manoel Corrêa também passaria ter sentido único até a João Manoel Corrêa.
No segundo cenário a proposta é a instalação de duas rotatórias/rótulas, uma na conexão entre a Getúlio Vargas e a Osvaldo Aranha e outra na conexão da Getúlio Vargas com a Tenente Manoel Corrêa. Para este tipo de intervenção será necessário alargar a Getúlio Vargas, ou seja, é preciso absorver parte das áreas dos terrenos lindeiros.
No terceiro cenário a sugestão é criar alças no canteiro central da ERS-235 (em frente ao Parque do Palácio) formando um ‘X’ de transposição de tráfego. Neste caso o cruzamento entre as duas alças seria feito com semáforo. A idéia deste cenário é retirar da Getúlio Vargas o fluxo que vem da Danton Correa da Silva.
O cenário quatro, e o mais caro, tem a mesma solução geométrica do cenário três, entretanto o cruzamento entre as duas alças aconteceria com a diferença de níveis entre as duas pistas com elevação da via em 3,5 metros no sentido Canela-Gramado (viaduto) e mergulho da outra via em 2 metros no sentido Gramado-Canela (trincheira). Esta sugestão, segundo a PróCidades, é a alternativa que mais aliviaria a tensão do cruzamento da Getúlio Vargas com a Osvaldo Aranha, entretanto é o que levaria maior investimento.
Modelo espacial de mobilidade
O Modelo Espacial de Mobilidade Urbana é configurado em diretrizes que organizam a funcionalidade do sistema viário, considerando as vias existentes, a serem abertas ou a serem remodeladas, além de intervenções com obras de engenharia. Considerando as características da malha viária e do uso e ocupação do solo local, são propostas as seguintes diretrizes de configuração de eixos viários estruturantes:
Eixos de conexão regional; criação de anel viário de contorno; estruturação de eixos perimetrais, eixos coletores de bairros; reorganização do tráfego na área central. Eixo turístico central e alça de contorno norte.
Entre estas propostas, o anel viário tem objetivo de facilitar a conectividade entre os bairros permitindo a circulação periférica evitando o centro da cidade. A implementação do anel viário apresenta três setores. No lado leste a conexão da rua do Xaxim com a Godofredo Raymundo, depois com a São João até a Av. João Pessoa.
No lado norte/nordeste, faz a sequência da conexão da São João com a Av. João Pessoa seguindo pela José J. Velho, José Raymundo, São Francisco, Marechal Castelo Branco até ERS-466, transposição da ERS-466 com rotatória e criação de via ligando a ERS-235.
No setor sul a idéia é circundar o centro pela Danton Corrêa da Silva, depois Rodolfo Schlieper, Santa Teresinha, Gravataí com remodelação desta via para conectar com a rua do Xaxim e conexão desta com a Godofredo Raymundo.
Para estas interligações será necessário investir no alargamento de muitas destas vias, criar rotatórias e abrir novas vias.
Organização do tráfego no centro
A proposta para a região central é criar sentidos binários, ou seja, ruas com sentido único (estilo Caxias do Sul). Entre as principais vantagens dos binários está o aumento da capacidade operacional das vias, redução dos conflitos nos cruzamentos, eliminação dos retardos por espera para conversões à esquerda e possibilidade de implantação de ciclovias.
O primeiro ponto para o Centro é manter a Osvaldo Aranha e Felisberto Soares com sentidos de trafego duplo (como ocorre hoje). As transversais passariam a ser de mão única da seguinte forma: Júlio de Castilhos sentido norte-sul; Dona Carlinda sentido sul-norte; Borges de Medeiros sentido norte-sul e Visconde e Mauá sentido sul-norte (para quem olha a Catedral de frente a Júlio fica com fluxo só para a direita, a Dona Carlinda só para a esquerda, a Borges para direita e a Visconde para a esquerda). Estes sentidos funcionariam neste formato desde a avenida João Pessoa até a Coronel Diniz (rua do Gallas).