GIAN WAGNER
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REGIÃO – Os três pedágios que cercam Gramado e Canela, todos administrados pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), apresentaram, juntos, um déficit de mais de R$ 14 milhões no ano passado. As três praças, Gramado (ERS-235), Três Coroas (ERS-115) e São Francisco de Paula (ERS-235), arrecadaram um total de R$ 42.167,058,24 em 2019, entretanto a empresa apresenta um gasto que ultrapassa R$ 56 milhões com operação e manutenção das rodovias da região. Os dados estão disponíveis no site da EGR.
A praça localizada na ERS-115, em Três Coroas, é a que mais arrecada e, consequentemente, a que mais gasta. Os dados apresentados pela EGR mostram arrecadação de R$ 20,5 milhões e um gasto de R$ 25 milhões, causando um prejuízo de R$ 4,6 milhões somente na praça. A EGR divide os gastos em três categorias: ‘operação e rodovias’, ‘impostos e tributos’ e ‘demais gastos’.
Com operação e rodovias, item que engloba valores gastos com manutenção, obras, pinturas de sinalização, podas, serviços de guincho e primeiros socorros e custos operacionais, a praça Três Coroas gastou R$ 22 milhões. Com impostos e tributos, foram gastos R$ 967 mil. Os demais gastos, que englobam despesas administrativas, custas judiciais e ressarcimentos a usuários, fechou em um custo de R$ 2 milhões. Veja os números exatos na tabela.
PRAÇAS DA 235 – A ERS-235 tem 78 quilômetros de extensão e dois pedágios. Estes pedágios ficam 26 quilômetros de distância um do outro e cortam Gramado e Canela com cobranças nos dois sentidos. O preço é único: R$ 7,90. O mais caro para veículos de passeio, que tem valores muito menores em outras praças, como Campo Bom, que cobra R$ 3,25 por veículo de passeio.
As duas praças também apresentaram prejuízo na tabela de valores da EGR. A praça de Gramado arrecadou R$ 14 milhões e gastou R$ 17,9 milhões. Um prejuízo de R$ 3,8 milhões. A praça alega ter gasto R$ 15,8 milhões em operação e com a rodovia; R$ 677 mil com impostos e R$ 1,4 milhões em demais gastos.
O pedágio de São Francisco de Paula é o que menos arrecadou: R$ 7,5 milhões. Porém, o gasto nesta praça foi 77% maior que a arrecadação, atingindo a casa dos R$ 13,3 milhões gastos e um déficit de quase R$ 6 milhões no ano. Somente o gasto com operação e rodovia foi de R$ 11,9 milhões. Impostos foram R$ 350 mil e R$ 1 milhão na categoria ‘demais gastos’.
PREJUÍZO EM TODO ESTADO – Apenas quatro praças, das 14 administradas pela EGR no Estado, terminaram o ano ‘positivo’. Venâncio Aires (R$ 10,7 milhões), Candelária (R$ 295 mil), Cruzeiro do Sul (R$ 5,7 milhões) e Portão (R$ 9,2 milhões), encerraram 2019 com mais arrecadação que gasto. As 14 praças somadas arrecadaram R$ 264.127.406,87 e gastaram R$ 286.315.558,22. O saldo negativo apresentado pela EGR em seu site é de R$ 22.188.151,35.
Prefeitos da região avaliam desempenho da empresa
Os prefeitos de Canela, Gramado, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula foram procurados pela reportagem do Jornal Integração para avaliar se, nas suas avaliações, os serviços prestados pela empresa atingem a expectativa regional.
Em Nova Petrópolis, a Prefeitura namora com a empresa. Mesmo ainda esperando a duplicação de um trecho da ERS-235 que vai do Parque Aldeia do Imigrante até a entrada do bairro Vale Verde, a Prefeitura elogiou a EGR. “Em primeiro momento estamos satisfeitos. Fomos agraciados com a rótula de acesso ao bairro Pousada da Neve, uma obra de R$ 3,5 milhões que estava sendo esperada há muitos anos. Era uma demanda muito importante que tivemos a satisfação de ter essa obra concluída agora”, avalia o vice-prefeito Charles Paetzinger, que assumiu a Prefeitura nas férias do prefeito Regis Hahn. Sobre as obras que a cidade espera, Charles diz que “acreditamos que teremos êxitos nessas demandas. Temos um bom relacionamento com o presidente [da EGR], Urbano Schmitt”, avalia.
São Francisco de Paula também avaliou o desempenho da empresa nos três anos da gestão de Marcos Aguzolli. “Salientamos significativas melhoras tanto na sinalização como no trecho que contorna São Chico e também de Taquara em direção a cidade”, disse o prefeito. Ele também avaliou bem a parceria com os bombeiros e a condição da ERS-235, mas trouxe ressalvas:
“Precisamos avançar, melhorando a sinalização, e efetivamente iniciar obras que já tiveram a sua ordem de início como, por exemplo, o entroncamento da ERS-020 com a Av. Júlio de Castilhos”.O termo foi assinado, mas a obra não começou. “E também, não menos importante, melhorias no trecho da ERS-020, compreendendo Taquara a São Chico e seu contorno. Essa rodovia precisa ter melhores condições para o tráfego de visitantes, turistas e moradores, pois é um importante acesso para toda a região da Serra Gaúcha”, disse Marcos.
“Nós vamos mandar a conta pra EGR”
O prefeito de Canela, Constantino Orsolin, não está “plenamente satisfeito”, nas palavras do próprio administrador. Ele disse que a Prefeitura precisou fazer diversas roçadas ao longo de 2019 em locais que são de responsabilidade da EGR. “As roçadas, principalmente no final do ano, a Prefeitura precisou executá-lasvárias vezes. Nós vamos mandar a conta pra EGR, evidentemente”, disse o prefeito. Constantino falou ainda que espera obras importantes para Canela, como a duplicação até o Saiqui (ERS-235), desvio para caminhões no Centro e a rótula em frente a Corsan. “Não foi feito nada”, disse ele. “Eu acredito muito nas pessoas, dificilmente perco a fé. Mas tá na hora da EGR se dar conta que Canela existe”, disse o prefeito ao lembrar que é o município com maior população na região. “Precisamos que a EGR colabore com a gente, ainda tenho esperança”, finaliza.
BOA EM TERMOS GERAIS – Para o prefeito de Gramado, João Alfredo Bertolucci, a atuação da EGR no município é definida da seguinte forma: “É boa em termos gerais, sobretudo após os insistentes apelos da administração em relação às vias públicas sob sua competência. Acho importante a empresa socializar suas ações, dedicando-se mais aos bairros e ao interior do município".
EGR foi procurada
A reportagem do Jornal Integração procurou a Empresa Gaúcha de Rodovias ainda na semana passada, quando encaminhou alguns questionamentos especialmente para esclarecer a planilha de gastos da empresa. Foi solicitado um relatório de obras realizadas nas duas rodovias (ERS-115 e ERS-235), o custo de operação de cada uma das três praças e uma avaliação do saldo negativo de 2019.
Os questionamentos foram encaminhados em 15 de janeiro e o recebimento destas demandas por parte da assessoria foi confirmado via telefone. Até o fechamento desta edição, ontem à noite, a empresa não havia respondido. Ressaltamos que se a empresa se manifestar nos próximos dias, o assunto será retomado e publicaremos a posição da EGR na próxima edição.
Foto: Gian Wagner/JIH