Fernando Gusen
REGIÃO – Embora as Secretarias de Turismo de Nova Petrópolis, São Francisco de Paula e Picada Café vejam com bons olhos a inclusão de Caxias do Sul na Região das Hortênsias, a Secretaria de Turismo de Gramado e as principais entidades e lideranças da região repudiam com veemência essa alteração. Canela não se manifestou.
No entendimento de Nova Petrópolis e Picada Café, a inclusão é agregadora. São Chico defende um trabalho com foco na marca ‘Serra Gaúcha’. Já Gramado discorda pelas diferenças econômicas de Caxias com a Região das Hortênsias.
A reportagem do Integração buscou saber o que pensam as principais entidades de representação regional como a Visão – Agência de Desenvolvimento da Região das Hortênsias, o Convention&Visitors Bureau Região das Hortênsias e o Sindicato Patronal da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (Sindtur).
PEDRO ANDREIS – O presidente da Visão é enfático ao dizer que “qualquer ação que faremos enquanto Região das Hortênsias, Caxias não fará parte”. Andreis explica que há dois meses, quando iniciou-se a tramitação para essa mudança, a Visão fez contato com outras entidades da região e a Prefeitura de Gramado para expor seu posicionamento contrário.
“E muitas entidades da região, como a Acice a Câmara em Caxias, são contra, o Estado também foi contra, a Justiça foi contra. E quando achávamos que tudo estava ok, fomos surpreendidos por essa decisão do Ministério do Turismo”, observou Andreis.
Ele também contou que a Visão está articulando uma reunião com secretários de turismo e lideranças do trade de toda a região para tratar deste assunto. “Nós achamos que Caxias não deve entrar para a Região das Hortênsias. Nós trabalhamos a região há décadas e sempre vendemos a região como um dos destinos mais seguros do Brasil e os índices de criminalidade de Caxias são muito altos. Caxias não tem nada a ver com a nossa região, isso só vai trazer prejuízos para nós”, ponderou.
MAURO SALLES – O presidente do Sindtur também reforça as diferenças econômicas. “Desde o início dessa conversa nós já nos posicionamos contra por entender que Caxias é completamente diferente, inclusive o perfil turístico deles é muito diferente do nosso. Caxias é uma cidade grande com muitos problemas, especialmente no quesito segurança, nós vendemos a Região das Hortênsias como destino seguro e Caxias distorce isso completamente”, sublinha Salles.
Ele explica que até nos acordos coletivos entre os sindicatos patronal e trabalhista existem distinções. “Nós temos acordos específicos para os trabalhadores aqui na região e lá tem outro perfil, haverá um conflito de interesses nos acordos regionais, tem coisa que lá pode e aqui não, e vice e versa”, complementa.
Salles também exalta a falta de diálogo para viabilizar essa inclusão. “Não houve respeito, nem sequer um convite para debatermos esse assunto. Ser uma cidade próxima não quer dizer nada, é preciso levar em conta uma série de fatores que foram ignorados. Essa decisão é algo que veio de cima para baixo e ainda não entendemos o motivo. Como vamos trabalhar para a região ter sucesso se nem ao menos sabemos o que se quer com isso?”, indagou o presidente do Sintur.
Por fim, Salles enfatizou que sua entidade atuará para retirar Caxias da Região das Hortênsias. “Nós não vamos trabalhar para desenvolver políticas de desenvolvimento em conjunto, procuramos dezenas de entidades da região, inclusive lá da região da Uva e do Vinho, e não achamos nenhuma voz favorável (…) vamos lutar para reverter isso”, confirmou.
EDUARDO ZORZANELLO –Como representante do Convention, Zorzanello frisa que o assunto veio ao conhecimento das entidades por meio do secretário de Turismo de Gramado, que buscou um posicionamento das instituições. “Quando este assunto veio à baila há uns dois meses, já chegou com uma certa decisão dos secretários de turismo das cidades da região. Não era uma obrigação, mas era pertinente que esse assunto fosse mais discutido nas bases. Percebemos que as entidades de Caxias também não foram ouvidas. Faltou uma conversa interna”, ressaltou o presidente do Convention.
Zorzanello também busca entender os motivos que culminaram na mudança. “Antes de nos manifestarmos é preciso entender o contexto. Pelo que se aponta, temos limites geográficos e também o aeroporto, mas no nosso entendimento o DNA de Caxias é industrial. E mesmo no turismo o perfil deles é mais aquela região da uva e do vinho. Caxias está certa em fortalecer o turismo, mas antes de mudar de região turística era preciso planejar melhor. Quando se envolve algo tão grande é necessário bastante diálogo”, comentou.
O que Caxias do Sul tem para agregar em termos turísticos?
Na gastronomia, o turista que visita Caxias encontra numerosas cantinas, tratorias, galeterias, churrascarias, pizzarias, com o melhor das culinárias italiana, gaúcha e internacional. A Festa da Uva, realizada de dois em dois anos, é o maior evento turístico da cidade.
Os principais pontos turísticos são o Monumento Nacional ao Imigrante; a Igreja São Pelegrino com obras do pintor Aldo Locatelli embelezando todo seu interior; a Casa de Pedra, que reproduz com fidelidade o modo de vida dos primeiros imigrantes italianos; o roteiro Caminho das Colônias; os diversos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e os Pavilhões da Festa Nacional da Uva, com réplica de Caxias do Sul de 1875.
O turismo na área rural contempla cinco roteiros: Caminhos da Colônia, Rota dos Tropeiros, Estrada do Imigrante, Criúva e Vale Trentino. A movimentação turística que procura Caxias é direcionada às feiras nacionais e internacionais, congressos e eventos de caráter industrial, comercial e de serviços. O futebol, por meio do Juventude e do Caxias, também reflete na movimentação turística da cidade.
DADOS GERAIS DE CAXIAS – De origem italiana e com mais de um século de história, é a segunda maior do estado com cerca de 511 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE para 2019. O culto ao trabalho e a vocação empreendedora trazida pelos imigrantes deu origem a uma indústria de transformação diversificada, que atualmente abriga o segundo maior polo metalmecânico do Brasil.
Conforme perfil socioeconômico elaborado pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), a cidade apresenta grande diversificação de segmentos econômicos. Diversas indústrias figuram entre as maiores do país em seus campos de atuação como Agrale, Randon e Marcopolo. Em relação à representatividade econômica, os três grandes segmentos são Indústria (53,40%), Serviços (29,60%) e Comércio (17%). Já em número de empresas estabelecidas na cidade, destacam-se os segmentos de Serviço (45%), Comércio (31%), Indústria de Transformação (17%) e Construção Civil (6%).
A Prefeitura de Caxias tem previsão orçamentária de R$ 1,9 bilhão para este ano. O orçamento municipal de Gramado para este ano é R$ 248 milhões e em Canela a previsão é para R$ 180 milhões.
Fotos: Gabriel Lain e André Susin/ Folha de Caxias