GUSTAVO BAUER
CANELA – Retrato da crise da saúde no país, o desequilíbrio nas finanças do Hospital de Caridade de Canela (HCC), ocasionado especialmente pelo atraso nos repasses estaduais, motivou a intervenção municipal. O prefeito Constantino Orsolin (MDB) assinou, na manhã de terça-feira (23), um decreto declarando situação de calamidade pública na instituição. O documento previu a destituição da diretoria e do conselho deliberativo, que faziam a gestão do local, e nomeou o atual secretário de Saúde, Vilmar da Silva Santos, como interventor.
O decreto tem validade por seis meses, podendo ser prorrogado por igual período, em caso de perdurar a situação de calamidade pública. Foram pelo menos 16 itens apontados pela prefeitura que motivaram a decisão da intervenção. “Foi a última saída para resolver o problema do hospital, para que o Município possa salvá-lo. Esse é o nosso maior interesse, queremos manter ele de portas abertas”, justificou o prefeito.
Em suas considerações, a administração municipal destacou a preocupação com a continuidade dos serviços de urgência e emergência, bem como as cirurgias de emergência e eletivas. Salienta também que o HCC é o único estabelecimento de saúde em Canela que atende a população e vem passando por sérios problemas financeiros e administrativos desde 2014 – situação que vem se agravando ano após ano, conforme os próprios resultados financeiros que apresenta.
A intervenção possibilita que o interventor tenha plenos poderes de direção e administração da entidade, podendo, inclusive, abrir e movimentar contas bancárias, convocar os associados da entidade requisitada para Assembleias Extraordinárias, bem como nomear diretores técnicos e clínicos, profissionais da área médica, técnica e administrativa do hospital, bem como contratar pessoas jurídicas para auxiliar nos trabalhos de intervenção, diagnóstico e recuperação da instituição.
Como interventor, Vilmar Santos também estará autorizado a contratar consultoria especializada em gestão de sistemas de saúde e hospitais para implantação de um novo modelo de gestão, assim como serviços de contabilidade e assessoria jurídica. O atual secretário não receberá remuneração especial pelo acúmulo de função como interventor. Nos primeiros dias de intervenção, o Município está realizando um diagnóstico da situação do hospital. Em breve uma coletiva de imprensa deve ser realizada para falar sobre o tema.
“A recuperação passa por uma injeção de recursos para sanear pendências históricas”, afirma ex-diretor
Desde 2017 atuando voluntariamente como diretor-presidente do HCC, Antônio Saldanha deixou a instituição ainda na terça-feira, após reunião em que a Prefeitura anunciou a intervenção. Em comunicado divulgado à imprensa, a antiga direção reconheceu a importância de um reequilíbrio financeiro, o que pode ser possível através da intervenção municipal.
O Governo do Estado está devendo cerca de R$ 850 mil ao hospital, fato que inviabilizou o caixa da entidade. “Dada a crise generalizada por que passam as instituições de saúde no país e agravada sem precedentes pela inadimplência e o descaso do Governo do Estado, que prejudica a gestão do fluxo de caixa, faz-se necessário realmente uma tomada de posição por parte dos executivos municipais”, admite a antiga direção.
Diante da defasagem de repasses na esfera estadual e federal, o Município se torna necessário para reequilibrar as finanças. “A recuperação da instituição passa por uma injeção de recursos para sanear pendências históricas e principalmente para dar equilíbrio nas despesas atuais, o que não se consegue em curto espaço de tempo, com orçamentos como o federal que não é reajustado desde o ano de 2010”, acrescenta.
Após pontuar uma série de ações realizadas durante sua gestão, a direção avaliou de forma positiva o período, mesmo com as inúmeras dificuldades pelo caminho, e agradeceu às pessoas que contribuíram com o projeto. “No momento em que deixamos a instituição, temos a certeza de ter cumprido com os objetivos a que nos propomos, mas infelizmente a deterioração do setor da saúde é algo só imaginável, ou mensurado, por quem vivencia em um processo de gestão. Quem fica na trincheira, só cobrando soluções, pega o lado mais fácil”, destaca.
“Mas temos a certeza de ter contribuído, todos nós voluntários que nos propomos a sair da zona de conforto e agir, não deixando somente para o setor público ou ficando reclamando nas esquinas ou nos gabinetes dos políticos. Fizemos a nossa parte. Agradecemos a uma maioria silenciosa que se dedicou direta ou indiretamente para que idéias se transformem em realidade”, conclui o comunicado.