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O cotidiano e os desafios do Centro Social Padre Franco

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Leonardo Santos

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CANELA – No coração do bairro Santa Marta pulsa uma força que há décadas transforma vidas. O Centro Social Padre Franco não é apenas um prédio com atividades; é um elo entre famílias, ponto de acolhimento, crescimento e cidadania. Desde agosto do ano passado, sob a presidência de Silvana Pätzinger — mais conhecida pela comunidade como Kuka — o espaço tem passado por uma intensa revitalização em sua missão, com ampliação de atividades, modernização e principalmente com a reafirmação de seu compromisso social.

Nesta entrevista ao Jornal Integração, na manhã desta terça-feira (5), Kuka abriu as portas — literalmente — do Centro Social Padre Franco para contar como a estrutura funciona, quem faz parte, o que falta, os sonhos que saíram do papel e aqueles que ainda tiram seu sono.

Cidadania vestida de solidariedade

Na véspera da entrevista, Kuka e uma equipe de voluntárias estavam organizando mais uma edição do “Brick Solidário”, que ocorrerá hoje, quarta-feira (6), um bazar com roupas, calçados e até itens de decoração doados pela comunidade. A renda arrecadada ajuda a cobrir custos diários da instituição, como alimentação e manutenção predial. O formato é acessível: três peças por R$ 10, independentemente do tipo — pode ser um casacão de lã, uma coberta, um par de tênis.

“O Brick complementa nossa renda e promove a cidadania. A gente acredita que é importante dar às pessoas o direito de escolha, mesmo que o valor seja simbólico. É uma forma de empoderar, de incluir”, explicou Kuka.

Além da importância econômica, a presidente destaca o valor afetivo do evento. “As crianças, outro dia, viram as voluntárias trabalhando e perguntaram o que estava acontecendo. Disse que era uma ‘fábrica de vovós’. Elas entraram na sala e abraçaram aquelas senhoras como se fossem suas avós. Muitas talvez nem tenham esse convívio. É um gesto que nos lembra por que estamos aqui”, confidenciou.

Turno inverso que transforma

O Centro Social Padre Franco é uma ONG que atua no contraturno escolar. A instituição não é vinculada a nenhuma escola nem setor público diretamente, embora receba apoios pontuais da Prefeitura de Canela, vereadores, emendas parlamentares e doações espontâneas de bairros como Laje de Pedra e Reserva da Serra.

“A gente oferece reforço escolar, atividades culturais e esportivas, e alimentação — café, almoço e lanche. Atualmente temos 14 atividades fixas, com destaque para jiu-jitsu, capoeira, teatro, dança, percussão, culinária, violão, informática e robótica”, explicou.

A última novidade é motivo de grande orgulho: uma estrutura completa de robótica, com impressoras 3D e 21 computadores prontos para aulas práticas. O projeto é uma parceria com a ONG Cidades Invisíveis, de Florianópolis (SC), por meio da iniciativa “Integra Perifa”.

“É um sonho que se tornou realidade. Já formamos três turmas em informática e começamos a quarta. A meta é chegar a 150 pessoas formadas até o fim do ano. E agora temos esse projeto inédito de robótica, que é referência na Serra”, afirma Kuka.

Crianças e adolescentes

Atualmente, 137 crianças e adolescentes participam das atividades, mas o número está em crescimento. Elas vêm majoritariamente de bairros vizinhos, mas há alunos até do bairro São Luís. O único critério: conseguir chegar até a ONG.

As atividades são distribuídas em dois turnos. Quem estuda pela manhã, frequenta o Centro Social à tarde, e vice-versa. Todos tomam café e almoçam ali. “A gente faz questão que as crianças tenham essas duas refeições completas. Sabemos que muitos pais trabalham o dia todo e não conseguem garantir essa alimentação”, conta Kuka.

Além do conteúdo das oficinas, o foco é na formação cidadã. “Eles se servem sozinhos, aprendem a respeitar o espaço e o próximo. Trabalhamos com autonomia, com empoderamento. Tudo aqui é educativo, até o almoço.”

Os bastidores

A equipe fixa do Centro conta com 20 profissionais, incluindo oficineiros (alguns atuando como MEI), cozinheiras, serviços gerais e administração. Há também voluntários flutuantes — cerca de cinco atualmente. Um dos projetos em andamento é uma oficina de maquiagem que deve culminar em uma formatura em breve.

“Estamos sempre abertos a novas propostas. Se alguém chega com uma ideia e a gente vê que cabe na nossa grade, e que há público para ela, a gente adapta. Tudo aqui é feito com muito diálogo e abertura”, explica Kuka.

Alimentação: o desafio de todos os dias

Manter alimentação para mais de 130 crianças é uma das tarefas mais desafiadoras. E os números explicam: são cerca de 150 litros de leite por semana — além de café, achocolatado, frutas, pães, bolos e outros alimentos.

Recentemente, o Centro firmou uma parceria com o programa Mesa Brasil, do Sistema S, que permitiu o recebimento semanal de alimentos doados por redes como a Unidasul (Rissu). “É uma ajuda enorme. Também temos recebido apoio do Orbis, do Colégio Marista, entre outros”, conta Kuka.

Mesmo assim, a necessidade é contínua. “Qualquer litro de leite, qualquer pacote de café faz diferença. As pessoas às vezes pensam que é pouco, mas não é.”

A infraestrutura

Além dos desafios do dia a dia, o Centro Social Padre Franco enfrenta problemas estruturais. Um dos principais gargalos é a rede elétrica, que precisa ser totalmente refeita.

“No mês passado queimamos três CPU’s por conta de quedas de luz. Isso nos tirou quase R$ 500 de um orçamento que já é apertado. É uma prioridade urgente”, alerta a presidente.

Outro ponto destacado é a quadra de esportes. Construída com recursos do Criança Esperança, ela ainda não é totalmente fechada. Uma emenda parlamentar obtida pela vereadora Graziela Hoffmann (PDT), via deputado Pompeo de Mattos do mesmo partido, permitirá finalmente concluir o fechamento da quadra e a construção de vestiários. “A quadra é usada pela comunidade nos fins de semana, por grupos de futebol e atividades diversas. É um espaço do bairro, e queremos que continue sendo.”

O aprendizado

Com quase 30 anos de trajetória no trabalho social, Kuka se emociona ao falar do que aprendeu com as crianças, com as famílias e com os colegas. Para ela, o maior ensinamento é ouvir.

“Muita gente quer ajudar impondo o que acha que o outro precisa. Mas só quem vive a realidade sabe do que realmente precisa. Às vezes é algo simples, um olhar, um lanche. É preciso ter escuta e sensibilidade”, diz.

Ela também valoriza a função que o Centro cumpre para os pais e mães. “Dar segurança para essas famílias é essencial. Saber que os filhos estão bem cuidados permite que eles trabalhem com mais tranquilidade. É um elo de confiança que se constrói.”

Convite à comunidade

Kuka encerra com um convite claro: que a cidade conheça o Centro Social Padre Franco. “Muita gente não imagina a estrutura que temos aqui. As portas estão abertas. Quem quiser visitar, doar, ajudar de alguma forma, será muito bem-vindo.”

Ela destaca que doações não precisam ser grandiosas. “Um litro de leite, uma peça de roupa, uma hora do seu tempo… Tudo ajuda. Nosso sonho é coletivo. E é assim que seguimos fazendo a diferença.”

A entrevista completa pode ser conferida no Facebook do Jornal Integração na aba vídeos ou clicando neste link https://www.facebook.com/jornalintegracaohortensias/videos/742305275209804

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