REGIÃO – A alta temporada de verão, especialmente nos períodos de Natal e Ano Novo, é historicamente sinônimo de preocupação para boa parte dos moradoresde Canela e Gramado. As comunidades de abrangência da grande Várzea Grande, além dos bairros Moura, Piratini e Carazal, entre outros locais, são as que mais sofrem com o desabastecimento de água potável nestes períodos. A programação natalina e as festas de fim de ano atraem milhares de turistas para a região, a rede hoteleira lota sua ocupação e o sistema de abastecimento acaba não dando conta.
Neste verão, passado o Natal e o Ano Novo, percebeu-se que o índice de reclamações reduziu significativamente. Alguns momentos pontuais de falta de água foram registrados, mas nada comparado com a quantidade de problemas registrados no ano anterior. A Corsan deu conta do abastecimento, por quê? Por causa da pandemia ou das medidas emergenciais realizadas?
Esta e outras perguntas foram respondidas pelo gestor da Unidade de Saneamento Especial das Hortênsias da Corsan, Lutero Cassol, durante entrevista ao programa Manhã com Informação na sexta-feira (29).A entrevista pode ser ouvida lá no site do Jornal Integração (www.leiafacil.com.br) ou na página do JI no Facebook.
Lutero explicou que as melhorias no abastecimento são reflexo, principalmente, dos investimentos e medidas emergenciais que foram colocadas em prática durante o ano. Entre essas obras está o novo reservatório com capacidade para três milhões de litros de água que está em uso desde o início do ano passado. Esse reservatório foi construído em aço vitrificado junto a Estação de Tratamento de Água (ETA II), no Distrito Industrial em Canela. O equipamento é idêntico ao existente na subida para a Aldeia do Papai Noel em Gramado.
“Esse foi um pulmão importante para atender as duas demandas, tanto Canela quanto Gramado”, disse Lutero. Outro ponto positivo foi o sistema de bombeamento instalado no bairro Carniel, em Gramado, chamado de Booster Florybal. “Esse sistema está em operação desde a metade de dezembro e otimizou o abastecimento porque ele pega água desse reservatório que fizemos ali na ETA II e leva para Gramado com mais força dando celeridade no enchimento dos reservatórios”, explicou.
Ainda no leque de medidas emergenciais, Cassol destacou a importância da qualificação do sistema operacional. “Isso é extremamente importante. Não adianta nós produzirmos água tratada e não segurarmos essa água para o consumo, ou seja, perde-la em vazamentos. Instalamos Válvulas Redutoras de Pressão (VRPs) que reduzem as pressões onde há excesso, especialmente nas pontas das redes, nos locais mais distantes, onde avança para o interior. Quebramos essa pressão e isso fez com que parasse de romper aquelas tubulações que rompiam quase que diariamente e, com isso,o sistema operacional ficou mais eficiente. Também atacamos muito os vazamentos invisíveis com equipes fazendo pesquisas de madrugada, que é quando tem mais silêncio na rua e mais pressão na rede para poder ouvir e identificar esses vazamentos ocultos”, ponderou.
Perfuração de três poços artesianos ajudam abastecimento
Lutero Cassol enfatizou que a perfuração de três poços artesianos com água potável também teve reflexo direto na capacidade de abastecimento. Um dos poços está no bairro Piratini e tem capacidade de fornecer 50 mil litros de água por hora. No bairro Dutra, foi aberto um poço com vazão de 100 mil litros de água por hora. E no bairro Mouraum poço que abastece 35 mil litros por hora. Ali no Moura também foi construída uma base elevada para um novo reservatório de 100 mil litros para armazenar água do poço.
O funcionamento destes três poços influencia diretamente no abastecimento na região da Várzea Grande, pois essa quantidade de água fica no sistema central e consequentemente permite mais vazão paraa Várzea.
A região da Várzea também está sendo beneficiada com o aumento da capacidade de reservação de água na rua Miguel Tissot. Ali existe um reservatório com capacidade de 100 mil litros em aço carbono que dará lugar a outros quatro reservatórios de inox de 100 mil litros cada. Os novos reservatórios estão sendo instalados e irão quadriplicar a capacidade.
DOIS POÇOS NA VÁRZEA–O gestor da Unidade Especial da Corsan ainda revelou que foram perfurados dois poços artesianos na região da Várzea, um jorrou água potável e outro água imprópria para o consumo. “Um desses poços, com 45 mil litros, deu água potável. Ainda não estamos usufruindo dele por ser em área privada que precisa superar um trâmite legal para ser utilizado. O outro poço veio com água imprópria, então tivemos que concretar ele e abandonar”, sublinhou.
Lutero estima que para o próximo verão, será possível contar com esse poço perfurado na Várzea e mais dois que serão perfurados na Serra Grande até metade do ano. Hoje, o sistema de abastecimento da Serra Grande não é o mesmo da Várzea. Ao longo do ano, os dois sistemas serão interligados para dar mais autonomia no abastecimento de toda essa região.
CONSUMO SEMELHANTE – Com relação ao consumo de água, se comparar dezembro de 2019 com dezembro de 2020, houve uma redução de apenas 5%. “Ou seja, a quantidade de água consumida nos dois Natais foi praticamente a mesma. Por causa da pandemia, vieram menos turistas, mas a pandemia impôs uma outra condição, a população local ficou em casa e ficando em casa consumiu mais água. Apesar de todo o contexto da pandemia, o consumo de 2019 para 2020 é semelhante, houve uma redução de menos de 5%. Isso significa que se não fossem os investimentos realizados nessas ações emergenciais novamente haveriam problemas, talvez não na mesma proporção”, frisou.
Estação de Tratamento ampliada e nova adutora para Gramado
A lista de obras estruturais da Corsan prevê feitos significativos que sairão do papel nos próximos anos. Uma das etapas está concentrada na unidade de captação de água bruta no Poço da Faca no rio Santa Cruz/Caí. Os motores e as bombas serão substituídos para aumentar o potencial de bombeamento e levar mais água para a ETA II. Essa obra já está sendo licitada.
Junto com isso, também será dado seguimento à duplicação da adutora que abastece a ETA II. A tubulação de aço que será instalada já está estocada em Canela. “Hoje temos duas tubulações que trazem água do Poço da Faca (uma para cada estação de tratamento). A substituição dos motores exige uma tubulação maior, então vamos dobrar a vazão para a ETA II (criando uma terceira tubulação). Hoje, tratamos 300 litros de água por segundo na ETA II e vamos passar a tratar 600 litros por segundo com a duplicação da adutora que já está em andamento”, contou.
Um trecho da duplicação já está concluído, ela tem 4,5 quilômetros de extensão do Poço da Faca até o Rincão do Coelho (próximo ao pedágio). Falta escavar e instalar 6,2 km de tubulação, do Rincão do Coelho até a ETA II. A Corsan estima concluir esse trabalho até o final de 2021.
Outro projeto que será executado é a duplicação da ETA II. “Vamos dobrar a captação de água bruta no Poço da Faca e para tratar essa maior quantidade de água, precisamos duplicar a estação de tratamento. Ela já foi feita para isso, para ser espelhada e ter sua capacidade dobrada, então faremos isso”, antecipou Lutero. O prazo para finalizar o espelhamento da ETA é 2024.
Com essas etapas concluídas, as obras se concentrarão em ampliar a capacidade de abastecimento de Gramado. Será implantada uma nova adutora de água potável para Gramado (500mm). Ela partirá da ETAII e irá até o ExpoGramado, onde será instalado um reservatório com capacidade para dois milhões de litros de água. O percurso dessa adutora será contornando a área central. “Ela sai da ETA II, passa pela empresa Trombini (Rio Jordão), contorna a Vila Suzana, avança pelo bairro Carniel, entra na Avenida Central e segue pela estrada da Santinha chegando ao ExpoGramado. Após, será interligado o sistema de reservação doExpoGramado até oCarazal onde haverá outro reservatório de dois milhões de litros de água”, complementou.
A Corsan planeja investir cerca de R$ 240 milhões em Canela e Gramado. Em todas as obras emergenciais e estruturais citadas nesta entrevista pelo gestor da Unidade Hortênsias, o investimento será de cerca de R$ 90 milhões, ficando cerca de R$ 150 para serem investidos em redes e estações de tratamento de esgoto para as duas cidades. Durante a entrevista, Lutero exaltou o trabalho da equipe de profissionais da Corsan, que está com quadro reduzido em virtude da pandemia. “Eles tiveram um comprometimento ainda maior para atender a demanda”, finalizou.
Texto: Fernando Gusen – [email protected]
