Pedro Henrique Bertolucci tem na memória ricos detalhes da evolução de Gramado ao longo dos anos. Foi vereador e prefeito e, além de testemunhar as mudanças, foi protagonista na história evolutiva da cidade e região. Pedro Bala, como é conhecido no cenário político, nasceu em Francisco de Paula, na região do Salto, e mudou-se para Gramado em 1958, quando tinha 13 anos. Aqui se formou em técnico em contabilidade e administração e, ainda jovem, com 23 anos, se elegeu vereador para a legislatura de 1969-1972, e se reelegeu para o mandato seguinte (1973-1976). Neste período, atuou como presidente da Câmara de Vereadores durante quatro anos, de 1971 a 1974.
Como prefeito, esteve no cargo durante 16 anos (quatro mandatos) e deixou legados importantíssimos para Gramado, especialmente quando o assunto é o turismo. O primeiro governo foi de 1983-1988, depois entre 1993-1996. Em 1998, disputou uma cadeira na Câmara dos Deputados Federais e ficou como segundo suplente com 39.153 votos. Em 2000 disputou novamente a Prefeitura de Gramado e se elegeu ficando como prefeito por mais dois mandatos 2001-2008. Foi neste período que conseguiu implantar marcas mais profundas na gestão municipal.
Hoje, Pedro Bala se dedica a gerir o Parque Olivas de Gramado com a família e quando abre o baú das lembranças discorre sobre tudo que vivenciou na cidade com político e cidadão. Desde os tempos de escola demonstrava habilidade para liderar, tanto que entrou cedo para o meio político. Como prefeito, recorda os desafios que precisava enfrentar quando assumiu nas duas primeiras ocasiões.
“Não tínhamos quase nada, primeiro mandato tivemos que fazer uma estruturação e criamos uma estrutura mais empresarial para dentro da Prefeitura, levando para outro patamar. Depois em 93, conseguimos implantar mais uma reforma, deixando a Prefeitura ainda mais empresarial”, relembra.
Além das questões administrativas frente ao poder público, Bertolucci sempre teve consigo um plano que despertar Gramado para o turismo. “A cidade precisava se consolidar como destino turístico. E foi esse o trabalho que a gente implantou a partir da gestão que se iniciou em 2001, profissionalizamos o Natal Luz, o Festival de Cinema, as estruturas todas dos eventos foram melhoradas e a própria promoção do destino ficou mais arrojada”, conta.
“Ali foi a disparada da nossa Gramado enquanto cidade turística. Uma coisa importante que criamos, e que eu acho que esse foi o maior legado que se deixou, foi a mentalização de uma comunidade, conscientizamos a sociedade que precisava sair de uma dependência do setor calçadista, por exemplo, e que precisava tomar um novo caminho”, sublinha, lembrando que nos tempos de Ortopé, e outras empresas expressivas no cenário calçadista, o setor representava 73% da economia gramadense.
“Ali no início dos anos 2000, já tínhamos uma estrutura melhor, uma boa imagem, e um produto de primeira linha que era Gramado, uma cidade bem arrumada. E aí veio essa transformação que impulsionou a cidade para o turismo”, acrescenta.
Considerando que quando as famílias recebem visitas é na sala de casa que elas são recebidas, Pedro trabalhou para transformar Gramado em uma sala de visitas para receber os turistas. Entre as transformações mais expressivas estão a revitalização da Borges de Medeiros, os banheiros públicos na praça e a própria praça Major Nicoletti que foi repaginada. “Com as mudanças implantamos uma concepção diferente, acho que a obra mais importante foi a mudança da concepção do gramadense, que abriu os olhos para o turismo e levou Gramado a ser o que é hoje. Esse é o nosso maior legado, a transformação”, afirma.
“Se pegar uma foto de qualquer época, percebe-se que a estrutura urbana de Gramado foi totalmente transformada, houve um tempo que a praça da Igreja (São Pedro) era um estacionamento com britas”, exemplifica.
NA PREFEITURA – A guinada para o setor turístico refletiu diretamente na máquina pública. Em 2001, quando Pedro assumiu seu terceiro mandato, o orçamento municipal era R$ 17 milhões (neste ano está em R$ 461 milhões). “Estrutura que Nestor herdou quando se tornou prefeito, e que também ajudou a fazer, começou a ser construída naquela gestão. A arrecadação própria do município era 20% em 2001, e largamos com 60% em 2008, tudo graças as reformas que foram feitas, azeitamos a máquina administrativa, ficou mais enxuta, mais qualificada”, cita.
A profissionalização do serviço público também é uma marca. O ex-prefeito cita os exemplos buscados com empresas de fora, a realização de palestras e cursos de qualificação para os servidores, a padronização dos funcionários, uniformes, entre outros pontos. “Uma coisa que sempre tive sorte foi com as pessoas que trabalharam comigo, os secretários não tinham horário. Sempre pegaram junto. E a profissionalização do quadro de servidores também fez toda a diferença. É mais difícil administrar o sucesso do que o fracasso”, ensina.
Num bato papo de algumas horas com a reportagem do Integração, Bertolucci também foi questionado sobre sua relação com o ex-prefeito e adversário político, Nelson Dinnebier. “Nunca tive nenhum atrito com o Dinnebier, e nunca deixei de termina uma obra que ele tivesse iniciado, a única coisa que fiz foi mudar a rodoviária de lugar”, comenta.
Bertolucci considera que ainda tem coisas para serem feitas por Gramado. Hoje existe uma carência habitacional com característica popular e sugere a criação de núcleos habitacionais envolvendo a iniciativa privada.