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InícioExclusivo Assinantes“A pior situação que já presenciei como médico”

“A pior situação que já presenciei como médico”

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Especialista em medicina intensiva e neurocirugião no HASM de Gramado, Fabiano Rossetti Ruoso, falou deste período de tensão que já é vivenciado a um ano. Além de presenciar colegas e enfermeiros doentes com a Covid-19, ele sentiu a crueldade do vírus. O médico conta que passou por um período de internação longa “bastante grave” entre julho e agosto de 2020, retornando a UTI logo em seguida, enquanto ainda fazia reabilitação física e pulmonar. Além disso, ele conta da nova mutação P1 e alerta que o coronavírus está afetando também as pessoas mais jovens.

Jornal Integração: Como está para você e equipe médica, principalmente na parte psicológica e a tensão em estar na linha de frente, neste período de pandemia e principalmente nas últimas semanas com o número crescente de casos?

Fabiano Rossetti Ruoso: Já estamos com um ano de apreensão, angústias, muito estudo da doença, aprendizado constante no manejo da Covid-19 grave, planejamento e adaptações aos diferentes momentos da pandemia. Pessoalmente, presenciei muitos colegas e enfermeiros doentes nesse período. Eu passei por um período de internação longa por Covid bastante grave entre julho e agosto de 2020, e retornei a UTI logo em seguida enquanto ainda fazia reabilitação física e pulmonar. A sociedade local parecia que já conseguia funcionar melhor e conviver com a rotina da pandemia. Aparentemente ocorreu alguma mutação no vírus no inicio do ano que o que conferiu uma vantagem biológica para essas cepas. A genotipagem realizada localizou uma mutação P1. Desde o inicio de fevereiro, o ritmo de hospitalizações ficou muito acentuado, e por consequência o de casos graves também. A faixa etária agora não é só de vulneráveis. Casos graves em adultos e até mesmo mais jovens sem comorbidades viraram uma rotina nas UTI’s do estado.

Esses casos são mais “recuperáveis”, mas demandam um trabalho técnico complexo de UTI para que se consiga reverter esses casos mais graves nos jovens e manter mais baixa a letalidade da doença e a mortalidade na UTI em níveis controlados como foi durante o ano de 2020. Como o fluxo de chegada de doentes segue muito alto, além das outras ondas que enfrentamos, o estresse do sistema é notável. Todo o time está com carga de trabalho acentuada, sem descanso algum, cada um doando-se um pouco mais, saindo mais tarde, chegando mais cedo, atendendo muito mais gente.

Em Gramado precisamos dobrar os leitos de UTI, ocupar espaços do hospital até então não Covid, entrando num modo catástrofe que estava planejado apenas para uma situação extremamente crítica. Isso garantiu, até o momento, atendimento digno a todos os doentes graves, porém, o sistema não tem capacidade infinita de expansão e os casos seguem chegando em ritmo acelerado. Sem dúvidas a pior situação, que já presenciei como médico, na vida toda.

JI: Os profissionais da Saúde estão ajudando a cuidar das pessoas que buscam atendimento, mas em casa tem seus familiares. Como é também esta parte de sair de casa e voltar com o temor de estar infectado?

Fabiano: Eu passei por isso em meados de maio a julho de 2020, confesso que me atormentava muito. Chegava em casa sempre com medo de infectar minha esposa e filha ou mesmo minhas secretárias ou pacientes. Os cuidados eram enormes. Quando tive um problema no trabalho durante o manejo de um caso específico, identifiquei que provavelmente estaria infectado e tratei de me isolar imediatamente, mesmo com sintomas mínimos. Depois que me recuperei bem, sigo monitorando a imunidade por exames e tomando os mesmos cuidados no manejo desses doentes de UTI. Essa nova “versão” [do vírus] não conhecemos tão bem a capacidade de ela escapar da imunidade humoral ou celular prévia e re-infectar. Precisamos também entender melhor um pouco o comportamento da doença agora em relação as vacinas que já recebemos em janeiro.

JI: Além do coronavírus, tem outras doenças que os médicos também necessitam cuidar dos pacientes. Com estas demandas você teme que ocorra um colapso de faltar leitos para tratar não somente para quem tem Covid-19, mas outras comorbidades?

Fabiano: Aparentemente a demanda por outras doenças diminuiu bastante, mas seguem ocorrendo simultaneamente, como infartos, Acidente Vascular Cerebral (AVC’s), doenças oncológicas, entre outras. Claro que o estresse e sobrecarga do sistema afeta todos. Procedimentos eletivos suspensos por tempo longo. O sistema todo trabalha praticamente em modo “Covid” nesses últimos dias e creio que por umas quatro semanas ainda.

JI: E os pacientes quando chegam para a internação, a tensão por parte deles neste momento é maior que em outros períodos?

Fabiano: Eu acho que as pessoas estão observando que podem ficar doentes, e diferentemente do ano passado onde a estrutura suportava normalmente, agora temem não conseguirem ser atendidas facilmente. Como é uma doença respiratória, e eu passei por isso, a sensação de impotência física e fraqueza respiratória é desesperadora na Covid. É importante garantir conforto e suporte a todos os doentes sempre.

JI: Gostaria que deixasse uma mensagem para a população de ter a consciência dos cuidados necessários para evitar a proliferação do vírus.

Fabiano: Estamos enfrentando uma forma poderosa de Covid, com alto grau de contaminação, e ao que parece, não há mais predileção por grupos etários. Nas próximas semanas é importante se proteger e ter a consciência de tentar não transmitir mais essa doença. Sintomas, mesmo que mínimos, requerem um auto-isolamento imediato. Manter o distanciamento, evitar reuniões em locais fechados, mesmo dentro de casa entre familiares. Higiene das mãos e buscar orientação médica precoce aos primeiros sintomas. Serão mais algumas semanas assim até poder iniciar uma normalização. Como toda a pandemia de vírus respiratório, em algum momento ela irá se esgotar, a população criará anticorpos (seja naturalmente ou por vacinação em massa) e os casos irão reduzir e o sistema de saúde irá normalizar. Mas agora o momento é de extrema cautela por todos, autopreservação e proteção dos demais.

Texto: Tiago Manique – [email protected]

Foto: Arquivo Pessoal

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