Voluntários montaram kits de alimentos no Centro Social Padre Franco para distribuição para as famílias necessitadas
Fernando Gusen
Gian Wagner
Leonardo Santos
REGIÃO –O possível colapso do sistema de saúde (SUS) caso a pandemia de coronavírus saia do controle é uma das maiores preocupações de todo o país. Além do impacto na saúde, outro setor chama a atenção e preocupa pela forma que foi atingido: o setor econômico. Desde o final de março, a região registrou um número expressivo de demissões. O Governo Federal adotou medidas para evitar desligamentos e algumas conseguiram surtir um efeito positivo.
Somente no comércio, Gramado e Canela têm cerca de mil pessoas demitidas, conforme o Sindicato dos Comerciários. Além das demissões já efetuadas, foram cerca de 600 pedidos de suspensão de contratos de trabalhos e mais 400 acordos de redução de jornada de trabalhos e de salários. “Aperspectivaque volte ao normal será de no mínimo uns oito meses após o controle da pandemia. Muito pouco vai mudar o cenário do comércio se os parques e hotéis não reabrirem. Principalmente o comércio que tem suas vendas voltadas mais aos turistas”, avalia o presidente do Sindicato, ClérioSander.
Outro setor muito impactado é o hoteleiro. Rodrigo Callais, presidente do Sindihoteleiros de Gramado, conta que foram mais de 700 demissões que passaram pelo Sindicato, entre hotelaria e gastronomia, e que esse número ainda está abaixo do número real de desligamentos. “Somente em abril começaram as demissões mesmo e que passaram pelo sindicato foram cerca de 700. Contratos com menos de seis meses não passam pelo sindicato, o que torna esse número de demissões ainda maior”, explica.
Além disso, foram mais de mil contratos suspensos. “A MP (Medida Provisória) veio muito tarde e trouxe muita insegurança jurídica. Afastou o sindicato das negociações. Tardou-se mais a aplicação da MP, que tem como objetivo evitar as demissões”, avalia.
Para o futuro, Callais acredita que a retomada ocorra no segundo semestre com os eventos de viés turístico. “Precisamos disso (retomada) e gradualmente ir aumentando o fluxo de turistas, que com isso as pessoas voltam naturalmente aos seus postos de trabalho”, avalia. “Nosso setor foi um dos primeiros a ser atingidoe, provavelmente, o último a se recuperar como um todo. Nosso inimigo é o vírus. Precisamos garantir todos com saúde e depois retomar as atividades econômicas. Como sindicato, tentar evitar que novas demissões ocorram e tentar minimizar os impactos negativos das negociações para os trabalhadores”, avalia.
Hotelaria canelense já contabiliza mil acordos
Foram realizados cerca de mil acordos na hotelaria canelense, conforme o sindicato da categoria. Enedir Barreto, presidente da entidade, conta que “a primeira sugestão aos empresariais foi que dessem férias coletivas, e ao mesmo tempo (por ainda não haver nenhuma posição do governo) firmamos acordo coletivo junto ao sindicato patronal, onde flexibilizava contratos de trabalho”, explica.
Com a publicação das MPs, o sindicato começou com os acordos individuais. “Foram aproximadamente mil acordos individuais esão essas medidas que estão evitando demissões em massa”, avalia. “A preocupação é grande, pois não temos uma previsão de quanto a pandemia irá durar. Sabemos ainda que as pequenas empresas não aguentarão por muito tempo, mas como sindicato faremos tudo o que for possível pensando principalmente na preservação da vida, do emprego e também das nossas empresas”, acrescenta.
“Não tá fácil pra ninguém”
A frase é do presidente do SindTur, Mauro Salles, e resume todo o cenário econômico. O sindicato tenta desde o início da pandemia auxiliar os empresários, que também estão com dificuldades e, junto com os sindicatos laborais, tem feito acordos coletivos antes mesmo das medidas provisórias. “Essas medidas têm ajudado a dar um alívio de caixa”, avalia Salles.
“As empresas estão começando a retornar. Conseguimos também postergar impostos e uma parceria com o Senac para cursos e com a Sicredi para linhas de créditos”, conta o presidente.
Para o retorno, o SindTur tem negociado o retorno gradual para o início de maio. Outro ponto a ser trabalhado é o retorno da hotelaria “com muito cuidado, um retorno seguro”, explica Salles. “Precisamos de condições para o turismo voltar. O retorno não deve ser total”.
A previsão é que o feriado de Corpus Christi, junto ao Dia dos Namorados, possa marcar o início do movimento na região. “Nosso turista será o povo gaúcho e catarinense, pela proximidade geográfica. Estamos trabalhando para atrair o turista mais próximo”.
E os trabalhadores, afinal, como ficam?
Sindicatos e governo tentam encontrar soluções de modo geral para a crise que assola o País. Mas há também muitas pessoas que foram demitidas ou impedidas de trabalhar e estão enfrentando dificuldades para pagar suas contas mais simples, como tarifas de luz, água e até mesmo comprar comida. A reportagem do JI conversou com algumas pessoas que perderam seus empregos e elas contaram como estão vivendo após a crise que afetou o mundo inteiro.
BOLSA FAMÍLIA E EMPREGO INFORMAL
Nicole dos Reis é faxineira e é uma destas pessoas que não pode trabalhar devido a pandemia. Por faxina, a mulher de 24 anos conta que ganhava R$ 50, o que mantinha a família bem. Ela vive com seus dois filhos, marido, sogra e cunhada no bairro Santa Marta em uma casa com três quartos, onde todo mundo tem lugar. A sogra de Nicole, Janira Duarte, de 40 anos passou a morar com ela há um mês, trazendo consigo a filha, pois devido à falta de pagamento do aluguel teve que entregar a casa que estava morando no Salto.
Com dinheiro faltando e a família em casa sem poder trabalhar, as únicas fontes de renda da faxineira são, o bolsa família e o dinheiro que o marido ganha trabalhando de duas a três vezes por semana como pedreiro, que dá o suficiente para pagar o aluguel. “Temos que juntar o dinheiro em uma semana para pagar o aluguel na outra (…) Sempre damos um jeito para conseguir algo, estamos nos virando”, conta ela sobre o ciclo que vivem.
UM SALÁRIO MÍNIMO PARA CINCO
Jenifer Haack está desempregada desde dezembro e seu marido, Éder Corrêa foi demitido em virtude da pandemia. Éder se ocupava em dois empregos para dar conta, em um hotel e como promotor de vendas, mas com o decreto de isolamento e o fechamento dos hotéis, ele foi demitido o que agravou a situação do casal que tem três filhos e espera por mais um. “Estamos vivendo da ajuda de muitas pessoas que estão nos dando alimentos. Vai entrando um pouquinho de cada um”, sublinha.
Neste momento, a família sobrevive da renda do outro emprego de Éder, que recebe em torno de R$ 1.100. A família mora no bairro São José, paga R$ 1.050 de aluguel, além de água e luz, que são pagos conforme a ajuda que recebem. “Tudo isso afeta da pior maneira possível. Jamais pensamos em viver assim, dependendo da ajuda dos outros, mas graças a Deus a gente vai levando”, completa.
VENDENDO BOLOS
A empregada doméstica Rosa Pereira conta que perdeu seu emprego no condomínio Reserva da Serra, após a família para a qual ela trabalhava decidir fazer corte de gastos devido ao recesso causado pela pandemia. Antes da crise, ela sustentava a casa e os cinco filhos sozinha, com o salário e com a pensão que recebia do ex-marido, mas após ser demitida e não receber mais a pensão, isto mudou. Por ser a única que trabalha na casa as contas de água e luz estão atrasadas e a falta de comida está batendo na porta. Uma das maiores dificuldades que a família enfrenta é a falta de ajuda. “Aqui passam distribuindo sacolão e não entregam na minha casa. Eu tenho uma casa boa, e dá a impressão que eu não preciso de ajuda, mas eu preciso (…) Se entrarem na minha casa vão ver que está me faltando comida”, sublinha.
Rosa diz que há algum tempo atrás produzia bolos e pães para vender, mas havia parado. Com tudo que está acontecendo, ela voltou a confeitar os alimentos com os ingredientes que já tinha em casa para vender sob encomenda e ter como continuar a sustentar sua casa. Para quem quiser ajudar a Rosa e comprar os produtos, entre em contato pelo fone (54) 9-9656.3436 ou entre na página Delícias da Rosa no Facebook.
KIT AUXÍLIO – O Centro Social Padre Franco e o CrasSanta Marta têm feito doação de comida às famílias necessitadas do bairro. Na quarta-feira (22), voluntários estiveram no Centro Social preparando kits de alimentos para fazerem as doações pelos arredores da vizinhança. No kit preparado contém leite, vinagre, azeite, sal, massa, farinha de trigo e de milho, açúcar, arroz, feijão e meia dúzia de ovos. A coordenadora da instituição, Tatiane Pinto destaca que a intenção é ajudar além do bairro (onde fica a instituição) conforme tenham condição. “Quando chegam as doações eu envio mensagem aos pais, indagando como está a questão dos alimentos. Recebo o retorno e dividimos as doações para que renda o máximo o que ganhamos para que possamos distribuir para mais famílias”, explica.
Ajude o Centro Social Padre Franco a auxiliar as famílias vulneráveis. Entre em contato com a instituição pelo fone (54) 9.8418-9293 ou com a coordenadora Tatiane (54) 9.8101-0301.
Empresa de calçados consegue manter colaboradores
Ao contrário do que acontece no setor calçadista gaúcho, que já demitiu mais de 4,5 mil colaboradores, a Calçados Bloompy, de Canela, consegue manter o efetivo. Atualmente a empresa conta com cerca de 100 funcionários atuando em 50% da jornada.
De acordo com Lázaro Hoffmann, a fábrica parou as atividades no dia 20 de março por conta da pandemia e retornou no dia 16 de abril. “Todosestavam com receio de perder os empregos por conta dos pedidos cancelados e dos lojistas que, com as lojas fechadas, também não estavam pagando. Mas, graças a Deus, conseguimos retomar a nossa atividade seguindo todas as recomendações do Ministério da Saúde”, descreve.
Preocupado com as frequentes notícias de demissões, Lázaro comenta que no momento o clima entre os funcionários está otimista. “Uma de nossas colaboradoras se prontificou e elaborou máscaras para todos os colegas, elaboramos novo layout de trabalho para conseguir manter o distanciamento necessário, e o clima agora, dentro da empresa, está positivo”, destaca.
Fotos: Leonardo Santos/JIH, Arquivo Pessoal e Bloompy/Divulgação