ENTREVISTA PUBLICADA NO JI EM 20.08.20
Quem é ela?
Wanda Terezinha Fagundes Werlang
Rotariana e idealizadora do Chá da Solidariedade
Como se define?
Uma pessoa de princípios éticos mais rígidos. Que estudou muito, é bem determinada e sempre esteve a frente de projetos que beneficiam a sociedade onde vive.
RELATO PESSOAL:
Wanda é natural de Caxias do Sul. Nasceu em 08 de fevereiro de 1932. Morou nas cidades de Esteio,Três Coroas, Taquara e desde 2007 reside em Gramado. Formada em letras com pós-graduação em Literatura Brasileira e Gaúcha. Wanda também cursou Direito e chegou a advogar por um período. Porém ser professora foi a sua principal profissão, sendo que desde criança já sonhava em desempenhar a atividade. Em Três Coroas Wanda chegou a lecionar durante vinte anos, e mais dez em outros municípios, totalizando trinta anos como educadora. Aposentada a aproximadamente trinta anos, Wanda dedica grande parte de seu tempo às ações do Rotary Club de Gramado,sendo ela a coordenadora do Chá da Solidariedade, um dos maiores eventos beneficentes da região, que ocorre todos os anos na Recreio Gramadense.
Wanda é casada com Ary João Werlang e eles têm 4 filhos:
Paulo Iran, Stella Maris, Luís Augusto e Marcelo.
12 netos: Paula Cecília, Juliana, Roberta, Cássio, Priscila, Aline, Caio, Felipe Iran, Ana Luísa, Luise, Augusto, Lucca.
E 4 bisnetos: Arthur, com 13 anos ,Vinicius, de 3, Allegra, que mora na Austrália, 1 ano e 8 meses e Júlia, com 1 ano .
Seu sonho de menina e o que marcou sua infância
Quando eu era criança meus pais tinham farmácia. Eram donos da primeira farmácia que teve em Esteio. Mas, no entanto o meu sonho era ser professora. Sempre gostei de repassar aquilo que eu aprendia para os outros. E o que mais marcou minha infância foram os encontros com minhas amiguinhas em minha casa. Eram crianças da vizinhança e algumas mais novas que eu, que tinha sete pra oito anos. E sempre que elas vinham lá em casa eu queria brincar de escolinha, sendo eu a professora. Hoje acredito que foi ali que começou a despertar em mim o interesse pela liderança. E meus pais, percebendo este desejo em mim, compraram umas cadeirinhas e um quadro negro e instalaram num canto do quintal para que eu pudesse dar as minhas aulinhas. Aí quando chegavam as crianças, eu vistoriava um por um, se as mãozinhas estavam sujas eu lavava. E depois eles sentavam nas cadeirinhas e eu ia ensinando a eles tudo o que eu havia aprendido na escola, números, letrinhas e mandava fazerem desenhos. Também os hábitos de higiene que eu havia aprendido ia ensinando a eles, como escovar os dentinhos por exemplo.Esse pra mim foi um período bem agradável!
Lembro também das brincadeiras da minha época, que eram lindas. Brincávamos de cabra-cega, ovo podre, ciranda, tudo ao ar livre, e também fazíamos casinha, fogãozinho de tijolos e então minha mãe nos dava um pouquinho de tudo, arroz, carne e outros alimentos e nós cozinhávamos de verdade e comíamos nossas comidinhas, era tudo muito bom! Hoje em dia é bem diferente, ah eu acho muito triste, as crianças se afastam das pessoas, vivem só em computadores, não conversam mais…acho triste também que muitos pais vivem no celular e os filhos ficam esquecidos!
RELATO GERAL:
Quando e como você descobriu que tinha vocação pra liderar?
A primeira ocasião em que senti que tinha vocação para ser uma líder, foi quanto assumi como diretora de uma escola em Esteio. Ali eu tinha que liderar o corpo docente e administrar a escola, então senti que precisava fazer o melhor que eu pudesse. Precisava ser exigente no que se referia ao ensino e ao mesmo tempo manter um contato amigável com os professores. Antes disso, eu havia lecionado já a um bom tempo em Três Coroas. Na época, meus pais haviam fechado a farmácia em Esteio e meu pai que era político, foi convidado a assumir o cargo de sub-prefeito da cidade. E como o colégio de lá estava fechado por falta de professores eu e uma amiga minha fizemos um curso pedagógico e abrimos a escola, onde lecionamos cinco anos, ali foi muito legal, dávamos inclusive aulas de dança e coreografia. Mas a sensação de liderança eu realmente senti quando fui diretora.
Quais foram os seus maiores desafios ao assumir a função de líder?
O meu maior desafio foi quando meu marido foi nomeado governador do Rotary, no distrito 4670 no período 1995/1996. Como participávamos de todas as convenções rotárias eu fique sabendo do Programa de Prevenção ao Abuso de Drogas, que estava sendo desenvolvido no Paraná, onde tínhamos amigos no mesmo ano de governadoria. Me interessei pelo assunto porque a gente se preocupava muito com o uso de drogas em nossa cidade e então fui em busca de orientações, para aplicar no município deTaquara, onde morávamos . O programa era patrocinado pela Universidade Santa Úrsula, do Rio de Janeiro, lá tinha os professores e psicólogos que iam nas localidades para dar palestra sobre o assunto. Em contato com o doutor Amadeu Cruz, que era o psicólogo principal da Universidade ele me deu muitas dicas. Aí nas nossas visitas aos clubes, como sempre o governador fala nas reuniões, o Ari abria um espaço para que eu falasse sobre o programa. Porém eu era muito tímida, mas com a ajuda de uma psicóloga consegui me soltar mais para falar em publico. Então eu falava sobre o projeto e incentivava os presidentes dos clubes a procurar pela administração de seu município para que fosse implantado o programa naquele lugar. Com isso, implantei a idéia em todos os clubes do distrito aí fui nomeada Coordenadora do Programa de Prevenção ao Abuso de Drogas no Estado.
E a partir dali, comecei a ser chamada pelos municípios para implantar o programa, aí eu convidava o Dr. Amadeu ou uma professora da Universidade que era especialista no assunto e íamos até lá para conversar com o pessoal da Secretaria de Educação afim de formar o grupo que iria atuar no projeto. E o trabalho sempre era feito com os pais e professores, nunca com os alunos. Começávamos dando palestras e orientando os pais a observar o comportamento de seus filhos, e aos professores alertar no sentido de que os alunos entendessem que a droga não é algo saudável, porque não adianta dizer que a droga é ruim, para eles é boa no momento que usam, mas faz muito estrago!
Assim implantamos o programa em 20 cidades e o primeiro núcleo foi fundado em Taquara, onde tínhamos um forte grupo do qual eu fazia parte e coordenava juntamente com minha grande colaboradora Linei Dreher.
Depois, com o passar do tempo, fui me sentindo cansada, por ter que viajar muito e aí foi nomeada uma colega para dar prosseguimento ao trabalho. Mas este com certeza foi pra mim um grande desafio.
E aí quando mudamos para Gramado vim com novas idéias, pois sempre que participava de programações de outros clubes eu observava o que eles faziam que pudéssemos aproveitar.
E entre outros projetos como feirinhas, chá da xícara, veio a idéia de implantar o Chá da Solidariedade que era realizado em Taquara pelo Lions Club. Em Gramado na época, o Rotary desenvolvia projetos lindos, mas sentíamos falta de algo mais popular. Por isso pensei em fazer um projeto assim em Gramado e o Rotary apoiou.
Então mostrei a proposta para uma grande amiga, a Irma Peccin, e ela que era uma pessoa bem conhecida na cidade, me ajudou muito, me apresentando várias pessoas da sociedade gramadense. Íamos de casa em casa convidando as mulheres para serem patronesses, fizemos um trabalho de formiguinha. E assim, no dia 25 de agosto de 2011 realizamos o primeiro chá com 27 patronesses! E já o primeiro chá foi maravilhoso, um sucesso, com mesas muito bem decoradas! A gente nem sabia se íamos fazer mais de um, mas gostaram tanto que pediram para repetirmos no ano seguinte, aí ficou mais fácil. Pedimos para cada uma delas indicar uma nova patronesse como sucessora para fazer a edição seguinte e o evento foi crescendo. Isso também ajudou o Rotary a ser mais divulgado e conhecido na cidade.
Como se sentiu ao assumir tamanha responsabilidade?
No início foi bastante trabalhoso, a responsabilidade foi grande porque tinham poucas mulheres no Rotary, tivemos uma época em que éramos apenas quatro mulheres, hoje isso se inverteu, existem mais mulheres que homens, risos.
Então no inicio praticamente tudo era comigo e a Irma. Mas no quinto ano a Irma faleceu aí passei a contar somente com auxilio das demais rotarianas, mas todas trabalhavam, não tinham muita disponibilidade de tempo. Nos primeiros anos sempre que ]iniciávamos os preparativos eu ficava muito preocupada, nervosa, vivia pendurada no telefone, porque não tinha o whatsapp, mas agora tem e isso facilitou bastante os contatos. E agente sempre busca trazer muita alegria e entusiasmo no decorrer da organização de cada evento. Sempre fui de me dedicar muito ao Rotary. Tenho 87 anos, mas minha cabeça é bem mais jovem. Participei de todas as edições do Chá da Solidariedade que sempre fizemos no mês de agosto e numa quinta-feira e todos os anos a renda é destinada à Liga Feminina de Combate ao Câncer.
Este foi mais um desafio que encarei, mas me sinto plenamente realizada porque que tem sido muito gratificante!
Suas maiores conquistas:
Uma das minhas grandes conquistas foi poder fazer o trabalho dePrevenção ao Abuso de Drogas durante nossa governadoria. Sendo que a Universidade Santa Úrsula gostou tanto do trabalho que convidou a mim e a meu marido, a passarmos uma semana numa fazenda no Rio, onde fizemos um curso bem aperfeiçoado e recebemos o diploma de conclusão do Curso de Prevenção ao Abuso de Drogas. Foi quando fui nomeada Coordenadora do Programa no Distrito e no município de Taquara. E, devido a esse trabalho a Câmara de Vereadores me concedeu o título Cidadã Taquarense.
Outra conquista foi implantar o Chá da Solidariedade em Gramado e poder consolidar o evento . Porem este ano, trabalhei pouco, fiz uma cirurgia em fevereiro e fiquei um período fora. Mas quando chegou a época de iniciar os preparativos minhas companheiras deram conta. A Eliana Wazlawick que é muito determinada tomou a frente e praticamente assumiu a coordenação.
E por fim, uma conquista muito importante na minha vida foi que mesmo sendo casada, criando os filhos, eu consegui concluir meus cursos universitários.