ENTREVISTA PUBLICADA NO JI EM 12.12.2019
Quem é ela?
Rosane Assunção Cordova
Sócia-proprietária da empresa SOS Segurança
Como se define?
Uma pessoa feliz e que acredita na vida.
RELATO PESSOAL:
Rosane é natural de Cruz Alta – RS. Nasceu em 26 de março de 1965. É filha de Ana Maria Assunção e Vilson Flores Assunção e tem três irmãos: Eduardo, Andrea e Cristine.
Sua trajetória escolar iniciou na Escola Antônio Seppe, de Cruz Alta, onde cursou o ensino fundamental, o ensino médio e inclusive fez o curso técnico em Química. Mudando-se para Canela aos 32 anos, devido à transferência de seu marido que atuava na Brigada Militar, Rosane que estava habilitada a lecionar começou a exercer o Magistério, iniciando na Escola João Corrêa e depois na Danton Corrêa da Silva, onde foi professora por 11 anos. No entanto, paralelamente ao desempenho da função, voltou a estudar, cursando licenciatura em Química pela Ulbra. Após esse período deixou a área da educação para trabalhar com a empresa SOS Segurança, que é de propriedade sua e de seu marido.
Rosane mora em Gramado, é casada com Rodinei Cordova e eles têm dois filhos: Suelen de 37 anos e Eduardo com 22.
Qual o seu sonho de menina e o que marcou sua infância?
Quando eu era menina o meu sonho principal era ser pediatra. Eu gostava de brincar de médica com as bonecas e com meus irmãos mais novos. Porém, fui crescendo e a vida tomou outro rumo. Marcaram muito a minha infância as brincadeiras saudáveis da época, como brincar na rua, andar de bicicleta e tomar banho de chuva. Também lembro de uma situação marcante e complicada que vivi junto aos meus amiguinhos e irmãos, numa ocasião em que meus pais não estavam em casa e nós estávamos brincando na garagem, quando minha irmã de sete anos puxou um pedaço de tábua, que caiu contra ela e acabou furando um de seus olhos porque havia um prego na madeira. Eu estava com 12 anos, sendo a mais velha entre os irmãos, e fiquei apavorada, minha irmãzinha chorava e eu acabei tendo que puxar com a mão o prego que estava no olho dela. Eu estava sem saber o que fazer, e uma coisa que me faz rir até hoje foi que logo em seguida tive a idéia de pedir pra um de meus irmãos tapar o outro olho da pequena enquanto eu ficava fazendo testes pra ver se ela estaria enxergando com o olho atingido e percebemos que ela não estava enxergando bem, mas não estávamos entendendo porque aparecia apenas uma manchinha. E no momento não parecia grave, mas depois começou a sangrar. Entramos em pânico e chamamos minha mãe que veio e levou minha irmã para o hospital. Ela teve uns problemas, mas depois recuperou totalmente a visão.
Outro fato que marcou minha infância foi acompanhar a trajetória da minha mãe. Porque ela, assim como eu, foi mãe aos 16 anos. A mesma diferença de idade entre minha mãe e eu, é a diferença entre eu e a minha filha. Sempre admirei a coragem de minha mãe, pois ao engravidar ela teve que parar de estudar e em meio a grandes dificuldades ainda conseguiu retomar a vida e ainda com os filhos pequenos voltou a estudar, lembro que eu tinha sete anos quando ela reiniciou lá no ensino fundamental, fez o ensino médio e a faculdade e foi professora. Porém ainda trabalhando, antes de se aposentar, ela faleceu. Mas minha mãe foi muito guerreira, foi meu exemplo, me ensinando que nós mulheres precisamos ser corajosas.
RELATO PROFISSIONAL:
Quando e como você descobriu que tinha vocação para liderar?
Antes de atuar na área da educação eu fui bancária, ali peguei o gosto pela administração financeira. Depois, exercer a função de professora me fez fortalecer e despertar essa liderança, mas eu não percebia isso. Como eu lecionava para o ensino médio eu tinha muitas turmas, e quando decidi deixar de ser professora para ingressar no ramo empresarial eu estava ministrando para cerca de 800 alunos. Ao assumir a empresa, eu naturalmente consegui colocar em prática tudo o que eu havia aprendido com o Magistério, fazendo planejamento, motivando as pessoas…
Porém, ali eu senti fluir em mim o espírito de liderança, e lembro que eu já carregava isso comigo, pois desde os meus primeiros anos de escola sempre fui uma ‘liderzinha’, era eu quem determinava os grupos e apresentava os trabalhos.
Como foi o início de sua atuação na empresa?
Fundamos a empresa em 2002. Iniciamos pela necessidade de aumentar a renda familiar devido a sermos, os dois, funcionarmos públicos, eu professora e meu marido policial militar. Foi quando um amigo de meu marido, que tinha uma empresa de segurança, convidou ele pra ser sócio. Então ele entrou na sociedade e eu me encaixei automaticamente, já fazendo parte da equipe ao ser contratados eventos como feiras de roupas, onde eram necessários em torno de cinco seguranças, então íamos eu, meu marido e mais três pessoas. E segui por um tempo fazendo parte da equipe de seguranças e também fazíamos a limpeza do local após o evento, comecei pegando no pesado mesmo! Hoje eu acompanho nossa equipe nos eventos de maior porte que cobrimos como o Planeta Atlântida, ali realmente eu atuo, ajudo, usando toda a minha experiência. Mas no dia a dia eu estou mais na parte administrativa.
No caso a vigilância, iniciamos no momento em que nosso sócio decidiu sair da empresa. Aí meu marido decidiu ir de casa em casa propondo o serviço de vigia, e deu certo, começou fazer ronda à noite, de bicicleta, porém o valor cobrado era quase insignificante, se um morador só podia pagar dez reais tudo bem, outro pagava vinte e assim por diante, mas todos podiam contar com o serviço da mesma forma. Nunca esqueço que na hora que íamos fazer a cobrança, éramos recebidos com respeito e carinho pelas pessoas. Depois conseguimos comprar uma moto, fortalecemos a parte da vigilância como ronda e fomos crescendo na área de eventos, sempre eu e meu marido à frente de tudo, sendo os personagens principais na história. Aí fomos felizes em conhecer diversas pessoas que somaram para o nosso crescimento. Um dos amigos foi o Pepeu Gonçalves, que trabalhava na Secretaria de Turismo de Gramado na época e conseguiu nos encaminhar para a realização de trabalhos em muitos eventos. O outro foi o Afonso, proprietário da antiga Cult, em Canela, que nos contratou para fazer a segurança de todos os eventos da noite na casa. E na verdade quem nos colocou no mercado de eventos em Gramado foi o Afonso, lembro que na época ele realizou um show com a banda Reação em Cadeia na Expogramado, e colocou nossa equipe para fazer toda a segurança. A partir dali começamos a ficar conhecidos, fizemos a Festa da Colônia e fomos crescendo. Mas o up mesmo foi quando começamos a fazer o Natal Luz, iniciamos contando com o apoio do sr. Luciano Peccin, uma pessoa inspiradora, que nos inspira até hoje, que nos ensinou muito como trabalhar, uma personalidade que mantém sempre uma posição firme, aprendemos com ele que “se as coisas tem que ser assim, tem que assim. As coisas não podem ficar no meio do caminho”!
Assim, através do Natal Luz começamos a ser mais reconhecidos e fomos assumindo eventos em Porto Alegre e na região, inclusive o Planeta Atlântida. Além disso, nos expandimos para a área da segurança privada, hoje atendemos muitas empresas na região. É uma trajetória linda que foi crescendo aos poucos. Hoje estamos com 17 anos de atividades e temos 160 colaboradores com carteira assinada.
Quais foram os seus maiores desafios?
O meu primeiro maior desafio foi ser mãe aos 16 anos. Eu era uma menina inexperiente, que não trabalhava fora, só estudava e ajudava nos afazeres de casa. Mas entendo que foi algo que veio pra mim de uma forma com que conseguisse aceitar naturalmente. Foi complicado porque aconteceu uma mudança repentina na minha vida, tive que mudar meus planos… Por exemplo: meu sonho era estudar até me formar médica, inclusive eu pensava que nunca iria casar! Neste aspecto considero um desafio, porque foi ali que tudo mudou e meu foco passou a ser trabalhar e criar minha filha. Mas a impressão que ficou depois foi como se eu tivesse esquecido daquilo que eu sonhava antes. Além do mais, pude contar com o apoio de meus pais, o que transformou esta fase que poderíamos chamar de difícil, em momentos lindos, que contribuíram para o meu amadurecimento.
Outro desafio, que foi a grande virada na minha vida, foi ao conhecer o Rodinei. Na época eu estava separada há um tempo do pai da minha filha, com quem fiquei casada oito anos.
E logo que conheci o Rodinei, percebi que ele era uma pessoa parecida comigo, assim começamos a fazer planos juntos. Então casamos e sempre nos demos muito bem, temos uma convivência ótima em família.
E eu acho que o meu maior desafio mesmo foi em 2006, quando sobrevivi a um assalto em Gramado. Isto foi algo que mais me desestabilizou até hoje, inclusive fui capa do jornal. Nós já tínhamos a empresa, e tudo aconteceu num dia em que eu e meu marido estacionamos o carro próximo ao Banrisul e meu marido entrou no banco para chamar um vigilante para trabalhar. Eu fiquei no carro, quando de repente houve o assalto ao Banrisul e iniciou um tiroteio entre policiais e bandidos que durou cerca de 8 minutos. Nosso carro, que estava personalizado pela SOS Segurança, foi atingido por 17 tiros. Eu estava no lugar do carona e naquele momento tentei me abaixar o máximo e cheguei a pensar que seria meu fim, foi horrível!
Mas Deus me protegeu não permitindo que eu fosse alvejada, pois a maioria dos disparos atingiu o carro no lugar do motorista onde estaria meu marido, que estava dentro do banco.
Além de tudo, teve fatos que marcaram muito pra mim por conta deste acontecimento. Lembro com muito carinho de um senhor, que estava no andar de cima do Banco do Brasil que fica em frente e percebeu que eu estava dentro do carro, e ao finalizar o tiroteio, desceu pra me socorrer, se surpreendendo muito por eu não ter sido atingida.
Outro fato foi ao visualizar, no início do tiroteio, um homem que trajava roupa de vigilante de carro-forte, sendo ele um dos assaltantes. Isso marcou tanto que ainda hoje ao ver um carro-forte, relembro a cena e fico tensa, com medo.
O trauma foi enorme. Levei em torno de seis meses com acompanhamento psicológico pra me recuperar.
Na área profissional também foram muitos os desafios, e o principal foi o de sermos uma empresa familiar e termos que nos adequar à profissional. Crescemos muito rápido e à medida que fomos expandindo também sentia-se necessidade de evoluirmos, de nos profissionalizarmos tendo que nos desapegar de algumas coisas, o que às vezes nos dói, mas se faz necessário para melhorar a qualidade de atendimento aos nossos clientes.
Suas maiores conquistas:
Minhas primeiras grandes conquistas foi o nascimento de meus filhos: Suelen e Eduardo. Depois veio a formatura de minha filha pela Universidade Federal. Ela que se formou em Matemática, depois fez doutorado em Educação Matemática e em Coordenação de Cursos. Hoje leciona na UFRGS – polo de Tramandaí.
Outra grande realização minha foi ver o meu filho crescer e se tornar uma pessoa maravilhosa, muito querida. Tem um relacionamento muito bom com a mana e com toda a família. É responsável, dedicado no que faz, sempre lutou por seus objetivos, e hoje, está cursando a faculdade de Direito.
E a empresa também é umas das grandes realizações na minha vida. Às vezes fico pensando no passado, até pelas dificuldades que enfrentei, e hoje temos uma empresa forte e consolidada. Enfim, acho que minhas maiores conquistas foram realizações de sonhos que vieram surgindo e aos poucos juntos fomos concretizando!
Suas mensagem:
Eu, como mulher e empresária, tenho muito em comum com a luta das mulheres por um espaço no mercado de trabalho, que no meu caso, foi conquistado com muito esforço e dedicação.
Por conta dessas várias mulheres que sou e que somos, aprendemos a ser fortes, resilientes e corajosas, mas ao mesmo tempo não perdemos a gentileza, a generosidade e a solidariedade com o outro.
Meus objetivos de vida foram fontes de inspiração para traçar estratégias a fim de alcançar as metas e sonhos almejados. Acredito que a força pessoal seja indispensável para isso, sem esquecer da força coletiva que também me impulsionou – junto aos meus familiares, colaboradores, parceiros de trabalho e a sociedade gramadense que me acolheu.
Devemos entender que o lugar onde nascemos e a nossa condição social são relevantes para o nosso desenvolvimento, mas não são determinantes, pois minha experiência mostrou que persistindo e trabalhando com dignidade há possibilidades de vencermos na vida. Nós, mulheres, podemos o que quisermos!