Coluna publicada no dia 08/08.
Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados. Professor Universitário.
Enquanto o brasileiro acorda às 6h, pega o ônibus lotado e bate ponto antes do café esfriar, no Congresso Nacional a vida anda – digamos – em outro fuso horário. Um tempo próprio, elástico e suspenso!
A vida pública parece ter apertado o botão de pausa — não aquele da pausa estratégica, que permite respirar e tomar decisões melhores. Não! Trata-se daquela pausa preguiçosa de quem se deitou no sofá com o controle remoto na mão e decidiu que o país pode esperar.
Há semanas — ou meses, dependendo do grau de otimismo — pouco se vota, quase nada se delibera. Discursos inflamados, pronunciamentos indignados e apartes teatrais substituem qualquer tentativa de resolver o que realmente importa! Brasília tornou-se um palco, mas o roteiro está travado na primeira cena: o drama interminável da anistia de Bolsonaro. Enquanto isso, as comissões cochilam, os plenários esvaziam e os líderes políticos ensaiam uma indignação que, convenhamos, já parece mais cínica do que sincera.
Sim, a anistia e o fato do ex-presidente estar preso é assunto! Um ex-presidente preso sempre será! Mas seria esse o único assunto possível? Não temos uma reforma tributária capenga? Não temos a fila do INSS que só aumenta? Não temos pautas ambientais urgentes, uma economia em compasso de espera, um mundo digital pedindo regulação e milhões de brasileiros tentando sobreviver com um salário que evapora na primeira semana do mês?
Enquanto os parlamentares digladiam-se por manchetes e lives inflamadas, o povo — aquele que nunca para — segue trabalhando, produzindo e pagando impostos.
E que impostos!
É o povo quem financia esse espetáculo estéril de discursos e cafés gourmet no Salão Verde. É ele quem banca os apartamentos funcionais, os voos da Força Aérea e os R$ 45 mil de salário, fora verbas de gabinete, auxílios mil e mordomias que fariam qualquer CEO europeu se sentir proletário.
A ironia é que o político se define por fazer política, mas raramente entrega política pública!
Faz articulação, conchavo, campanha, mas não entrega creche, hospital e segurança! O político profissional não governa, não inova e não empreende. Apenas gira a engrenagem que o mantém no topo da cadeia alimentar da República. E o mais cruel: quanto menos faz, mais parece sobreviver. A paralisia não o enfraquece, o fortalece! A inércia é seu elemento!
O Brasil, este país vibrante, plural e tão injusto, parou! Parou porque sua elite política é, muitas vezes, um clube de interesses que joga para si. O país parou porque virou refém de pautas personalistas, crises fabricadas, investigações seletivas e indignações coreografadas.
Parado, o Brasil oficial! Incansável, o Brasil real!
Que ironia! E que tristeza!











