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Dívida, déficit e um café com açúcar racionado

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Coluna publicada no dia 27/06.

Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados Associados. Professor Universitário

Outro dia, na padaria, Seu João pediu dois pãezinhos, olhou para o preço e comentou: “Esse trigo só pode vir da Lua.” Dona Maria, atrás dele na fila, completou: “Com essa inflação, logo vão cobrar pelo cheiro do café.” Mal sabiam eles que estavam — sem querer — discutindo o 101º Relatório de Acompanhamento Fiscal da Instituição Fiscal Independente. Sim, o famigerado RAF da IFI. Só que nem João nem Maria sabiam disso. E nem precisam! Eles já vivem a consequência!

O tal relatório, com cara de coisa de PhD engravatado, diz que o governo vai fechar o ano com um déficit primário de R$ 83,1 bilhões. Não sabe o que é déficit primário? Não se preocupe: 98% da população também não! Mas para facilitar: é como se o governo fosse aquele tio que ganha R$ 5 mil, gasta R$ 7 mil, mas jura que está “investindo no futuro”. O problema é que esse futuro somos nós — e está chegando com cara de boleto.

Mesmo com o governo tentando segurar os gastos, contingenciando R$ 20,7 bilhões (palavra bonita para “não vamos pagar isso agora”), a conta não fecha. E o que não fecha vira dívida. E a dívida — atenção aqui — vai para a chamada “dívida pública”. Parece coisa distante, né? Mas é aí que o bicho pega: essa dívida é paga com o seu imposto! O meu! O nosso! Até aquele do pão com manteiga que a Maria compra todo dia.

O relatório ainda avisa que se tudo continuar do jeito que está, a dívida do governo vai saltar de 77,6% do PIB em 2025 para estonteantes 124,9% em 2035. E já bate os 100% em 2030, ou seja, bem antes de você pagar a última parcela do carro que comprou hoje achando que está fazendo bom negócio. A diferença é que o carro é seu. A dívida, não. Mas adivinha quem paga?

O curioso é que a maioria da população, justamente a que vai ser atropelada por essa locomotiva fiscal, não entende ou nunca ouviu falar de déficit, superávit, teto de gastos ou meta fiscal. Não é por burrice — é por sobrevivência! Quando o orçamento doméstico inclui arroz, luz, gás e um pacote de fralda que aumentou de preço sem aviso prévio, ninguém tem tempo de ler relatório do Senado.

Mas a conta vem! E vem silenciosa! Primeiro no aumento da gasolina, depois na escola do filho que encarece, no hospital que falta remédio, no imposto que sobe disfarçado de taxa “de melhoria urbana”. E, de repente, Seu João percebe que o cafezinho da padaria, aquele companheiro de todas as manhãs, agora custa R$ 7. E ele nem sabe por quê!

Então, da próxima vez que faltar o troco da padaria ou subir a passagem do ônibus, lembre-se: pode não parecer, mas você está, sim, pagando o relatório da IFI. E nem ao menos recebeu uma cópia!

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