Coluna publicada no dia 29/05.
Tá, eu confesso. Já fui um daqueles chatos de internet que ficam de dedo em riste dizendo: “bah, mas que povo idiota, só fala em neve, como se fosse milagre cair neve por aqui”. Pois é, tava errado. Erradíssimo, no caso. O bocó da história era eu.
Porque a real, gurizada, é que a tal da neve, além de ter um baita de um charme, é também um baita negócio. Pode até parecer bobagem pra quem é daqui que já viu ou acha que vai ver de novo…, mas pra quem tá longe, pro turista, pra quem sonha em ver esse fenômeno do friozão, isso é ouro branco caindo do céu.
E eu tava lá, igual criança, torcendo feito louco na última madrugada. Era pra ter dado aquela nevada daquelas, segundo o INMET, o Metsul, e tudo que é site. Tava tudo apontando pra um filme do Disney Channel ao vivo, mas… cadê a neve? Pois é. Ficou no “era pra”.
A neve e o turismo
Bah, se tivesse nevado, imagina só. Gramado e Canela bombando de gente, stories pra tudo que é lado, fila no galeto, turista enlouquecido, hotel com diária triplicada e os guris da lojinha de souvenir vendendo até casaco de lã da década passada.
A verdade é que a neve, quando dá o ar da graça, faz a roda girar. O turismo reage na hora. E turismo reagindo, a economia também. E com a economia aquecida (mesmo no frio), a gente todo se dá bem.
Então, sim, a gente tem que torcer pra que caia neve, sim senhor! Que venha em penca! Que acumule no telhado, na cerca, no para-brisa dos carros. Que trave tudo! Que nem dê pra caminhar direito nas calçadas. E que o pessoal reclame — mas tire foto mesmo assim.
Que venham
Olha, depois do que a gente passou nos últimos anos — pandemia, enchente, tragédia — o que eu mais quero ver por aqui é engarrafamento de turista, gente tropeçando nos canteiros porque tava tirando selfie, fila na pizzaria, criança chorando de frio porque queria ver floco de gelo cair na testa.
Prefiro mil vezes esse caos bonachão do inverno do que o silêncio do luto. E que a cidade se lote, sim. Que o centro fique intransitável. Que a gente tenha que esperar meia hora por um café colonial. Se isso significa que tá tudo voltando, que as coisas tão andando, que o povo tá querendo vir pra cá, que venham todos. E que venham com lã, touca e paciência.
Alfredinho

Agora me dá licença que eu vou dar uma guinada no texto. Porque a memória puxou e eu vou junto.
Quero mandar um baita abraço pro Márcio Cavalli, que vai lançar livro novo — e como sempre, aquele cara que homenageia quem merece ser lembrado. E nessas homenagens, ele sempre lembra do Alfredinho. E quem conhece, já sabe: Alfredinho era meu pai.
Essa semana o nome dele apareceu mais de uma vez. A Luciana Zanatta, o Diego Santos, e o próprio Marcio falaram dele. Sempre com aquele mesmo tom: “bah, teu pai era gente finíssima, um baita cara”.
E aí eu fico com aquele nó na garganta, sabe? Porque meu velho se foi cedo demais. Eu tinha só 9 anos quando ele partiu. Mas quando ouço esse carinho todo, essa lembrança boa que ele deixou, bate um orgulho danado. Na foto, eu, a dona Mabel (minha mãe) e o pai.
O cara que eu tento ser
Dizem por aí que eu sou a cara do velho. Que ando igual, falo igual, dou risada igual, esqueço as coisas igual (isso é verdade, viu). Até o jeito de reinar, dizem que puxei dele. E olha, se for metade disso tudo, já tô feliz.
Pra quem não conheceu, meu pai foi secretário da Fazenda no governo do Velhinho Pinto. Era concursado da Prefeitura, trabalhou por lá muitos anos. Eu mesmo queria ter conhecido mais esse lado político dele. Saber como ele era na lida, nas tretas, nos bastidores.
Mas me faltou tempo. A vida levou cedo demais. E hoje o que me resta são esses relatos, esses elogios que vêm como abraço apertado. “Teu pai era um cara do bem, de caráter”, me dizem. E cada vez que ouço isso, minha vontade de honrar a memória dele cresce mais.