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Flanelinhas, paninhos e rosas

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Coluna publicada no dia 08/09.

Olha, se tem uma coisa que eu sempre digo é que a gente não precisa ir muito longe pra enxergar certos problemas. Eles estão por aí, batendo na nossa cara todos os dias. Mas claro, sempre tem aqueles exemplos maiores, que já estão quase fora de controle, que servem como alerta do que pode acontecer se não cuidarmos a tempo. Pois bem, nesse fim de semana eu vi um vídeo do vereador Rodrigo Guedes, lá de Manaus, combatendo os famosos flanelinhas. Aquela velha história: estaciona na rua, o cara chega, exige vinte pilas pra deixar o carro em paz, e se tu não paga, corre o risco de voltar e encontrar o vidro estourado. É quase uma “taxa do medo”, e é inacreditável como isso vai crescendo até virar rotina em cidade grande.

Pois bem, eu pensei: tá, Manaus é Manaus, longe daqui, mas não é que eu vivi duas situações bem parecidas nesse final de semana, uma em Gramado e outra em Canela?. Então bora compartilhar essas histórias, porque elas mostram exatamente o fio da navalha em que a gente anda quando o assunto é a tal da ocupação irregular das ruas.

O caso de Gramado

Primeiro, Gramado. Quem diria que eu ia conseguir estacionar na Borges de Medeiros em pleno final de semana, né? Pois é, achei uma vaguinha e pensei: “Bah, hoje eu dei sorte!”. Mal fechei o carro, andei uns cinco metros e, tchum, já fui abordado. Um sujeito com uns paninhos multiuso nas mãos veio chegando com aquela conversa pronta: que era pra ajudar uma ação social, que o dinheiro iria pra uma igreja, e claro, temperando tudo com muitas menções a Deus.

Tu sabe como é, né? Eles têm uma oratória que pega a gente pelo coração. Falam de fé, de solidariedade, de ajudar o próximo, e a gente fica dividido: será que é verdade? Será que esse dinheiro vai mesmo pra uma causa social? Ou será que é só mais uma história bem contada? A pena bate, e junto vem o constrangimento de dizer “não”.

Mas aí, antes mesmo de eu conseguir raciocinar direito, apareceu o fiscal da Prefeitura de Gramado. Interrompeu a abordagem e perguntou de onde o sujeito era. Resposta: Santa Catarina. E ali já ficou claro que os fiscais estavam atentos, agindo rápido, não deixando a coisa se espalhar. E olha, palmas pra eles. Porque a verdade é que se não tiver fiscalização, essa prática vira rotina, e daqui a pouco a Borges tá cheia de gente vendendo paninho, pedindo ajuda, constrangendo turista.

O grande problema é que esse tipo de abordagem funciona justamente porque mistura emoção com pressão social. Tu não quer parecer insensível, tu não quer ser o cara que diz “não” pra alguém que fala em nome de Deus, e de repente tu já tirou a carteira do bolso. É uma armadilha emocional.

A rosa “obrigatória”

E falando em armadilha emocional, não posso deixar de lembrar de outra situação, também em Canela, de algum tempo atrás. Eu tava caminhando com a minha mulher, tranquilo, quando aparece um sujeito oferecendo rosas. “E aí, campeão, que tal dar uma rosa pra tua amada?”. Parece bonito, né? Só que não é uma oferta inocente. É quase uma venda obrigada. Porque se tu não aceita, fica com cara de “mau namorado”, parece que não quis agradar a companheira.

Esse é o ponto: a abordagem não só comove, mas também constrange. Te coloca numa posição desconfortável, em que tu tem que escolher entre gastar dinheiro ou passar por insensível. E cá entre nós: não é comércio justo, é pressão.

O caso de Canela

Agora vamos pro episódio mais recente, que aconteceu comigo nesse domingo em Canela. Quem conhece o centro sabe bem: entre a Casa dos Artesãos e a Casa de Pedra tem aquele estacionamento rotativo, zona azul, tudo certinho, pago na empresa que administra. Pois bem, chegando lá, vejo um sujeito orientando onde estacionar e, pasmem, cobrando pra “olhar” o carro.

Passei reto, sequer abri o vidro e fui estacionar em outro canto, porque na hora já pensei: “Como assim, cobrar por cima do estacionamento pago?”. Quando voltei, vi ele repetindo a mesma cena com outro casal. Pedia dez reais pra “ficar de olho” no carro. O casal respondeu que não tinha, ele virou as costas e saiu como se nada tivesse acontecido.

Olha, isso me assustou. Não era nem horário da zona azul mais, mas e se fosse? A gente já paga pra estacionar, já sustenta o sistema oficial, e aí aparece um sujeito querendo cobrar mais uma taxa paralela? Pra onde nós estamos indo se isso começar a virar comum? É o primeiro passo pra aquele cenário que eu descrevi lá de Manaus. Se deixar, vira rotina, e depois é muito mais difícil cortar pela raiz.

O perigo da normalização

É aqui que mora o problema: quando essas pequenas situações vão se repetindo, o risco é a gente começar a achar normal. O turista paga dez reais a mais e acha que “é assim mesmo”. O morador dá uns trocados pro cara do paninho e pensa “melhor não arrumar confusão”. E quando a coisa se normaliza, acabou. Já era.

Por isso que eu bato palma quando vejo a fiscalização agindo rápido nos dois municípios. Esse é o caminho. Tem que cortar na origem, não deixar se espalhar. Porque depois que toma conta, vira um problema social e de segurança. E aí, meu amigo, já era.

O lado bom

Mas nem tudo foi preocupação nesse fim de semana. Muito pelo contrário, teve também um lado bonito, que merece ser lembrado: os desfiles cívicos em Gramado e Canela. Eu fiquei vidrado, especialmente com a apresentação da Banda Marcial da Escola Neusa Mari Pacheco, a famosa CIEP. Foi um espetáculo, de encher os olhos.

Aliás, me lembrei dos meus tempos de estudante, quando o desfile era o grande clímax do ano. A gente se preparava semanas praquele momento, ensaiava, ficava ansioso. Era a oportunidade de mostrar o trabalho, de encher de orgulho os pais e familiares que estavam assistindo. Era emocionante.

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