Coluna Publicada no dia 06/05.
Pois é, de novo. Tô aqui mais uma vez batendo na mesma tecla: as abordagens no Centro de Canela. Vou me permitir ser que nem alguns destes que abordam e, incessantemente, repetir o assunto até que dê resultado. Aquela ladainha que já devia ter virado passado, mas insiste em fazer parte do nosso presente — e do nosso constrangimento coletivo.
Quem tá na rua continua sendo abordado de todos os lados como se estivesse devendo alguma coisa. E olha: se esse projeto não andar logo, vamos continuar perdendo a paciência, o turismo e a identidade.
O Projeto de Lei
O vereador Lucas Dias (PSDB), que é o autor do projeto de lei que pretende deixar mais claro o que pode e o que não pode nas abordagens, disse que quase votaram a mudança na sessão de ontem. Mas, resolveram adiar pra fazer uns ajustes, especialmente depois da audiência pública da semana passada. Justo. Melhor ajustar do que empurrar qualquer coisa.
Falas boas
Teve gente que falou com a cabeça no lugar ontem na Tribuna do Povo, principalmente sobre a sugestão. O seu Volni Pompeu Vieira, empresário ali perto Igreja. Ele não é contra o pessoal que oferece fotos ou passeios. Muito pelo contrário. Ele defende as abordagens, já que são o meio da venda, mas que deve haver o respeito ao espaço das pessoas.
A proposta dele? Cadastro obrigatório pra quem faz abordagem. Simples assim: cada profissional teria um número de identificação. Se fizer algo errado, a pessoa prejudicada pode reclamar diretamente, e o infrator é retirado do cadastro. Pronto. Resolve boa parte do problema. Ajuda quem trabalha direito e afasta os abusados.
O seu Volni também mandou uma metáfora no mínimo curiosa: disse que esses abordadores insistentes são como bebês. “Quando o bebê faz cocô, tu troca a fralda, não o bebê.” Tradução: o problema é o comportamento, e isso se resolve com capacitação, não com caça às bruxas, conforme ele.
O episódio do domingo (vergonha alheia)
Agora deixa eu contar o que vi com esses olhos que a terra há de comer. Domingo à noite, frente da igreja de Canela, quase mil pessoas no local. Um momento que podia ser mágico, bonito, turístico. Mas não. Virou um espetáculo de constrangimento por causa de UM indivíduo.
O sujeito, que oferecia fotos, resolveu tocar o terror. Xingava quem sentava no letreiro, mandava turista levantar, gritava ironicamente com quem passava — chamando de “benção” e “querido” como se fosse elogio. A galera ficava visivelmente incomodada. O cara espantou todo mundo. Parecia um fiscal do inferno cuidando de um território que ele achava que era só dele. Um mico para cidade inteira. Uma vergonha para os moradores. Um baita susto nos turistas.
Já aconteceu comigo (e provavelmente com você também)
E não pensem que isso é caso isolado. Eu mesmo já passei por isso. Estava fazendo a foto de capa de uma edição do Seleção JI, com câmera profissional na mão, só queria uns dois minutinhos de paz. Mas o que eu ganhei? Uma fila de “palpiteiros profissionais” me dizendo onde e como eu devia fotografar.
“Faz ali, não faz assim, quer ajuda?” — tudo com aquele tom que não ajuda nada. Se fosse ajuda de verdade, aceitava na hora. Mas era pressão. Era incômodo. Era um “deixa eu meter o bedelho aqui porque sim”.
E agora?
Agora é o seguinte: algo precisa ser feito — e logo. O projeto precisa sair da gaveta e virar realidade. Mas não pode ser só papel bonito. Tem que ter fiscalização, tem que ter punição exemplar. Porque o problema não são os profissionais. É a falta de limite, de respeito.
Ninguém tá dizendo que não pode trabalhar. Pode, sim. Mas com educação. Quem quer vender foto, passeio, o que for, que o faça com gentileza. Que saiba a hora de chegar e, principalmente, a hora de sair. Que entenda que o Centro é público, não é território privado.
Canela não pode virar refém de meia dúzia de figuras que acham que grito e ironia são ferramentas de marketing. Essa cidade é turística, é acolhedora, é nossa. E quem constrange, espanta. Quem espanta, atrapalha todo mundo.
Então sim, estou falando de novo desse assunto. E vou continuar falando até que se resolva. Porque o que aconteceu domingo não foi exceção. É só mais um episódio do grande show de constrangimento gratuito que se tornou andar pelo Centro de Canela.