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Cadê o Márcio, tchê?

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Não teve como passar batido. A sessão da Câmara de Canela dessa semana serviu um prato cheio pra quem gosta de acompanhar os causos da política local — e o vereador Roberto Danany (MDB) foi o cozinheiro chefe. Lá pelas tantas, ele largou:
“Tô com saudades do Márcio. Do Márcio Dias. Ele vinha seguidamente nessa tribuna falar dos índios (do comércio indígena). Que era incompetência do MDB, que nós não tirávamos porque não queríamos, que tinha lei. Eu tô com saudades, tô esperançoso que a gente possa ver o Márcio nessa tribuna.”

Foi aquele silêncio no ar, que só a boa e velha ironia política sabe criar. O Márcio em questão é Márcio Sauer Dias, hoje diretor da fiscalização do Município. Mas o Danany não tava falando do diretor engravatado, não — ele queria de volta o cidadão indignado que, lá no dia 8 de abril de 2024, ocupou a Tribuna do Povo pra esbravejar contra o comércio indígena no entorno da Igreja Matriz.

E o discurso do Márcio naquele dia foi uma verdadeira descarga de frustração com a prefeitura que, segundo ele, tinha perdido as rédeas:
“Hoje, o que me traz de volta é um assunto que começou lá em agosto de 2022, e é com um misto de um pouco de tristeza e um pouco de frustração que eu volto a trazer esse assunto, que é maçante, mas nós estamos nos deparando com uma situação pior do que encontrava em 2022. Porque, decorridos dois anos, nós não fomos capazes, não tivemos capacidade de administrar uma situação que vem denegrindo a nossa imagem perante o mundo, porque ninguém consegue tirar uma foto da Igreja de Canela sem aparecer um camelódromo do lado.”

E não parou por aí. Márcio disse que a situação não afetava só os comerciantes regulares, mas principalmente a imagem turística da cidade.
“Nós estamos vendendo uma imagem para fora de desorganização, uma imagem de incompetência e uma imagem de que estamos aceitando ameaças de um povo que vem dizendo assim, eu boto fogo na cidade se me tirarem. E nós temos lei.”

Segundo ele, houve tentativas de negociação. Mas tudo foi por água abaixo:
“Essa situação não vai se resolver, embora a gente entenda que a via negociável é a melhor via o tempo todo, mas ela vai ter que ser negociada mostrando que nós temos força e mostrando que nós estamos do lado da lei. E, infelizmente, os comerciantes irregulares não compreendem isso.”

E completou dizendo que o convênio firmado com um cacique local era ineficaz:
“Isso não vai funcionar, porque o resto dos caciques não respeitam o cacique de Canela.”
Resultado? Comércio informal se espalhou da igreja até a praça:
“Nós não temos mais só comércio irregular na igreja, agora nós temos comércio irregular na praça.”

E ali na praça, o que estão vendendo?
“A mesma coisa que eles vendem na igreja, produtos sem origem.”

E finalizou com aquele tom de desabafo premonitório:
“Eles passaram o Natal, passaram a Páscoa, passaram o inverno, passaram o outro Natal, passaram a outra Páscoa, e vão passar o próximo Natal.”

Márcio largou firme. E agora, mais de um ano depois, Danany resgatou tudo isso com saudade — ou provocação. Quem quiser que interprete.

Será que o comércio irregular vai passar mais um Natal na Igreja?

Da tribuna ao Congresso — a saga das emendas

E não foi só nisso. Antes ainda, Danany puxou pra outro assunto: a ida dele e do vereador Cabo Antônio (MDB) ao Congresso Estadual de Vereadores e Assessores promovido pela Uvergs. E garantiu que só conseguiu recurso pro hospital porque foi lá pressionar:
“Eu vou dizer, essas saídas, elas são importantes, se eu não vou lá, não pressiono ele lá junto com uma outra emenda que ele estava dando para outro município, nós não teríamos conseguido o dinheiro para o hospital.”

Segundo ele, o valor da emenda vai girar em torno de R$ 200 mil. E defendeu o custo da viagem:
“Às vezes a economicidade, ela se torna cara.”

Disse que, se fosse depender só do telefone, Canela ficava sem.
“É mais fácil para eles dizerem, nós estamos vendo por telefone, eu sei que eu posso ligar para eles, vão me atender. O ano que vem é eleição.”

Foi então que o vereador e presidente da Câmara, Felipe Caputo (PSDB), em outro momento, respondeu seco, direto, e com números. Disse que conseguiu diversas emendas — e sem gastar dinheiro público.
citou os deputados federais Lucas Redecker (PSDB) e Daniel Trzeciak (PSDB) com repasses que ultrapassam R$ 2 milhões, incluindo verba para APAE e obras em praças. E disparou que nunca utilizou dinheiro público.

“Então vamos falar…”

Danany não deixou barato. Puxou o microfone de novo, e abriu a caixa de ferramentas:
“A questão é que é um assunto que não era para ser tratado aqui, mas, já que o senhor puxou, eu vou falar, presidente.”

E começou a listar os recursos que ele também angariou, com parlamentares de todos os cantos e ideologias:
“Nós conseguimos R$ 660 mil, por aí, se eu não me engano, com o deputado Maurício Marcon, que agora vai para o PL. E a Maria do Rosário estava engatada lá para nós levar um projeto do ginásio do Saiqui, que eu conversei com o Tolão, estou falando do extrema-direita para o extrema-esquerda, para trazer.”

Falou também de Alceu Moreira:
“O vereador, vamos falar de Alceu Moreira. Fui o primeiro cabo eleitoral dele em Canela. Conseguiu 550 votos e trouxe R$ 2,5 milhões, o asfaltamento aqui da dona Carlinda, aqui na frente, Augusto Pestana, a primeira fase do Caracol, a ferradura.”

E ainda completou:
“Eu não queria esse assunto em tribuna, de boa.”

Ou seja: a troca de farpas virou medição de quem trouxe mais dinheiro, com ou sem viagem

Prefeito ausente?

Pra fechar com chave de ouro (ou com um trovão), Danany ainda reclamou do prefeito Gilberto Cezar (PSDB).
Disse que ele não o atende. Que tentou marcar um café com o prefeito e nada.
E aproveitou pra cutucar quem chamava o ex-prefeito de “ditador”:
“Eu escutava aqui: o Constantino não atende ninguém. O senhor (Felipe Caputo) falava que ele não lhe atendia. Tô tentando marcar o cafezinho com meu amigo (prefeito Gilberto Cezar). Mas, o ditador era o Constantino…”

Foi o tipo de frase que cai na sala como um copo derrubado na mesa do bar: bate forte, todo mundo escuta e vira rápido pra ver se foi aquilo que aconteceu mesmo.

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