ESTADO – A raiva é uma doença transmitida ao humano por um vírus presente na saliva e secreções do animal infectado. Caso não diagnosticada precocemente possui aproximadamente 100% de chance de levar o infectado a óbito. Existem quatro tipos de vírus da raiva, que são próprios dos cães ou dos morcegos. Os ciclos de transmissão desses vírus ocorrem por meio dos próprios morcegos; por meio de animais de interesse econômico ou de produção (bovinos, suínos, entre outros); por meio de cães e gatos; e por animais silvestres, como raposas e guaxinins.
Atualmente, o Rio Grande do Sul tem o controle da doença no ciclo urbano, mas ainda existem casos em herbívoros domésticos (bovinos e equinos) e quirópteros (morcegos). A doença não é identificada em humanos no Estado desde 1981. Também não existem registros de raiva urbana, por vírus canino, sendo que os últimos ocorreram em cão (1988) e gato (1990). Em 2001, 2013, 2014 e 2015 foram diagnosticados casos de raiva felina por variante de morcego e, em 2007, houve um registro de raiva canina também por variante de morcego.
Mesmo com os baixos índices de registros, a notificação de suspeitas é muito importante para o controle da doença. A Vigilância em Saúde de Gramado alerta para o procedimento de atendimento antirrábico, que consiste em avisar a unidade de saúde em casos de ferimento, seja por meio de cão e gato ou por contato com morcego. “Existe circulação do vírus em nível silvestre, e tu não tem como garantir que aquele cão ou gato não tenha tido contato com um morcego contaminado por exemplo. Por isso precisamos estar em alerta e ter esse cuidado com a mordida de canino e felino. Então, sempre que acontecer algum caso assim, a Vigilância deve ser procurada”, frisa a enfermeira Ellen Pedroso.
Desta forma, inicia-se um processo de observação do animal, feito em parceria com o proprietário, durante 10 dias para identificar se ele está infectado. Se o cão/gato apresentar sintomas da raiva (como agressividade ou saliva abundante) ou vier a óbito neste período, o animal é encaminhado para examepara verificar a causa da morte. Caso constatado que seja por raiva, é iniciada a profilaxia com soro e/ou vacina no humano.
Se o ferimento ocorrer na rua, por exemplo, e a pessoa não consegue identificar de quem é o animal, a Vigilância deve ser avisada. Se a pessoa souber as características desse cão/gato, pode ser feita uma busca pelas redondezas para que esse animal seja observado durante os 10 dias. Se ele não for encontrado, o tratamento começa de maneira instantânea. Importante salientar que esse contato com a Vigilância deve ser feito o mais rápido possível.
A Vigilância destaca que é necessário fazer acompanhamento antirrábico mesmo que o cão ou gato seja vacinado contra a raiva, visto que não é possível ter certeza sobre o ciclo de imunização do animal. “É importante vacinar o animal pela saúde do próprio animal, mas vacinar ele não garante proteção para o ser humano que foi mordido, essa vacina do animal não impede o atendimento antirrábico”, aponta Ellen.
Mesmo que o animal não apresente os sintomas, a Vigilância deve ser procurada. “O atendimento antirrábico é uma prevenção, então é sempre indicado que procurem o posto mais próximo”, frisa a técnica de enfermagem Renata de Ávila Parmegiani. “Não pode se apegar aos sintomas da raiva pra procurar atendimento. Procura primeiro e depois, com o monitoramento, a gente observa”, acrescenta Ellen.
Em caso de contato com animal silvestre, o tratamento em humano inicia instantaneamente. Muitas vezes, a pessoa pode acordar e se deparar com a presença de um morcego no ambiente, por exemplo. “Às vezes, a pessoa acorda com a mordida e não sente. Ela não tem como ter certeza de que não foi infectada. Nesses casos a gente parte direto pro tratamento”, comenta Renata.
Em 2017, a Vigilância em Saúde de Gramado registrou 96 atendimentos antirrábicos e, em 2018, outros 151 atendimentos. Com esse procedimento preventivo, os números podem aumentar, visando a identificação precoce. Além de garantir a saúde da pessoa, a notificação de suspeitas é necessária para o controle de casos. Como ainda existe circulação do vírus em área silvestre, os órgãos públicos precisam monitorar constantemente e estar atentos ao surgimento de possíveis casos.
Dentro dos pontos previstos pelo atendimento antirrábico estão algumas precauções que devem ser tomadas. Confira:
- Procurar sempre o serviço de saúde, no caso de agressão por mamíferos;
- Manter seu cão/gato em observação por 10 dias quando ele agredir uma pessoa;
- Vacinar anualmente seus animais contra a raiva;
- Não deixar o animal solto na rua e usar coleira/guia ao sair;
- Notificar a existência de animais errantes nas vizinhanças de seu domicílio;
- Informar o comportamento anormal de animais, sejam eles agressores ou não;
- Evite tocar em animais estranhos, feridos e doentes;
- Não perturbar animais quando estiverem comendo, bebendo ou dormindo;
- Não tentar separar animais que estejam brigando;
- Informar a existência de morcegos de qualquer espécie em horários e locais não habituais (voando durante o dia, caídos no chão);
- Não entrar em grutas ou furnas sem a devida proteção;
- Na situação de adentramento de morcegos no interior de edificações, é preciso avaliar o risco de exposição do paciente. A profilaxia humana (soro e vacina) deve ser indicada nos casos de contato com o morcego e, também, nos casos duvidosos em que não é possível descartar o contato;
- Nunca matar ou manipular diretamente o morcego. Se possível, capturá-lo, isolando-o com panos, caixas de papel ou balde, ou mantê-lo em ambiente fechado para posterior captura por pessoas capacitadas. Se possível, enviar para diagnóstico laboratorial da raiva. Entrar em contato com a Vigilância do Município para receber orientações;
- Não criar animais silvestres ou tirá-los de seu habitat natural;
- Animais suspeitos e/ou confirmados laboratorialmente para a raiva devem ser reportados à Vigilância para investigação e implementação de medidas de controle ambientais, e as pessoas envolvidas que necessitam de profilaxia antirrábica devem ser reportadas para orientações e administração de vacina e soro.













