InícioNotíciasCidadesCom apenas uma sala, Cinema enfrenta dificuldades para trazer lançamentos

Com apenas uma sala, Cinema enfrenta dificuldades para trazer lançamentos

Tempo de leitura: < 1 minuto

MARTINA BELOTTO

[email protected]

GRAMADO – A sétima arte sempre teve visibilidade na Serra Gaúcha. Com o Festival de Cinema, que já passa de 40 edições, os holofotes do ramo audiovisual são constantemente direcionados para a região. Celebridades nacionais e até mesmo internacionais participam anualmente do evento. Por outro lado, os moradores da região encontram dificuldades para assistirem aos grandes lançamentos. O Palácio dos Festivais conta, atualmente, com apenas uma sala para exibição, situação que dificulta a vinda de filmes recém lançados. Fora isso, o mercado do cinema demonstra grande concorrência entre as próprias distribuidoras, desafiando ainda mais a situação de Gramado.

Hoje, o cinema da cidade geralmente disponibiliza sessões às 20h30 nas sextas, sábados e domingos. O problema, para muitos, não chega a ser a quantidade de sessões, mas sim o atraso na chegada dos filmes. Com o lançamento de Vingadores: Ultimato, ocorrida no Brasil no dia 25 de abril, moradores precisaram ir a outras cidades para acompanharem as novidades. O cinema de Gramado deve exibir o filme a partir do dia 16 deste mês, por pelo menos duas semanas com sessões todos os dias.

Exemplo de gramadense que viajou a Caxias do Sul para assistir ao filme é o músico Gabriel de Castilhos Drecksler, de 22 anos. Há três anos, ele adquiriu o hábito de ir ao shopping para conferir os lançamentos. “Eu conheço pelo menos umas 100 pessoas que saíram no fim de semana de estreia para ir assistir em outras cidades”, comenta.

A fotógrafa Fernanda Barros Schmidt, de 22 anos, também viajou para assistir Vingadores: Ultimato. Ela conta que saiu de Gramado às 18h30 e chegou em Porto Alegre às 21h. Como a demanda era grande, os ingressos para a sessão das 21h30 já estavam esgotados. Fernanda e os amigos precisaram aguardar até a meia noite. “Foi uma baita mão. Cheguei de volta era quase seis horas da manhã”, relata.

Fernanda, que também possui canal no Youtube, encara os desafios de ir a outras cidades para estar sempre atualizada. “Sou completamente apaixonada por cinema. Procuro estar sempre atualizada nos lançamentos, participo de grupos para debater os filmes e, no meu canal do Youtube, sempre faço algumas resenhas de filmes, especialmente no período das premiações. Infelizmente nossa cidade não colabora muito para isso, né”, coloca.

De acordo com ela, a única opção para desviar dos spoilers (quando alguém revela informações importantes sobre os filmes lançados) acaba sendo procurar outros cinemas. “Raramente vemos filmes lançamento por aqui, e a qualidade da única sala de cinema não é das melhores. Como alternativa, acabo assistindo muito coisa online e, às vezes, até indo para outras cidades, quando o lançamento me interessa muito e preciso assistir logo para poder continuar navegando tranquilamente na internet, sem o medo dos terríveis spoilers”, conta.

Vinícius Correia, de 20 anos, também vive a mesma situação. “É difícil de consumir até os filmes mais famosos, eu particularmente não costumo consumir pirataria, principalmente com filmes independentes ou de menor proporção, mas em geral não consumo mesmo. Então, às vezes, a solução é ficar se desviando de spoilers até chegar no cinema ou em algum streaming que eu assine”, aponta.

Gabriel, por exemplo, acredita que falta um trabalho de marketing que aproveite o nome do cinema de Gramado e invista na vinda de blockbusters (filme popular para muitas pessoas e que pode obter elevado sucesso financeiro). “Isso traria não só o público da cidade, mas pessoas de outras regiões, que gostam do cinema daqui”, sugere. “Atualmente é bem difícil pra gente consumir esse tipo de mídia em Gramado, aqui a gente não tem acesso nem a blockbusters direito”, destaca Vinícius.

Eles também sentem falta de um maior número de sessões. “Dumbo está com um mês de atraso. Vingadores vem mais de 20 dias atrasado. O pessoal acaba consumindo por outros meios, principalmente blockbusters, aí eles perdem não trazendo em dia e perdem trazendo às vezes um filme aleatório e deixando duas ou três semanas em cartaz. Acho que se fizessem dois filmes diferentes por fim de semana com duas sessões por dia já seria uma melhora”, ressalta Vinícius.         

Já para Fernanda, o atual endereço do cinema não favorece melhorias. Ela pensa que o Palácio dos Festivais poderia ser aproveitado como um teatro. “Tenho certeza que as produtoras teriam muito interesse em incluir Gramado na rota de peças e shows. Além de um melhor aproveitamento do Palácio, a cidade ganharia mais uma atração. E, em relação ao cinema, a melhor alternativa seria uma dessas grandes redes montar uma filial aqui, em um lugar específico, que tenha a estrutura adequada para uma sala de cinema de qualidade”, propõe.

Distribuidoras determinam valores e tempo dos filmes em cartaz

O mercado do cinema funciona como todo tipo de comércio. A concorrência é determinante. Os filmes são produzidos por grandes empresas internacionais, como Disney, Paramount e Paris Films. Escritórios dessas empresas no Brasil são responsáveis por enviar os filmes para os cinemas brasileiros. São eles quem determinam os valores cobrados, bem como o tempo que deve ficar em cartaz. O valor é cobrado de acordo com porcentagem da bilheteria, cujo índice é estabelecido pelas próprias produtoras e costuma variar em torno de 50% da arrecadação.

Na hora de enviarem os lançamentos, as produtoras priorizam os cinemas que possuem mais visibilidade e mais garantia de arrecadação. O fato de Gramado ser conhecida como capital do cinema nacional não é levado em consideração pelas produtoras. Conforme explica a diretoria do cinema de Gramado, trazer grandes lançamentos requer o cumprimento de exigências estipuladas pelas produtoras. “Somos um cinema pequeno com apenas uma sala. Isso nos gera um grande desafio. Acaba sendo impossível competir com grandes empresas. Para conseguirmos um filme logo após o lançamento, a porcentagem exigida ultrapassa 50% da arrecadação, além de exigirem a exibição por quatro semanas sem interrupção. Nas primeiras semanas até temos público, mas depois não”.

A carga tributária do cinema é outro desafio enfrentado pelo mercado. As taxas são cobradas com relação ao valor bruto arrecadado. Mas, na prática, cerca de 50% do lucro não fica com o cinema. O controle referente ao público da bilheteria é rígido e passa, inclusive, pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). Fora isso, a exibição do filme também é acompanhada de perto pelas distribuidoras, por meio de um sistema que verifica o exato momento em que o filme está sendo rodado.

A diretoria ainda comenta que, atualmente, existem poucos cinemas “de calçada” no Rio Grande do Sul. A grande maioria é situada dentro de shoppings, o que possibilita mais salas para exibição e, consequentemente, mais sessões. “O certo seria termos no mínimo três salas. Assim é complicado para exibirmos em outros horários porque a própria distribuidora entende que existe uma concorrência entre os horários que são melhores e que têm mais público. Ainda há uma concorrência entre as produtoras, o que nos obriga a comprar filmes de todas elas e manter um equilíbrio de rodízio. Nem sempre podemos trazer só os filmes considerados bons das produtoras, porque elas também solicitam que  a gente passe filmes que não são tão esperados”, acrescenta.

Mesmo com a demora para trazer alguns lançamentos, a diretoria comenta que houve um avanço com relação à antigamente. Hoje, os filmes deixaram de ser projetados por película e são trazidos por meio de um HD. Quando eram rodados pelo antigo sistema, era necessário que a película ficasse direto com o cinema durante todo o período de exibição em cartaz. Com o HD, o filme pode ser salvo no computador e enviado para o próximo cinema, o que possibilita mais rapidez.

Atualmente, o Cinema de Gramado funciona como uma empresa S/A, conhecida também como Sociedade Anônima. A administração conta com mais de 250 acionistas, sendo a Prefeitura uma delas. Com relação aos lucros, a direção afirma que a empresa não está com prejuízo, mas também não está lucrando. “Está se mantendo. Todos entendem que o local deve ser preservado em nome do Festival de Cinema, da história, do patrimônio. Por isso precisamos encontrar uma forma de ficar bom pra todo mundo, de comprar de todas as distribuidoras, de exibir filmes de aventura, de comédia, de terror, de animação. Não vemos como mudar o formato atual”, aponta.

“Para manter os filmes recentes em cartaz, tu tem que ter mais do que uma sala”

O GNC Cinemas é uma empresa gaúcha que atua há mais de 25 anos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, incluindo salas para exibição em Caxias do Sul e Porto Alegre. O diretor do GNC Cinemas, Hormar Castello Junior, explica como funciona o mercado e como o Grupo faz para estar com os lançamentos em dia. “Em primeiro lugar, para manter os filmes recentes em cartaz, tu tens que ter mais do que uma sala. No caso de Gramado é impossível, porque só tem uma sala, vai ter sempre que escolher”, afirma.

Além de contar com estrutura para diversas salas, o diretor explica que o GNC sempre busca oferecer opções de versões (dublado, legendado, 3D) e horários diferentes para atender públicos variados. “A gente procura alternar isso de forma que todas as pessoas tenham oportunidade”, frisa. Essa atenção da empresa é fruto da cobrança constante do público. “Com a internet, as pessoas já sabem que aquele filme vai ser lançado na semana, e eles nos cobram isso”, destaca.

Ele também relembra que cada filme possui uma condição comercial, que envolve tempo de exibição e quantidade de sessões. “A gente não compra o filme, a gente compra o direito de exibir o filme por determinadas semanas”, explica. “As distribuidoras geralmente não deixam tu dividir o filme em sessões. Se eles cedem o filme, eles querem que tu exiba o dia todo”, comenta o diretor.

Com relação à possibilidade do Grupo expandir a marca para Gramado, Hormar explica que a empresa costuma ampliar somente para shoppings, que possibilitem a estrutura necessária para comportar diversas salas. “Em Gramado, os centros comerciais não foram muito bem sucedidos para isso até agora”, comenta.

Já com relação à disputa entre cinema e internet, ele acredita que o mercado do cinema ainda possui vantagens. Quando os filmes são lançados, por exemplo, são determinadas as janelas mínimas de exibição. Isso envolve um período de 60 a 90 dias em que o filme não pode ser exibido em nenhuma outra mídia. “Quem baixar, baixou pirata, aí está sujeito a ser processado. A concorrência com a internet existe, mas ela é ilegal”, salienta. “Os filmes são produzidos para o cinema, para a tela grande, que envolve uma experiência imersiva”, finaliza.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Trânsito é liberado na Estrada Velha após adiamento de obras da Corsan

O secretário de Obras, Tiago Procópio, confirmou à reportagem que a Rua Emílio Leobet, conhecida como Estrada Velha, está totalmente liberada para o tráfego...

Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul homenageia os 50 anos da Prawer Chocolates

Cerimônia enalteceu a trajetória da marca pioneira do chocolate artesanal no Brasil e contou com a presença de autoridades e colaboradores da empresa Na tarde...

Morre Eraldo da Rosa Pereira, genro do vereador Jone Wulff

CANELA - Faleceu na madrugada desta segunda-feira (4), no Hospital de Caridade de Canela, Eraldo da Rosa Pereira, aos 48 anos, genro do vereador...

Quatro jogos que separam o Gramadense da elite do futebol gaúcho

Tiago Manique [email protected] GRAMADO – O Centro Esportivo Gramadense (CEG) encerrou no domingo (27), a primeira fase da Divisão de Acesso. Jogando pela 14ª rodada da...

O início do fim do comércio irregular?

Quem passou ali pelo entorno da Igreja Matriz, no Centro de Canela, viu que tinha movimento diferente na tarde desta sexta-feira (25). Era a...
error: Conteúdo protegido