Vamo zerar?

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Coluna publicada no dia 09/07.

Zerou uma, falta outra. A fila da educação infantil de quatro a cinco anos em Canela tá zerada, conforme já tinha sido dito pelo prefeito Gilberto Cezar. Isso é fato. E foi comemorado, com razão. Mas daí veio o vereador Roberto Danany (MDB) na sessão da Câmara desta semana e puxou o fio da outra parte do novelo: a fila das crianças de zero a três anos, que segue extensa. São 220 pequenos esperando uma vaguinha no berçário, segundo os dados que ele apresentou.

E o detalhe que chamou atenção foi que o vereador trouxe um print de uma resposta do prefeito nas redes sociais, onde ele teria dito que essa fila também “vai ser zerada nos próximos dias”. E aí o Danany foi bem direto na leitura que fez disso: “nos próximos dias” significa, no mínimo, dentro do próximo mês. Mais que isso, vira “próximos meses”. E se passar disso (meses), já vira “próximos anos”.

Ele mesmo disse que ficou feliz com o anúncio e que quer dar parabéns se realmente for feito. Não teve tom de crítica ou cobrança ríspida. Foi uma fala de quem acompanha, tá de olho e quer que dê certo. E vamos combinar que isso é importante.

No fundo, acho que todo mundo quer a mesma coisa: que as crianças tenham onde ficar, com cuidado, estrutura e afeto enquanto os pais seguem sua vida, seus trabalhos, seus estudos. Então, se a primeira parte da fila já foi zerada, tomara que a segunda esteja mesmo prestes a ir pelo mesmo caminho. E que seja nos próximos dias de verdade.

A nova lei da propaganda nas ruas

Tem mudança chegando aí, e é bom todo mundo saber. A partir da segunda-feira, dia 14 de julho, entra em vigor aquela alteração na lei municipal que trata das abordagens nas ruas de Canela. Lembra? Aquela que foi aprovada faz pouco na Câmara e que proíbe os abordadores de ficarem chamando os turistas pra foto, pra restaurante, pra venda de cotas, pra o que for.

O vereador Lucas Dias (PSDB), autor da mudança da lei, foi quem lembrou disso na sessão. Eu tenho notado, desde que o projeto foi aprovado, uma diminuição nas abordagens. Não é que sumiram de vez, mas deu uma aliviada. E agora, com a lei em vigor de fato, vamos ver como será a atuação da fiscalização e como os trabalhadores que atuam com essas abordagens vão se portar. É um período de transição.

O próprio vereador falou que Canela ficou em quinto lugar no ranking das cidades mais hospitaleiras, e que poderia estar mais pra cima. Uma das coisas que derrubam essa nota é justamente o excesso de abordagens nas ruas, que incomoda tanto quem vem visitar quanto quem mora aqui.

E não é mentira. Quem caminha pelo centro sabe bem. Às vezes o turista mal encostou o pé na Igreja e já foi abordado três vezes. É claro que a maioria tá só tentando ganhar o pão, fazer o corre. Mas também é claro que precisa ter limite. A cidade precisa ser acolhedora sem ser invasiva. Precisa dar espaço pra quem quer vender, mas também pra quem só quer caminhar em paz. Vocês tão carecas de saber.

Formiguinha

Também faço lembrança da fala do diretor da fiscalização, o Márcio Sauer Dias. Ele disse que esse trabalho de mudar a cultura das abordagens é como trabalho de formiguinha. E eu concordo. Não é no grito, não é com repressão brusca, não é de um dia pro outro. É construindo diálogo, explicando, mostrando o caminho.

A fiscalização tem seu papel, claro. Mas o comerciante, o ambulante, o fotógrafo de rua também precisam entender que todo mundo faz parte do mesmo ecossistema. A cidade precisa funcionar bem pra todos. E às vezes, pra funcionar, é preciso recuar um pouquinho, mudar a abordagem, adaptar o jeito de oferecer o serviço.

Se isso vai acontecer? Vamos ver. Mas que a cidade merece um centro mais leve, mais livre e mais gostoso de passear, isso não tem dúvida.

IA

Agora segura essa: um homem aparece no Facebook com uma colcha de crochê, dizendo que terminou o trabalho e perguntando o que as pessoas acham. Veio uma enxurrada de comentários elogiando o trabalho, parabenizando, incentivando. Mas tinha um detalhe: a imagem era feita por inteligência artificial.

Pra quem já tá acostumado com esse universo, ficou evidente. Mas muita gente caiu direitinho. Porque é assim: a IA tá cada vez mais convincente. E esse episódio, que parece bobo, levanta um alerta gigante. Imagina isso em época de eleição? Imagina o potencial que essas ferramentas têm pra fabricar histórias, manipular imagens, inventar contextos?

É aí que mora o perigo.

A imagem do crochê, por exemplo, tinha elementos bem típicos de uma geração artificial. As cores vibravam além do normal. A cama tinha um encosto que não acabava nunca, seguia as costas do homem de um jeito estranho. Normalmente, imagens geradas por Inteligência Artificial têm proporções do corpo, os dedos, o fundo da imagem — os elementos tem aquele ar sutilmente errado, mas ainda assim muito próximo da realidade.

O olho que vê além

Esses detalhes são os que ajudam a gente a perceber quando uma imagem é real ou não. É um olhar que a gente precisa treinar. É parar e observar: a luz tá coerente? O reflexo na água acompanha a paisagem? O número de dedos é certo? O tamanho dos braços? O brilho da pele tá natural?

A inteligência artificial ainda erra nessas coisas. Mas cada vez menos. E é por isso que o cuidado tem que ser cada vez maior. A gente precisa desenvolver esse filtro. Um olhar desconfiado, mas não paranoico. Um olhar curioso, mas não cego.

Isso vale pra tudo. Pra imagem de crochê, pra imagem de político chorando, pra notícia escandalosa, pra vídeo de denúncia. Tudo precisa ser analisado com calma. Porque, como já dizia aquela velha máxima: uma mentira bem contada pode virar verdade. E com IA na jogada, essa mentira pode até ter voz, rosto, sorriso e até crochê.

IA amiga (e nem tanto)

Eu, por exemplo, uso inteligência artificial todo dia. Tá aqui, me ajudando a revisar texto. É uma baita parceira. Mas ela não escreve por mim. Nem deve. O texto precisa ter alma, ritmo, sotaque. Precisa ter toque humano. Se tu joga tudo na IA e publica como veio, corre o risco de ficar tudo igual — e pior, corre o risco de dizer algo que tu mesmo não queria dizer.

E aí a gente volta pra história da eleição. Porque se tem uma coisa que vai bombar em 2026, é conteúdo feito com IA. Vídeo falso, áudio manipulado, imagem que não existiu, declaração que nunca foi dada. E muita gente acreditando, compartilhando, comentando, se emocionando com coisas que simplesmente não são reais.

Consumo com consciência

O que fazer? Aprender. Estudar. Observar. Desconfiar. Parar dois segundos antes de clicar em “compartilhar”. Ler os comentários, ver se outras pessoas também notaram algo estranho. Procurar a fonte da imagem, ver se tem link confiável, se alguém mais já falou daquilo.

E não é pra virar fiscal de internet, não. É só pra não ser enganado. Pra não cair numa armadilha feita com um sorriso gerado por IA e uma legenda comovente. É pra manter o senso crítico vivo, afiado, pronto.

Porque a tecnologia tá aí. Vai evoluir. Vai ficar melhor, mais rápida, mais realista. E isso é ótimo em muitos aspectos. Mas também é perigoso. E como em tudo na vida, o que vai fazer a diferença é o jeito que a gente usa.

Gente que acredita

Agora, só pra deixar bem claro: não tô julgando quem acreditou na foto do crochê. De jeito nenhum. É compreensível. A imagem era boa. Mas justamente por isso a gente precisa ficar mais atento. Porque é assim que as boas mentiras nascem — parecendo verdades confortáveis, familiares, possíveis.

Então fica aqui esse lembrete bem simples: olhou, duvidou, observou. Nem tudo que tem cara de real é real. E nem tudo que parece mentira é. O segredo tá no meio do caminho.

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