O vereador Nenê Abreu (MDB) subiu na tribuna e já mandou de cara: “O recurso não vai vir”. E não foi com raiva, nem com ironia. Foi com aquele tom de quem não acredita mais que o Governo Federal mandará o dinheiro se referindo à revitalização da Rota Panorâmica — aquela estrada linda, cheia de curva e vista, que hoje não há como transitar devido as enchentes do ano passado que a inviabilizaram.
Ali, muita gente do interior usava diariamente. Pra vir trabalhar, pra levar filho no colégio, pra ir no médico, pra fazer feira. Agora o povo tá tendo que dar volta, pegar caminho mais longo, tudo por causa da situação da estrada. E ele falou de uma reunião com 45 moradores que dependem direto daquela via.
Segundo o Nenê, o vice-prefeito Gilberto Tegner tava lá e falou que o recurso federal ainda pode vir. Dois a três meses de espera seria o prazo. Mas se não cair essa grana, aí o município vai puxar do tal empréstimo de 17 milhões. Aqueles mesmos 17 milhões que tão há tempo sendo falados por aí e que já foram pensados pra mil coisas.
Os tais 17 milhões
A história dos 17 milhões vem lá da época do Constantino. Um empréstimo grande, pré-aprovado lá atrás, pra usar em várias frentes. Na época, tinha destino certo: um pedaço (R$ 2 milhões) iria pra Rota Panorâmica, outro pra obras em outras partes. Só que agora pode ser que se precise remanejar tudo pra um ponto só.
A estimativa que rola é que pra recuperar toda a rota precisaria de uns 10 milhões. Talvez mais. E, se for o caso, a prefeitura pode usar quase tudo do que ainda tem disponível. É aquela velha história: prioridade, né? A Rota Panorâmica não é só uma estrada. É um elo entre o interior e a cidade. É por ali que a vida anda. Bom, por enquanto o projeto para busca destes recursos continua em trâmite lá em Brasília.
O pedido do Sindtur
Ainda durante a sessão, entrou outro assunto quente. O presidente do Sindtur, Cláudio Souza, foi pessoalmente entregar uma proposta pro prefeito Gilberto Cezar: suspender construções de novos hotéis em Canela, copiando o que Gramado fez na semana passada. E aí, claro, o assunto caiu no plenário.
O vereador Nenê não concordou. Disse que era contra, que isso podia travar oportunidades. Comentou, exemplificando que seus filhos e netos vão precisar de emprego, assim como todas as gerações de canelenses. E que Gramado tá numa realidade diferente. Disse até que “Se Gramado está defasado, o problema é deles”. Não foi no sentido de menosprezar, mas mais pra reforçar que Canela ainda tá crescendo, que não precisa puxar o freio agora.
Recepção cordial
Logo depois do Nenê, o vereador Lucas Dias também falou. A fala dele foi mais tranquila, mas deixou claro que o prefeito recebeu o presidente do Sindtur mais por educação. Aquela coisa institucional, ouvir todo mundo. Mas que isso não significa seguir a sugestão.
Eu tenho um ponto. Canela ainda não tem o volume de hotéis que Gramado tem. Aqui a gente ainda consegue crescer com um pouco mais de organização. Não precisa fazer como Gramado, que já tá num ponto de saturação, segundo avaliado. Ainda tem espaço pra investir, pra gerar emprego, pra dar oportunidade.
O “passivo” de Gramado em Canela
Durante a discussão sobre a proposta de moratória na construção de hotéis, o vereador Rodrigo Rodrigues (PDT) pincelou também sobre o assunto. Segundo ele, o que tá sendo discutido agora nas duas cidades não é só turismo, é estrutura. E quando se propõe frear o crescimento — como Gramado já começou a fazer e como foi sugerido também pra Canela — é porque as duas cidades, na visão dele, já estão beirando o colapso.
E aí veio o termo que chamou atenção: “Canela absorve todo o passivo de Gramado.”
Rodrigo explicou o que quis dizer com isso. Ele não falou em tom de crítica às pessoas, mas como uma questão de gestão urbana. O que ele apontou foi que muita gente mora em Canela, mas trabalha e consome em Gramado, e isso pressiona os serviços públicos daqui. Segundo ele, é Canela que acaba ficando com as demandas de moradia, saúde, educação, infraestrutura — enquanto grande parte da geração de receita ocorre no município vizinho.
E aí, nesse ponto, eu posso dizer com toda a clareza: eu sou exatamente esse exemplo. Moro em Canela e trabalho em Gramado. Todo dia, faço esse trajeto. Conheço esse movimento. E sei que não sou o único. Tem muita gente na mesma situação — gente que sai cedo de casa, cruza o pórtico, trabalha o dia inteiro em Gramado e volta pra Canela à noite. É esse vai e vem constante que o Rodrigo chamou de “passivo”.
Na fala dele, o termo não é um julgamento, na minha percepção. É um alerta. Ele quis dizer que Canela oferece toda a estrutura de cidade — escolas, postos de saúde, coleta de lixo, iluminação pública, transporte escolar —, mas nem sempre tem o retorno proporcional em arrecadação pra dar conta disso tudo. Porque a base econômica de boa parte desses moradores tá sendo movimentada lá do outro lado da divisa.
Segundo o Rodrigo, isso cria um desequilíbrio. Ele não propôs uma solução direta, nem falou em números. Mas apontou esse movimento como algo que precisa ser discutido com seriedade. Para ele. Canela precisa se preparar não só pra crescer, mas pra sustentar o que já tem.
Eu deixei minha opinião tópicos acima: Canela ainda não precisa desse freio proposto pelo Sindtur. E, talvez, para não precisar lá na frente deva ter um direcionamento a partir de agora. Também acho que Rodrigo esqueceu de dizer que os canelenses que trabalham em Gramado gastam o seu dinheiro nos mercados, comércios e tudo mais, em Canela. Então, tudo fica no 0 a 0, ou quase.
Quando o título vale mais que a educação
E então, veio aquele momento que todo mundo prestou mais atenção. O vereador Roberto Danany (MDB) pegou o microfone e começou a falar dos acontecimentos na última rodada do Sub-15, em Canela.
Ele disse que hoje o título tá valendo mais que a formação. Que tem escolinha pescando menino de outra pra montar time só pra ganhar. Que as brigas estão acabando com o espírito do esporte de base, que deveria ser participação, educação, respeito.
Falou que o DMEL decidiu que a próxima rodada (hoje) terão portões fechados e questionou: se não teve briga, por que fechar? Se teve, por que punir só alguns? Pediu súmulas, imagens, câmeras. Disse que isso precisava ser mais claro, mais transparente. E soltou um monte de perguntas que, na real, muita gente também tá fazendo.
Um campeonato que é mais que bola
A preocupação não era só com o jogo, mas com o que tá em volta. O vereador lembrou que tem pais xingando atletas adversários, pressão nas arquibancadas, clima pesado. Disse que se o campeonato é da base, então a gente precisa ser o exemplo. Mostrar que respeito e formação vêm antes de medalha.
E aí ele largou uma frase forte: “Quando o título vale mais que a educação, a gente tá indo pro caminho errado.” E não é exagero. Quem vive o esporte sabe como isso pesa na vida de um menino de 12, 13 anos. Como um ambiente tóxico pode desmotivar ou até afastar ele do esporte. O recado foi esse: cuidar agora pra não perder depois.
O que o DMEL respondeu
Depois da sessão, o Departamento de Esporte e Lazer (DMEL) se manifestou. E aí ficou mais claro o motivo dos portões fechados. Disseram que não houve briga de verdade, nada de vias de fato. Mas sim um excesso de ânimo — ou nervosismo mesmo — dos pais nas arquibancadas.
Em três das cinco rodadas do Sub-15, já tinha rolado confusão. Não briga física, mas discussões, provocações, xingamento. E nessa última rodada, a tensão passou do ponto. Por isso, decidiram fechar os portões. Pra proteger os meninos, permitir que os técnicos façam seu trabalho e garantir segurança no geral.
O DMEL ainda explicou que o Ginásio Santa Marta, onde rolam os jogos, não tem divisão de torcida. Todo mundo fica junto, o que aumenta o risco de confronto. E que, como não tem estrutura de segurança suficiente, a melhor solução foi restringir o acesso. Com portões fechados, dá pra controlar quem tá lá dentro.
Regulamento e bom senso
Também explicaram que não tem previsão no regulamento canelense pra excluir time por causa de briga de torcida. Nem aqui e nem em competições maiores como da CBF, da Conmebol ou da UEFA. Nunca se tirou time por isso. A punição, nesses casos, não é pra equipe, mas pra quem realmente causou confusão.
O DMEL reforçou que a prioridade é terminar o campeonato com segurança. Pediu apoio da Brigada Militar pros dias de jogo, principalmente nos momentos de entrada e saída dos atletas. Tudo pra evitar tumulto, garantir que a gurizada entre na quadra só com o pensamento no jogo. Bom, no próximo regulamento deve haver previsão de exclusão. A tolerância pra esse tipo de situação deve ser ZERO. Neste caso, o DMEL quer evitar o que está se tornando recorrente e eu até concordo, mas os bons vão pagar pelos maus.
Criação de secretarias
Ainda teve outro assunto levantado: a criação das secretarias de Esporte e de Cultura. Algo que muita gente apoia, porque dá mais foco, mais visibilidade. Mas junto veio uma dúvida que não dá pra ignorar: de onde vai sair o dinheiro pra tocar isso?
Porque criar uma secretaria é uma coisa. Fazer ela funcionar bem é outra. E o orçamento de Canela não aumenta automaticamente só porque tem uma nova pasta. Às vezes, é melhor fortalecer o que já existe, deixar sólido, do que abrir frente nova sem ter base. E essa pergunta fica: a gente quer mais estrutura ou mais eficiência?












