Coluna publicada no dia 26/06.
O prefeito Gilberto Cezar anunciou nesta quinta, 26 de junho, ao lado do secretário chefe da Casa Civil, Artur Lemos, o envio à Assembleia Legislativa do projeto de lei que propõe a doação do Parque do Palácio para o município de Canela. Um gesto importante, sem dúvida. Mas antes de falar dessa possível conquista, é preciso lembrar como chegamos até aqui.
O Parque do Palácio voltou oficialmente ao Estado no dia 1º de janeiro de 2025. Isso porque não foi construído, dentro do prazo, o prometido Centro de Convenções e Congressos — que era uma das condições da concessão vigente. Sem a obra, o terreno retornou à posse do governo estadual. Mas os problemas começaram muito antes disso.
Agosto de 2023: a decisão que mudou tudo
Voltemos pra 14 de agosto de 2023. Nessa data, a Câmara de Vereadores de Canela arquivou o projeto que previa a permuta do Centro de Feiras pela construção de um Centro Cultural e de Convenções dentro do Parque do Palácio.
A Comissão de Constituição, Justiça e Redação Final (CCJ-R), composta por Jerônimo Rolim (PDT), Carmem Seibt (PSDB) e Carla Reis (MDB), deu parecer contrário à tramitação do projeto. A maioria seguiu esse parecer, e a votação terminou com seis votos favoráveis ao arquivamento: Rolim, Vellinho Pinto (PDT), Jone Wulff (PDT), Felipe Caputo (PSDB), Carmem Seibt (PSDB) e Carla Reis (MDB).
Contra o arquivamento votaram Mana Andresa (MDB), Roberto Grulke (MDB), Alberi Dias (MDB) e Emília Fulcher (Republicanos).
Mesmo vereadores da base do governo Constantino foram a favor do arquivamento. Um detalhe que na época pesou muito — politicamente e nas conversas de bastidor.
Obras começaram, mas pararam logo depois
Vale lembrar que, antes do projeto ser arquivado, já havia movimento dentro do Parque do Palácio. Obras começaram, com previsão de construção de quadras esportivas, playground, área de lazer, que ficariam no entorno.
Mas assim que o projeto foi engavetado, tudo parou. O parque voltou ao abandono, como esteve por quase uma década. Hoje, o local está igualzinho: sem uso público, sem manutenção e sem futuro definido. O mesmo vale para o Centro de Feiras — que também entraria na permuta e acabou do mesmo jeito: esquecido.
O papel do Estado e os bastidores
Na época, era comum ouvir, nos bastidores, que o Estado comemorava o arquivamento do projeto. O motivo? Não querer a construção do centro de convenções. Enquanto isso, a cidade perdia dois espaços valiosos — o parque e o centro de feiras — para a inércia.
A doação agora é uma nova chance
Corta pra 2025. Agora, com o projeto de doação enviado à Assembleia Legislativa, há uma nova possibilidade de o município assumir a gestão do Parque do Palácio. É um passo importante, claro. Mas, por enquanto, é só o envio do projeto. Ainda há o trâmite na Assembleia. E a história nos ensinou que até projetos bem-intencionados podem ser engavetados por detalhes políticos.
Se a doação for aprovada, o parque finalmente poderá ser usado de forma planejada pela cidade. Mas é preciso ter projeto, orçamento, cronograma.
Um parque com uso público de verdade
O que a comunidade espera — e merece — é que o Parque do Palácio se transforme num espaço vivo. Um parque com atrativos de verdade. Um lugar pra levar os filhos no fim de semana, pra passear, praticar esportes, ver cultura, respirar. Não pode mais ser só um lugar abandonado no mapa da cidade.
Que Canela, recebendo o parque, de fato use esse espaço a favor da população. Que haja planejamento, que haja diálogo com a comunidade. Que seja diferente.
A fala que ficou no ar
Na época do arquivamento do projeto, o então prefeito Constantino Orsolin afirmou que os vereadores que votaram contra o projeto “sofreriam as consequências”. Não no sentido de vingança, mas de cobrança pública. Hoje, o tempo deu razão a quem alertava que o arquivamento traria estagnação. Foi o que aconteceu. E agora, com a nova tentativa de solução, a cidade tem uma oportunidade de virar a página.
A virada de chave veio das escolas
Mudando completamente de assunto — mas continuando a falar de futuro — vale registrar o belo trabalho que aconteceu nas escolas municipais de Canela nos últimos dias. Desde 19 de maio, alunos participaram da Gincana do Meio Ambiente, em comemoração aos 30 anos da coleta seletiva no município.
Foi uma mobilização real, intensa, educativa e transformadora. Professores, pais, alunos, direção das escolas: todos envolvidos. O tipo de iniciativa que mostra como a educação pode ser o ponto de partida pra mudanças concretas.
Quase três toneladas de consciência
A grande vencedora da gincana foi a Escola de Educação Infantil Alice Wortmann, que arrecadou 2.972 quilos de materiais recicláveis. Isso mesmo: quase três toneladas. Papel, plástico, metal, vidro — tudo separado, recolhido, destinado à Cooperativa de Catadores da Região das Hortênsias (COOCAMARH).
A segunda colocada foi a Escola de Educação Infantil Ítala Reis, com 1.985 quilos. Também será premiada, porque ali o que mais valeu foi o envolvimento de todos.
A educação ambiental começa cedo
Essa gincana faz parte do Programa Ecocidadania, realizado pelas Secretarias de Meio Ambiente e Urbanismo e de Educação, Esporte e Lazer. E também serviu como base pra uma estratégia maior: reimplantar de forma estruturada a coleta seletiva no município, via educação ambiental.
A diretora do Departamento de Coleta Seletiva, Laci Gross, comentou que ver o engajamento das crianças e das famílias foi gratificante. E realmente foi. Um exemplo de que, com orientação e incentivo, as futuras gerações assumem o protagonismo.
Na época em que ainda era interventor da central de triagem, Carlos Frozi — hoje secretário do Meio Ambiente — já dizia que a mudança começaria pelas escolas. E ele tinha razão. A prova está aí.