GRAMADO – A última audiência que julga os três réus acusados de participação na morte de Vitória Consoni está marcada para a próxima terça-feira, 27 de maio. O caso, que se arrasta há quatro anos, trata da morte da jovem de 19 anos, vítima de um grave acidente de trânsito ocorrido na madrugada de 29 de abril de 2021, na rua Agnel Alves de Oliveira, no bairro Carazal, em Gramado.
Vitória estava no carro conduzido por seu namorado, na época, quando o veículo colidiu violentamente contra um poste de luz, capotou e parou em um barranco ao lado de uma residência. A força do impacto arremessou a jovem para fora do carro, causando sua morte instantânea. O motorista foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e encaminhado ao Hospital Arcanjo São Miguel.
A investigação conduzida pela Polícia Civil de Gramado revelou que a colisão foi consequência de um racha — uma corrida ilegal entre veículos — em que estavam envolvidos o carro em que Vitória era passageira e um segundo automóvel, dirigido por um casal de jovens. A presença de bebidas alcoólicas no veículo também foi confirmada, adquiridas em um supermercado local naquela mesma noite.
Três pessoas foram indiciadas por homicídio culposo na direção de veículo automotor e participação em racha: o motorista do carro onde estava Vitória, e os dois ocupantes do outro veículo envolvido na disputa de velocidade.
Avanços no processo
Na última audiência, realizada em setembro de 2024, foram ouvidas as testemunhas de acusação restantes. Segundo o assistente de acusação Ramon Cavallin, os depoimentos foram cruciais para a elucidação dos fatos, especialmente por se tratarem de moradores da região e primeiras pessoas a chegarem ao local do acidente. As testemunhas confirmaram a realização do racha e a existência de bebidas alcoólicas no veículo. Além disso, relataram que o casal que estava no outro carro escondeu o veículo após o acidente e só retornou ao local posteriormente.
“Estamos com a expectativa de que haja a conclusão da instrução processual e prolação de sentença o mais breve possível. Por tudo o que a imprudência dos réus causou, esperamos e confiamos que o Poder Judiciário aplique a pena máxima. Todas as provas até aqui produzidas, inclusive, corroboram com a tese acusatória”, afirmou Ramon Cavallin.
O luto da família
Para a família de Vitória, a espera pela conclusão do processo tem sido marcada por dor e saudade. A irmã da jovem, Bárbara Leite, desabafa sobre o impacto da perda e a expectativa em relação ao julgamento final.
“A nossa expectativa é que a justiça seja feita. Sabemos que a Justiça de Deus não falha, mas é preciso arcar com as consequências dos nossos atos, e eles precisam arcar com o que eles fizeram. Eu não sei como tem sido a vida do Vinicius, da Helen e do Daniel, mas acredito que até mesmo para eles esse desfecho será um ponto final para esse acontecimento que dilacerou o coração de uma família inteira”, afirmou Barbara, citando os nomes dos três réus.
Ela lembra que no dia 29 de abril completaram-se quatro anos da tragédia. “São 4 anos agora fez em 29/04 e não há um dia sequer que não pensemos nela. Eu falei esses dias que já não temos mais fotos novas com ela. O tempo nos deixa presos a fotos e vídeos antigos. Ao olhar ficamos imaginando como ela estaria hoje, se já estaria casada, se já teria filhos. Olho para o meu dia a dia e fico colocando ela nele e tentando imaginar como seria. A gente vive, a gente ri, a gente se alegra, mas a sensação de falta é contínua”, disse.
Bárbara também ressalta que o encerramento do julgamento não irá apagar a dor, mas poderá trazer algum tipo de alívio. “Pra nós, o encerramento desse julgamento não vai apagar a nossa dor, mas vai nos trazer um fechamento de um ciclo. A justiça sendo feita nos trará a sensação de que pudemos fazer algo por ela, e pelo que fizeram com ela. Não só da questão do racha que levou ela à morte, mas a negligência em não prestar socorro, em deixar ela lá sozinha, no meio da noite, sem sequer chamar o socorro, porque esconder o que fizeram era mais importante que uma vida que estava se indo! Isso dói demais. Tentamos lidar seguindo a vida, não é fácil. O tempo não cura o luto, ele nos ensina a colocar o luto em uma caixinha destapada dentro da gente e seguir vivendo.”
A posição da defesa
A defesa do casal de jovens que estava no outro veículo envolvido na disputa afirma que seus clientes são inocentes e critica julgamentos antecipados antes do fim do processo judicial. Em nota, declararam:
“A defesa está convicta na inocência dos meus clientes. Importante lembrar que qualquer julgamento precipitado antes da conclusão do processo é inapropriado. No estado democrático de direito todos são considerados inocentes até que se prove o contrário. Temos plena confiança na justiça e não há outro caminho a não ser a absolvição dos acusados. Enquanto o processo estiver em julgamento solicitamos respeito à privacidade dos meus clientes e de suas famílias.”
A defesa ex-namorado de Vitória e condutor do veículo onde ela estava não foi localizada.
As acusações e possíveis penas
O Ministério Público denunciou os réus por homicídio culposo na direção de veículo automotor, com agravante por estarem sob influência de álcool. Conforme o Artigo 302, parágrafo 3º, do Código de Trânsito Brasileiro, a pena prevista para esse crime é de reclusão de cinco a oito anos.
Além disso, os acusados respondem por participação em racha, conforme o Artigo 308 do Código de Trânsito Brasileiro, que prevê pena de detenção de seis meses a três anos para quem participa de corrida, disputa ou demonstração de perícia em via pública sem autorização e com risco à segurança pública ou privada.
A denúncia foi feita com base no concurso material de crimes, o que significa que as penas podem ser aplicadas de forma cumulativa, caso haja condenação.












