Coluna publicada no dia 19/05.
Bueno, pelo menos uma a gente conseguiu dar uma ajeitada. A tal da panfletagem abordagem de turista na rua, aquele empurra-empurra de folder, parece que se deu um jeito. Não tá mais aquele rancho, aquele assédio desenfreado? Mudaram a lei, os fiscais tão mais em cima, e o pessoal se aquietou? Já dá pra caminhar sem ser atacado com papel colorido? Palmas? Mais ou menos. Porque tem outra bronca maior que essa que continua firme e forte.
A venda que não pode, mas pode
Vamos falar a real, sem rodeio: a questão dos indígenas em Canela tá largada às traças. É um “faz de conta” danado e, lembrando, não é um problema de agora. Eles não podem vender produto industrializado? Pois estão vendendo. Eles não podem montar banca na frente da Igreja Matriz? Pois tão ali, firmes, quase que plantando raiz. Tão errado? Tão. Mas tão abandonado também. E aí que tá o nó do guasqueiro: se não pode, por que que tão deixando? E se pode, por que que o resto do povo tem que seguir regra, pagar imposto, alvará, aluguel, e eles não?
Como fica?

Tirei uma foto, faz uns dias, de um indígena sentado ali na frente da igreja. Sentado, quieto, olhando pro nada. E fiquei pensando: o que será que ele pensa o dia inteiro ali? E mais: o que será que pensam os donos de loja em volta, que pagam imposto até do ar que respiram? O cara que tem um restaurante, que vende um x-salada e tem que prestar conta até dos picles. Ver aquela cena ali, todo santo dia, e se pergunta: “ué, cadê a lei pra todo mundo?” Porque a verdade, meu querido, é que tem dois pesos e duas medidas nessa história.
Que eu morda a língua
E antes que me atirem pedra: eu tentei saber. Perguntei, questionei. A resposta da prefeitura? Nadica. E aí, assim como vocês, eu também tô a ver navios. E olha que navio em Canela não é fácil de achar, hein. A coisa tá feia e ninguém parece querer meter a mão nesse vespeiro. Há medo de parecer preconceituoso? Mas cuidar da cidade e impor regra igual pra todos não é preconceito. Eu sou a favor que eles tenham um lugar apropriado para fazer suas vendas e de forma regular, não quero que sejam impedidos, mas ali não é lugar. Que eu morda minha língua, que tudo esteja sendo resolvido de forma discreta então, sem alarde.
A taipa do Alberi (e não é piada)
E aí me lembrei de uma ideia maluca (ou não) que o vereador Alberi Dias (MDB) teve anos atrás: botar uma taipa em volta da igreja. Sério! Uma cerca, uma contenção, sei lá o quê. Na época, riram. E eu também ri. Mas agora tô começando a achar que era o único plano de ação concreto que já apareceu. Porque do jeito que tá, vai terminar com todo mundo montando banca ali, vendendo de tudo – de cocar de plástico a chip de celular. E a gente pagando a conta da bagunça.
Vamo rir pra não chorar, mas já tá secando o riso
É aquela coisa: vamo rir pra não chorar. Mas tá difícil achar graça. O turista olha, fotografa, comenta. O morador vê, se incomoda, mas não pode fazer nada. O empresário chora em silêncio. E os fiscais?
Moral
No fim das contas, não é questão de ser contra ou a favor dos indígenas. É ser a favor de uma cidade organizada, justa, onde todo mundo joga com as mesmas regras. Porque senão, vira terra de ninguém. Ou melhor: vira terra de quem quer, como quer, onde quer. E isso, tchê, não tem mate que desça.