Canela viveu nesta sexta aquele clássico ritual político: a solenidade dos 100 primeiros dias de governo. A cerimônia, simbólica, serviu para o prefeito Gilberto Cézar (PSDB) fazer um apanhado geral do que foi feito até aqui, do que ainda está por vir e — claro — lançar algumas críticas à gestão anterior.
Com pouco mais de três meses à frente da prefeitura, Gilberto fez um discurso recheado de observações, promessas e algumas revelações surpreendentes. Ele tratou desde problemas estruturais nas escolas, passando pela convivência com os indígenas no entorno da Catedral, até a revitalização de espaços públicos, além de comentar achados bastante inusitados dentro da própria máquina pública. Mas vamos por partes.
Cemitério e a única roçadeira
Enquanto o prefeito discursava, uma denúncia chegou até mim: o cemitério municipal está tomado pelo mato. O local, que deveria ser um espaço de respeito e tranquilidade, virou alvo de abandono. Palavras do denunciante.
Mas o que chama atenção não é só o descaso, é o motivo: os funcionários não tinham como limpar porque só há uma roçadeira disponível — e ela estava sendo usada em outro ponto da cidade, segundo os operários. Quem me passou a situação estava muito decepcionado.
Escolas: entre o susto e o compromisso com o turno integral
Gilberto contou que levou um susto quando visitou as escolas quando assumiu. Segundo ele, a maioria das 24 unidades municipais apresentava infiltrações, goteiras e avarias sérias. O cenário era de abandono estrutural.
Mas no meio do caos, um alívio para os pais: Canela mantém 80% das suas escolas municipais em turno integral — número expressivo, especialmente se comparado com as cidades vizinhas. Gramado, por exemplo, tem apenas 5%, enquanto São Francisco de Paula chega a 20%, números ditos por ele.
É uma política que merece ser destacada e, principalmente, protegida e qualificada. O ensino em tempo integral não é só uma estatística bonita. Não podemos esquecer também que 12.403 refeições são servidas. Gilberto prometeu manter e melhorar o turno integral. Que seja cobrado e tenha sucesso.
A Rota Panorâmica
Foi anunciado o deferimento do projeto de revitalização da Rota Panorâmica lá no Governo Federal, agora em fase de análise técnica para viabilização de recursos.
A Rota Panorâmica é, antes de tudo, uma estrada essencial para os moradores do interior, que reclamaram muito e com razão nestes primeiros três meses. É por ela que passam trabalhadores, produtores rurais, alunos, famílias inteiras. É um caminho de acesso à cidade, à saúde, à educação.
Se Gilberto conseguir tirar isso do papel, será uma vitória não apenas para o turismo, mas principalmente para quem mora longe do centro e depende dela todo santo dia e está utilizando outras alternativas.
O Parque do Palácio
Outro ponto importante: o Parque do Palácio, que desde 31 de dezembro “deixou de ser” de Canela, pode voltar a ser concedido ao município. Segundo o prefeito, a lei estadual está sendo alterada para retirada do gravame, que previa a construção de um Centro de Eventos ali para que a concessão do Estado continuasse automaticamente, permitindo que o parque seja novamente concedido à cidade. A notícia é muito boa. Agora eu quero ver na prática o que vai ser feito ali.
Acordo com os indígenas: diálogo, não imposição
No entorno da Catedral de Pedra, a presença dos indígenas sempre gerou polêmica. Segundo Gilberto, a prefeitura está buscando um acordo com os grupos indígenas que ali permanecem, numa tentativa de construir uma solução boa para os dois lados. Sem nada a “moda louco”, e com diálogo. Se for levado a sério, é um passo importante rumo a uma resolução.
Fornos enterrados
Um dos momentos mais inusitados do discurso foi quando Gilberto revelou que a nova gestão encontrou fornos enterrados no pátio da Secretaria de Obras, estes que poderiam estar sendo utilizados ao invés de abandonados. Além disso, equipamentos de pracinha estavam na mesma situação, tomados pelo mato, como se a secretaria fosse um depósito de sucata.
“Secretaria de Obras não é depósito”, disse ele. E tem razão. É simbólico, mas diz muito sobre a falta de cuidado com o patrimônio público.
Lixo verde, Centro de Feiras e aluguel social
O prefeito também citou a criação de um contrato global para recolhimento de lixo verde — que promete dar fim aos entulhos de galhos e folhas que ficam espalhados pelos bairros após a poda.
O Centro de Feiras será revitalizado, assim como o teatrão e a principal praça da cidade, a João Corrêa. Tudo isso, claro, prometido em tom enfático: “Não estamos há quatro anos, estamos há três meses”. Fica o lembrete: o tempo é curto, mas as promessas são grandes.
Ele também destacou que, em 90 dias, todas as famílias que estavam alocadas em hotéis e pousadas por conta das enchentes de maio passado foram removidas com aluguel social garantido. E fez uma crítica apontando que esse modelo deveria ter sido adotado antes — algo que a gestão anterior não fez, e que Canela foi a única a aplicar dessa forma na região. Gramado, por exemplo, aprovou a lei ainda ano passado.
Palmas ensaiadas?
Um detalhe que não passou despercebido: a quantidade de palmas que surgia a cada ponto do discurso, como se cada frase fosse um gol de final de campeonato. E tudo bem vibrar — eu também quero bater palmas. Mas só quando as soluções que hoje são promessas virarem realidade concreta. Por ora, são apenas 100 dias. Que caminhe para ser o melhor governo que Canela já viu. Estaremos acompanhando.
E não podemos esquecer
Por fim, é impossível encerrar essa coluna sem citar um fato importante que aconteceu ontem e que não pode ser ignorado: foi expedida a liberdade provisória do vereador João Silveira. Vamos ver os próximos capítulos dessa história.