GRAMADO – Tensão, dúvidas e alívio. As três palavras resumem como a reunião com os moradores do bairro Três Pinheiros caminhou, na noite de terça-feira (23), na escola Pedro Zucolotto. Os residentes convocaram a Prefeitura cobrando explicações acerca do que seria feito na localidade já que, no último dia 17, completou seis meses que o bairro foi evacuado e cinco que os moradores foram autorizados a retornarem.
A empresa Azambuja Engenharia e Geotecnia esclareceu a situação. Alexandre Nichel, representante da empresa, tranquilizou os moradores, frisando que nenhuma movimentação no solo foi captada após novembro.
Houveram três rupturas, na ocasião, conforme o engenheiro: uma na encosta próxima ao prédio na rua Ladeira das Azaleias, que é o ponto mais crítico, a estrutural da cortina atirantada da perimetral e superficiais na talude de corte, também ao lado da perimetral.
“As armaduras entraram em corrosão. Os painéis acabaram abrindo e causando essa corrosão, também foi verificado em alguns tirantes executados. Mas por que aconteceu a corrosão? Na grande maioria por um problema executivo. Isso aqui é corrosão do aço. Isso aqui é como se tu tivesse concretado uma laje e tivesse ficado a armadura exposta na laje e tu deixasse ali no tempo. Com o tempo o aço vai entrar em corrosão e tu vai perder a laje. Foi mal executada (construção das barreiras). Esse é o diagnóstico que a gente tem dessa estrutura”, informou.
Ainda, Nichel explicou o motivo de não haver tanta preocupação com as casas. Segundo ele, em um caso muito crítico, a via serviria de bacia para conter um possível deslizamento.
“Por que a gente não fica tão preocupado? Porque a topografia desse terreno não é uma topografia tão verticalizada quanto ali (área do prédio que desabou). Aqui a encosta é bem abatida. É mais ou menos 3 para 1, ou seja, a cada 3 metros a gente ganha 1 metro de elevação. Um caso muito crítico que pode acontecer é, por exemplo, rompeu, a água com chuva vai trazer uma água barrenta para baixo. Isso num caso extremo, de uma movimentação extrema aqui. Pode acontecer que a perimetral ali receba essa contribuição. Mas entre as casas e a encosta está tranquilo, além de ter esse trecho grande e plano, quase que plano, a gente ainda tem a avenida para servir de bacia de retenção, digamos assim”, explicou.
O que causou a ruptura e o que será feito no local?
Uma das dúvidas dos contribuintes era sobre a responsabilidade do prédio acerca da ruptura causada na encosta, próxima ao prédio. Alexandre indicou que diversos fatores podem ter causado o início das rachaduras no solo.
“É difícil falar. Não é só a chuva que é a causa. Essa ocupação um pouco desordenada também pode ser causa. Agora esse tipo de movimento acontece onde o homem não botou a mão também, entendeu? Então é uma característica das encostas”.
O engenheiro também frisou que a encosta não está impedida de receber construções, desde que sejam bem projetadas e levem em consideração o tipo de terreno que está instalando uma edificação.
“Se a construção for projetada e executada de forma correta, ela vai ajudar nessa visão de encosta, não é prejudicial. O que é prejudicial é uma construção que não considera o terreno que ela está implantada. Isso prejudica a sustentabilidade da encosta. Agora, se o empreendedor, o proprietário do lote, fizer um estudo geotécnico adequado, executar as obras de contenção necessárias para poder viabilizar o uso, não tem um impeditivo para uso. Pode ocupar desde que você seja responsável e faça uma implantação adequada”, comentou.
Alexandre ressalta que a intervenção deve ocorrer indiscutivelmente para estabilizar a encosta. “A intervenção para estabilização tem que acontecer porque existe um risco, por conta de um movimento que não foi estabilizado. Temos que sair desocupando? Não, o risco ele cresce com fatores combinados como a precipitação elevada ou novas movimentações”, apontou.
INTERVENÇÃO – A obra total custará em torno de R$ 22 milhões e, quando iniciada, terá duração de 12 meses. A Prefeitura tenta recursos por meio da união e já entregou o projeto para a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, que deve dar resposta até o dia 7 de maio. Caso não tenha retorno, o Executivo deverá executar com recursos próprios a primeira fase que custará R$ 5 milhões, valor que a Prefeitura busca com o Governo Federal.
“Foram definidas duas tipologias de solução, uma grelha atirantada nos painéis que ainda se encontram íntegros, e uma nova cortina atirantada no trecho rompido, executando um nível adicional de tirantes no topo”, indica o projeto para a ruptura da cortina de concreto, custando R$ 2.700.000,00
Para as rupturas superficiais, será feito o grampeamento com face em tela metálica associada a uma geomanta sintética para controle da erosão, orçada em R$ 1.360.000,00
Para a parte mais crítica, na ruptura da encosta, a solução encontrada foi a implantação de grampeamento e o apoio de uma cortina de concreto atirantada. Esta parte deve custar R$ 17.800.000,00. “Tem dez quilômetros e meio de tirante que empurram com uma força de 50 toneladas contra a encosta para que haja estabilização. É uma obra pesada”, disse Alexandre. “É uma obra que deve ter acompanhamento posterior. Com a intervenção a preocupação acabará, mas a estrutura deve ser acompanhada”, finalizou.
Sobre os eucaliptos que ainda não foram retirados sob a talude da cortina de concreto, a Prefeitura busca meios legais para a retirada, já que a maioria está em um terreno privado.
“Eu quero que resolvam”, clama morador.
A reportagem do Jornal Integração acompanhou a reunião e conversou com alguns dos afetados, que relataram angústia, incertezas e medo. Ainda, os moradores clamam por uma resolução que de tranquilidade para a convivência no bairro.
“Eu quero que resolvam, a única coisa que eu queria era que resolvessem pra gente ficar mais tranquilo em casa”, falou Darci Gross, 76 anos.
O idoso reside no bairro com a esposa há mais de 30 anos e não estava em Gramado no dia do temporal. Gross contou que estava com a família em Brasília e acompanhou as notícias de longe e reclamou sobre a desinformação que foi espalhada.
“Quando fiquei sabendo de lá, Deus me livre, diziam que ia cair tudo. Houve uma desinformação muito grande, né? Muito grande. Então, o que a gente sabia é que ia cair tudo. Que ia afundar tudo”, relatou.
A empresária Fernanda Kohlrausch revelou o sentimento de impotência com a ocasião. Ela relatou que a incerteza foi tema por dias, quando as informações acerca do ocorrido ainda eram escassas. “Sentimento de desespero e sem informação. Foram dias de incerteza e em busca de informações concretas sobre o que realmente estava acontecendo”, sublinhou. Ela mora com o marido Gilson e os filhos Dom e Noa. “O geólogo Alexandre passou bastante confiança e mostrou ser entendido sobre o que estava falando. Consegui entender o que realmente ocorreu no local do sinistro













