REGIÃO – No Dia de Finados, uma atmosfera de saudade e memórias preenche o ar, enquanto pessoas de diferentes lugares se reúnem para prestar homenagens aos seus entes queridos que partiram. É um momento de reflexão e recolhimento, onde os corações se abrem para a lembrança e a gratidão pela vida daqueles que já não estão mais presentes.
Em todos os anos, no dia 2 de novembro, os cemitérios se transformam em verdadeiros jardins de emoções. Famílias inteiras chegam carregando flores, velas e fotografias, prontas para decorar os túmulos com carinho e devoção. É uma forma de manter viva a conexão com aqueles que partiram, honrando a memória e mostrando o amor que ainda existe.
As lágrimas, inevitavelmente, encontram espaço nesse dia. Elas se misturam com sorrisos nostálgicos e abraços apertados. Cada túmulo guarda uma história, para momentos compartilhados e para a saudade que permanece.

Momento de lembrar grandes momentos. Assim descreve a professora de Ciências, Jaqueline Dutra Noel, 59 anos. No Cemitério Católico, no bairro Floresta ela fazia a limpeza da capela onde estão enterrados seus pais Olídio Dutra, que faleceu em 1984 aos 58 anos e Elli Arend Dutra, falecida em 2014 quando tinha 85 anos.
Com as flores no piso e outras no entorno em uma bancada onde está o quadro com as imagens de seus pais, Jaqueline lembrou dos momentos vivenciado. Destacou a profissão dos pais, Olídio vendedor de automóveis da então Auto Canela e da mãe, que possuía a Malhas Imperial, na rua São Pedro, onde ainda permanece a empresa sob a tutela da família.
“Tenho diversas lembranças dos meus pais, eles tinham muitos amigos eram bem receptivo com as pessoas. Sempre foram muito carinhosos com os filhos, nunca mediram esforços para pagar os nossos estudos. Inclusive estava com o convite da minha formatura para entregar para ele em um almoço de família, mas infelizmente não foi possível e minha mãe quando meu pai faleceu foi uma guerreira, comandou a família assumiu a loja e sempre muito adorada pelos netos”, recorda-se.

O mecânico Sérgio Ferreira, 69 anos, conhecido como Fubika, como é tradicional neste período do ano, faz um roteiro por diversos túmulos. Entre eles dos avós, Adão e Anelina Narciso Ferreira, que morreram em 1973 e 1979 respectivamente. Além dos familiares aproveitou para deixar também uma flor onde foi sepultado o amigo e conhecido no tradicionalismo gaúcho, Liberalino Ribeiro da Silva, o Tio Berato, falecido em 4 de julho de 2009.
“Tenho muitos familiares que foram sepultados, então faço as visitas e também de amigos como o Tio Berato, grande parceiro do CTG Manotaço”, declarou. Adriana Branchini da Paróquia São Pedro, atua na zeladoria do cemitério e mencionou que o período antes do finados já é de muito trabalho para deixar o espaço estruturado para receber a comunidade.
“É um momento de deixar tudo bem estruturado para receber a nossa comunidade, eles fazem as limpezas, orações um momento de reflexão e bonito ver as famílias vindo no cemitério, os filhos acompanhando seus pais”, disse Adriana destacando que para evitar a dengue, a comunidade está trazendo as flores com plástico no entorno e os vasos com furo para evitar o acúmulo de água parada. Outra ação destacada a construção do velário na entrada do cemitério e a obra em andamento do columbário (espaço com gavetas onde são guardadas as cinzas dos falecidos).
Tradição e reflexão
No Cemitério Municipal de Canela, o mesmo cenário foi encontrado. Dezenas de pessoas realizavam a limpeza dos túmulos dos entes queridos e funcionários da Prefeitura realizavam a manutenção de alguns pontos do Cemitério.
Edgar Procksh, 73 anos, perdeu os pais muito cedo. Há mais de 60 anos visita o túmulo do patriarca e da matriarca da família, promovendo a manutenção dos túmulos e renovando a tradição com o passar dos anos.
“É uma tradição que vem de gerações da nossa família. Eu sou um dos mais novos dos meus irmãos e somos 12, nós mantemos isso. Veio dos irmãos mais velhos e continuamos. Vir aqui é renovar o respeito e aliviar a saudade. É uma coisa que consideramos, na nossa família todos se dão bem, não há um que se estranhe. Isso é muito importante”, destacou.
Seu Edgar garante que, enquanto a vida deixar, continuará com o costume. Ele salienta que o momento não é para aliviar somente a saudade dos que já se foram, mas para ver familiares que não se encontram rotineiramente.

“Enquanto eu viver vou vir aqui manter organizado para eles. A maioria das pessoas vem, lembra do dia (de Finados) e pensa: é minha obrigação. É uma coisa que todas as famílias fazem, também é momento de rever algumas pessoas. Quando chega nesse dia encontramos familiares que não vemos sempre, se torna um momento de felicidade também”, comentou.
A família também mantém outros dois túmulos de outros irmãos que faleceram recentemente. Procksh lembrou que a visita reaproxima a memória e dá conforto ao coração.
“Eu tenho muita saudade deles, tem dias que ela vem forte. Os familiares que estão aqui são muito queridos, viemos aqui e olhamos a fotografia, isso representa uma saudade. Vir aqui reaproxima”, completou.
Outra que renova a tradição é a idosa Dejanir Rodrigues. Aos 75 anos, a viúva visita o ex-marido, irmão, cunhado e diversos amigos. “As pessoas falam que é bobagem, mas eu sinto um alívio. Viemos aqui para matar a saudade. Tenho aqui meu irmão, cunhado, marido e muitos amigos queridos”, revelou.
Dona Dejanir acredita que os entes acompanham as visitas ‘do outro lado’ e reitera que o momento serve para dar alívio à angustia que a saudade causa.
“Acho que é importante nos virmos para aliviar a saudade é ter um momento para lembrar das pessoas que se foram. Dizem os espíritas que eles veem a gente vir aqui e cuidar deles”, finalizou.
Textos: Tiago Manique – [email protected] e Leonardo Santos – [email protected].




                                    







