Tiago Manique
CANELA – A realidade é mundial. Devido a pandemia do coronavírus, da Região das Hortênsias ao continente asiático entre outras do planeta a bola parou. Não ha treinos e jogos, arquibancadas de estádios e ginásios vazias, ecoando um "silêncio ensurdecedor", parafraseando Nelson Rodrigues, quando o Brasil no dia 16 de julho de 1950, perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai no Maracanã.
O futebol paralisado atingiu também um canelense que mora no exterior. Paulo Josué, cria dos campos e quadras de Canela está há mais de 10 anos longe da terra natal, quando aos 21 anos foi atuar no Juventude e de lá passou a rolar a bola pelos campos do mundo, onde desde 2017, está atuando na Malásia, país com mais de 32 milhões de habitantes.
Vestindo a camisa do Kuala Lumpur F.C, mesmo nome da cidade onde reside que é a capital malaia, o meio campista que nesta temporada está com a braçaderia de capitão da equipe, reside com a esposa Ruana Müller e Vicente Müller dos Reis. Com o campeonato paralisado desde o dia 21, a campanha até o momento da sua equipe estava sendo promissora com quatro jogos, duas vitórias e dois empates, ocupando a quarta colocação no Campeonato Malaio, semelhante ao Brasileirão.
O atleta conversou com a reportagem do Jornal Integração e tratou de tranquilizar familiares e amigos e mencionou que está bem, apesar de reclusão em virtude da pandemia, tenta dentro das possibilidades manter a forma física, assistir filmes e desenhos e brincar com o filho. Ele relata que assim como o Brasil, a população segue apreeensiva e da mesma forma existe as restrições quanto ir às ruas, sendo que o exército e polícia local, estão orientando aos moradores que saiam de casa somente em extrema necessidade.
A entrevista
Jornal Integração: A Ásia foi o epicentro do vírus, no caso a China e falando mais especificamente da Malásia, como está a situação, muitas restrições para as pessoas saírem de casa?
Paulo Josué: Praticamente como em todo mundo, muitas restrições com o comércio aberto somente o essencial como supermercados e farmácias. Escolas e shopping centers fechados, policiamento juntamente com o exército ajudando a monitorar as pessoas que estão na rua aconselhando a voltar e ficar em casa.
JI: Como está o comportamento da população, principalmente nas idas a comércios de produtos essenciais como supermercados e serviços de saúde, está ocorrendo muita aglomeração, ou em virtude do continente ter sido o estopim do vírus, os moradores estão mais centrados nesta questão?
PJ: Acredito que o comportamento esteja como no resto do mundo, todas as pessoas não sabem exatamente o que está acontecendo nem como se comportar, pois é uma mistura de pânico com medo e a tentativa de seguir o que as autoridades estão pedindo. Isso acarreta que há muita aglomeração em supermercados levando os estoques a praticamente acabar no mesmo dia que reposto. E claro, na redes sociais vemos todas as pessoas em campanha para que permaneçam em casa e evitem espalhar ainda mais o vírus assim não superlotando hospitais para casos de reais emergências.
JI: Te preocupa neste momento a distância de casa de não poder estar perto dos familiares e a quarentena na Malásia, alguma coisa te deixa aflito ou você está conseguindo administrar bem esta situação?
PJ: A distância é um problema recorrente na minha vida de atleta, já são 10 anos distante da família e dos amigos aí de Canela e Gramado, então sobre isso já estamos acostumados. E quanto a quarentena está tudo certo, estou com minha mulher e meu filho em casa estamos saudáveis, já são quase quatro anos de Malásia, então alguns programas diários estamos evitando como academia, escola e treinos. O que mais me deixa aflito com certeza é a falta da rotina da escola e especialmente dos treinos, o fato de deixar de melhorar a cada sessão de treinamento perdida não faz bem, ainda mais para atletas de alto rendimento.
JI: Prioridade é a sua saúde e da família, mas na parte financeira com o futebol paralisado o clube já acenou com algum apoio maior aos atletas se estender por mais alguns meses esta situação?
PJ: Ainda não temos nenhuma notícia a respeito de qual maneira o clube irá se portar,creio que não mudará nada em relação a questões financeiras por que já tem seu orçamento para praticamente o ano todo. O único problema sob meu ponto de vista é o calendário, caso resolvam estender mais ainda a paralisação talvez tenhamos que jogar muito mais jogos em questão de poucos dias, o que deve diminuir a qualidade do futebol praticado por conta do número excessivo de partidas.
JI: Você é atleta e depende do corpo, como está fazendo para manter ou tentar amenizar as condições físicas e o que junto com a família fazem nestes momentos de confinamento domiciliar?
PJ: Nas últimas semanas em que tivemos jogos foi uma maratona pesada, foram quatro jogos em 10 dias praticamente, então nesses primeiros dias de quarentena resolvi descansar bem o corpo para que nos próximos dias volte a treinar em casa pelo menos o mínimo para manter a parte física em dia. E em casa muita brincadeira com meu filho que já está com seis anos de idade, muito vídeo game, filmes, séries e atividades escolares e leitura. Desta forma vamos tentando driblar o tédio que é estar impedido, compulsoriamente e de maneira acertiva, de sair de casa.
JI: Aqui também estamos vivenciando um momento onde boa parte da região está paralisada em virtude do vírus. Apenas estabelecimentos essenciais em funcionamento, então gostaria que tu deixasse uma mensagem a população de Canela e Gramado, aos esportistas também, para este momento delicado que o mundo está vivenciando.
PJ: Estou acompanhando pelas redes sociais e pela família e amigos as notícias do Brasil e especialmente da nossa região. Não sei exatamente qual a verdade sobre isso, muitos especialistas falam que o vírus é perigosíssimo outros são mais brandos quanto ao mesmo. É muita informação que têmos à disposição e mesmo em tempos difíceis vemos muita gente fazendo política e tentando tirar vantagem dessa calamidade, uma triste realidade do nosso Brasil infelizmente, uma guerra de narrativas em que muita pouco se pensa na população.
Então a mensagem que fica é que se cuidem o máximo possível, procurem seguir o conselho das autoridades, esperamos que os mesmos deem suporte a nossos comerciantes e trabalhadores que estão todos em casa obedecendo as restrições impostas para que possamos reestabelecer nossa antiga rotina diária e vencer mais essa batalha.
E para os desportistas a mensagem é a mesma, sabemos o quão bom é estar com os amigos para jogar uma pelada, ou então competir em alguma modalidade, nos faz parecer mais vivos quando estamos participando de algum evento esportivo, especialmente para mim o futebol, sabemos também que é onde temos muito contato físico o que vai na contramão do que estão pedindo as autoridades.
Então para alguma atividade física fica a dica para que façam em casa, encontrem alguma maneira de se manter em movimento e deixar de lado a preguiça que às vezes impregna na gente. Deus abençoe a todos e um super abraço para todo cidadão da região.