Leonardo Santos
CANELA – Há 107 anos, nascia um acanhado colégio no bairro Canelinha, aEscola Estadual Neusa Mari Pacheco (CIEP),fundada no dia 6 de março de 1913 por Carlos Wortmann, seu primeiro professor e diretor. Foi batizada inicialmente como Escola Estadual Isolada, nome que permaneceu até 1951, quando passou a se chamar Escola Municipal Tiradentes, e por último de Escola Neusa Mari Pacheco.
Com o lema ‘A Participação faz a diferença’ escrito em seu brasão, além das aulas curriculares, aescola incentiva e desenvolve diversos projetos disciplinares e artísticos. Entre eles, natação, festival de danças, festival de teatro, banda mirim e marcial, além de atividades agrícolas realizadas na linha São João e Banhado Grande. Os 1.123 alunos matriculados, de pré ao 3º ano do ensino médio, aproveitam de uma estrutura com piscina, ginásio e quadras poliesportivas com vestiário, sala de informática, barzinho e refeitório.
Dos 90 Centros Integrados de Educação Pública (Ciep) construídos no estado, o do Canelinha está entre os 23 que ainda perduram conforme o intuito inicial, e os outros 67 se tornaram escolas regulares. Os Cieps foram criados com o propósito de acolher crianças e adolescentes dos bairros mais pobres com o turno integral. E com esta modalidade instaurada há 26 anos, a escola serviu de modelo à educação do município, que aderiu ao método no início de 2019.
“Nós olhamos para a escola Neusa Mari Pacheco, e não há como a cidade não ter orgulho. Olhamos para a organização, fomos visitar (…). A partir disto começamos a montar o projeto. A Neusa inspira modelos de educação para o Brasil inteiro. Não podia deixar de inspirar modelo de educação para Canela”, sublinha Gilberto Tegner, secretário da Educação do município.
Em Canela, as escolas municipais que já contam com o turno integral são: Barão do Rio Branco (Saiqui), BertholdoOppitz (São Lucas), Cônego João Marchesi (Ulisses de Abreu), Dante Bertoluci (São Luiz), Ernesto Dornelles (Vila Boeira), João Alfredo Corrêa Pinto (Sesi), Santa Terezinha e Severino Travi (Distrito Industrial).
Melhor do Brasil – Há quase 10 anos, no dia 23 de novembro de 2010 em Brasília, a escola recebia o título de Melhor Escola Pública do Brasil,conquistado no Prêmio Sesi Qualidade da Educação. O educandário disputou contra 1,8 mil colégios na primeira fase e 75 na segunda. A escola foi a única do Rio Grande do Sul entre as ganhadoras, sendo contemplada com um cheque de R$ 20 mil.
Piscina a base de energia solar
Há 21 anos a escola conta com uma piscina semiolímpica climatizada, onde são ministradas aulas de natação e ginástica por profissionais do colégio. E um sonho antigo do diretor Márcio se tornou realidade, há aproximadamente três anos a piscina funciona a base de energia solar, o que impediu que o projeto fosse interrompido por conta do alto custo.
Por 18 anos a piscina foi aquecida a gás, e de acordo com o diretor MárcioBoelter, os custos chegavam a R$ 300 mil por ano. Atualmente, com a implantação dos painéis solares o valor foi reduzido pela metade. “Estamos no dia 10 de março, ligamos a piscina no começo de fevereiro e até agora não gastamos um centavo com gás (…). Hoje conseguimos manter por conta disto”, destaca ele.
Dificuldades financeiras
Reflexo do Estado que passa por dificuldades financeiras, o colégio frequentemente sofre com o atraso dos valores que deveriam ser destinados à educação, se mantendo por conta da ajuda de seus frequentadores e da comunidade. Anualmente, a escola gasta R$ 1,2 milhão para semanter, valor que é abatido somente a metade pelo estado, que deveria arcar integralmente com o custo.
Diariamente são servidos 800 almoços para alunos e professores. O almoço é mantidopor conta do auxílio da população e da quitação dos valores por parte do Estado referente a 2019, que estão sendo aproveitados neste ano. Sem repasse para o almoço desde dezembro de 2019, Boelter destaca que a escola consegue manter a refeição do meio-dia apenas até o fim deste mês. “Pro mês de março nós conseguimos manter, mas precisamos do repasse do governo [para continuar fornecendo]”.
Outro problema é o auditório. O prédio que abrigava o festival de danças, festival de teatro, entre outras atividades artísticas da escola, está interditado há 11 anos por conta do enfraquecimento da estrutura. Em 2018, as obras foram retomadas, com a instalação de um novo telhado, com telhas termoacústicas, sendo interrompidas novamente após isso. Conforme Boelter, a escola depende de um aditivo para as obras serem finalizadas, faltando somente a instalação de piso e banheiros no local. “Estamos engatadosna questão de um aditivo, que o secretário Faisal prometeu via Facebookno final de setembro do ano passado. Este aditivo até agora não saiu”, conta.
Como meta para este ano, o diretor ressalta a importância de manter o projeto de turno integral e melhorar os índices de evasão e repetência, que segundo ele foram altos em 2019, em função do desgaste dos professores, por conta da greve e desvalorização. “A meta acima de tudo é manter o projeto e melhorar a taxa de qualidade dentro do mesmo. É difícil se manter lá em cima, logo depois cair, é muito complicado”, diz Boelter.