Comércio foi atividade que apresentou o melhor desempenho no ano passado (Foto Rafael Costa, Divulgação/Banco de Dados)
O comércio e o setor de serviços foram protagonistas no incremento de 5% na economia de Caxias do Sul em 2019 sobre o ano anterior. A atividade comercial registrou alta de 11,5%, enquanto serviços apuraram 10,3%. A indústria, principal segmento produtivo da cidade, avançou apenas 0,1%. Os dados foram divulgados na terça (3/2) pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL).
Na avaliação da economista Maria Carolina Gullo, da Diretoria de Economia, Finanças e Estatística da CIC, o resultado da indústria foi um ponto fora da curva, na medida em que a confiança gerada com o novo governo, no início do ano, acabou não se consolidando. “A velocidade das medidas aguardadas não acompanhou as expectativas projetadas”, definiu. O também diretor Alexander Messias acrescentou a base bastante elevada de comparação, pois a indústria teve reação muito forte em 2018. “Ficamos alinhados com o cenário nacional”, reforçou.
Já o comércio e o setor de serviços, na visão de Mosár Leandro Ness, assessor de Economia e Estatística da CDL, superou as expectativas e beneficiou-se da forte recuperação da indústria em 2018, que gerou empregos e renda. Mas alertou que os empresários destes segmentos estão cautelosos, já que é preciso a indústria retomar seu crescimento.
Mesmo diante de variáveis, como o novo coronavírus, a crise na Argentina, a votação no Congresso Nacional de temas como as reformas Administrativa e Tributária, e os efeitos da estiagem no Rio Grande do Sul, o sentimento das lideranças empresariais da cidade é positivo em relação ao desempenho de 2020. O representante da CDL estima que a economia local possa crescer até 7%, com PIB nacional na ordem de 2,4%. “Creio na aceleração do crescimento no segundo semestre”, ressaltou.
A economista Maria Carolina Gullo reforça com o entendimento de que a aprovação pela Assembleia de mudanças na estrutura do Estado do Rio Grande do Sul deverá repercutir positivamente na atração de investimentos. Messias assinala que a estabilidade na indústria local não é vista como uma crise, mas como uma desaceleração, a ser revertida em 2020. “O sentimento é positivo”, definiu.
Baixa nas exportações e na geração de empregos
O ano de 2019 foi marcado por duas situações bastante complexas, que devem pautar debates ao longo de 2020. Uma se refere ao mercado externo, que apresentou recuo de 17% nas exportações, totalizando US$ 685 milhões, o menor valor em 10 anos, superior apenas ao de 2009, que foi de US$ 632 milhões. A causa principal é a crise da Argentina, mercado ao qual o mercado caxiense tem forte dependência. Em 2017, o país vizinho respondeu por 18,95% das exportações locais; em 2019, por apenas 6,5%, passando a ser o quarto destino. “As vendas para a Argentina não devem se recuperar no curto prazo”, avalia Alexander Messias.
Desde 2017, o Chile é o principal destino dos produtos caxienses, tendo respondido por 25% no ano passado. A preocupação é que a crise política do país possa gerar entraves aos negócios. Os Estados Unidos avançaram dois pontos, para 12%, e o México subiu de 5,5% para 7%. A China perdeu participação, de 5,5% para 2,5%.
Já as importações foram elevadas em 9,5%, para US$ 415 milhões, a quarta alta desde 2016. Neste período, o incremento foi praticamente o dobro. Com 33%, a China é a principal origem dos produtos, seguindo-se Estados Unidos, com 14%. Os incrementos mais representativos foram da Suécia, que passou de 1,3% para 6,2%; e Índia, de 2,5% para 4,4%. Itália, com 10%, e Alemanha, com 6,5%, perderam participações.
Outro cenário preocupante é o do mercado de trabalho. Após a criação de 5.132 vagas em 2018, o número caiu para inexpressivas 100 novas vagas, elevando o estoque para 163.179 empregos formais. A indústria de transformação e civil fecharam 934 postos no ano passado, reduzindo sua participação no total para 44%. No melhor ano, em 2013, quando a cidade empregava formalmente 183.173 pessoas, o setor respondia por 50%. O espaço foi ocupado por mais vagas no comércio e nos serviços.
Na avaliação de Alexander Messias, a recuperação destas 20 mil perdidas não ocorrerá imediatamente, mas somente no longo prazo. Além disso, muitos dos trabalhadores, habituados à indústria, terão de buscar qualificação para novas oportunidades, que deverão surgir com as tecnologias. Para Maria Carolina Gullo, esta realidade será comum a trabalhadores de todas as áreas. “A tecnologia já está aí e veio para ficar. Vagas estão sendo fechadas em função destes avanços em todos os segmentos”, alertou. Messias prega como necessária a adoção de políticas públicas para adaptação das pessoas a estes novos cenários, que também irão gerar, de forma geral, salários inferiores aos atuais.