InícioNotíciasCidadesPatrimônio natural e histórico de Gramado, Lago Joaquina Rita Bier exige preservação

Patrimônio natural e histórico de Gramado, Lago Joaquina Rita Bier exige preservação

Tempo de leitura: < 1 minuto
MARTINA BELOTTO
 
GRAMADO – Um dos espaços públicos mais antigos da cidade, o Lago Joaquina Rita Bier, conhecido também como Parque Hotel, tem sido alvo de indignação por parte da comunidade. Construído nos anos 1930 no bairro Planalto, o Lago foi por muito tempo um dos principais espaços de lazer para moradores e veranistas. Preenchido pelas mais variadas espécies de plantas e árvores nativas, o cenário do Joaquina chegou a ser cartão postal de Gramado. Entretanto, as mudanças paisagísticas das últimas décadas são visivelmente marcantes. Atualmente, a população reivindica que o espaço está perdendo sua essência e que não recebe a devida preservação. 
 
Com o passar dos anos, o local deixou de ser somente ponto de encontro para moradores e turistas e se tornou palco de espetáculos do Natal Luz (o mais recente foi o Reencontros de Natal). Receber o evento implicou em uma série de mudanças, incluindo a retirada de algumas árvores e jardins para dar espaço às estruturas das arquibancadas e palcos. Lembranças das inúmeras azaléias e xaxins de antigamente podem ser encontradas no livro Gramado, o Lago, as Hortênsias e o Turismo, da pesquisadora Iraci Casagrande Koppe.
 
Fora as mudanças visuais, a água que preenche o Joaquina também sofreu alterações. Quando foi inaugurado, o local era liberado para nado e passeios de barco, mas a poluição da água hoje impede até mesmo a sobrevivência de peixes. Conforme explica o presidente da Associação de Moradores do Bairro Planalto, Paulo Drecksler, a grande fonte hídrica que abastece o Joaquina é o Lago da Ferradura (próximo ao Lago Negro), que inclusive está com a água em baixos níveis de oxigenação. “De sete níveis, nós medimos e a água está em 0,57. Tu nem enxerga a água de tanta vegetação que tem, e essa vegetação consome o oxigênio”, relata. Além disso, a Associação atribui parte da poluição aos problemas de saneamento da região, que durante muitos anos vazaram para dentro do Lago. 
 
Cida Lopes, que é secretária da Associação e reside há 23 anos em Gramado, defende que o espaço está perdendo o encanto natural. “Era um lugar belíssimo e encantador. A cidade foi se transformando e não teria tanto problema se o espaço fosse mantido, mas inventaram de colocar um espetáculo lá dentro, porque os shows têm suas necessidades. Aí todo aquele entorno do Lago foi submetido às exigências dos quatro meses de Natal Luz”, aponta.
 
Para Paulo, essas alterações no meio ambiente também podem ser percebidas em outros lugares de Gramado. “Antigamente nós tínhamos quatro cascatas e um Lago. As cascatas já não temos mais, agora o Lago ainda podemos salvar. Temos que desenvolver o pensamento de cuidar do espaço em que estamos, de preservar o nosso planeta e o meio ambiente”, destaca. “Era tão lindo, mas perdeu o sentido. Aquelas arquibancadas são uma poluição visual. No início do Natal Luz era bonito, a gente participava, mas agora não. Perdeu totalmente sua função, sua beleza”, acrescenta. 
 
Paulo pensa que uma alternativa para reverter essa situação seria fazer com que sejam desenvolvidas mais ações para a comunidade no local, como o Dia da Cultura Gramadense, em que foi realizado um dia de programação no entorno do Joaquina. “Aquilo estava muito bonito. A população toda participando em um lugar que é da comunidade”, coloca.
 
Revitalização foi anunciada no ano passado 
No final do ano passado, um projeto da revitalização foi anunciado pelo Executivo. Na ocasião, foi divulgado que o Lago seria esvaziado e refeito o seu entorno, bem como instalação de novos elementos paisagísticos, reformas na parte elétrica, novos banheiros públicos e passeios. Os recursos, na ordem de R$ 5 milhões, viriam da Operação Consorciada Planalto por meio do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Master Hotel. 
 
Em seguida, entretanto, o Ministério Público ajuizou uma Ação Civil Pública contra o Município, visando garantir que a revitalização do Lago realmente ocorresse e que fosse feita evitando danos ambientais. A ação foi motivada pelos constantes registros referentes à precariedade no entorno, na parte elétrica e com relação ao descarte de esgoto no local. O principal motivo da ação foi o anúncio de esvaziamento do Lago.
 
Levando em consideração o orçamento da obra, o MP argumenta que o esvaziamento deve ser antecedido de mais informações técnicas acerca da poluição da água e da capacidade do corpo hídrico receptor, exigindo também o parecer de profissional da engenharia química sobre a atual situação da água. Antes de iniciar o esvaziamento e demais obras, sugerem cuidados quanto à destinação dos resíduos ou quanto à prática de crime ambiental. A liminar foi deferida e, em breve, o Município deve assinar um documento para o plano de ações junto ao MP. 
 
Moradores defendem saída do Natal Luz 
Ao mesmo tempo em que defendem a recuperação do Lago, Cida e Paulo acreditam que as obras não devem iniciar enquanto o espetáculo permanecer no local. “Nós da Associação de Moradores achamos que o Natal Luz precisa sair daqui. Deixem pra fazer essa revitalização quando o Natal Luz for para outro lugar, não adianta fazer agora”, sugere Paulo. “É gastar dinheiro a toa. Preferimos esperar mais um pouco e fazer definitivo”, completa Cida.
 
Em relação ao projeto apresentado no ano passado, os moradores gostaram da proposta, mas acham que seria delicado mantê-lo com as estruturas do evento. “O projeto é muito bonito, mas todo ele foi pensado com itens para serem retirados por causa do Natal Luz e isso não vai durar”, comenta Paulo. “Não tem como manter a proposta da arquiteta com as estruturas do espetáculo”, explica Cida.
 
Eles também estimam que, por enquanto, a obra não vai sair do papel. “A proposta da revitalização está bem parada. Não vai dar tempo pra fazer antes do Natal, porque esvaziar o Lago não seria tão rápido, e até acho bom não sair essa revitalização ainda, seria dinheiro jogado fora”, avalia Paulo. “Passa o Natal e eles colocam uma grama, arrumam um pouco jardim. Aí fica assim por mais seis meses, porque depois começa tudo de novo”, argumenta Cida.
 
De acordo com eles, além das modificações no ecossistema, o Natal Luz também faz com que o espaço fique inutilizado pela população durante o período de duração do evento. Quem tem o hábito de caminhar ao redor do Lago fica impedido de continuar as atividades. Aqueles que procuram um lugar para piqueniques também não conseguem aproveitar a natureza do local. “Sempre tem gente lá caminhando, mas durante quatro meses simplesmente acaba”, aponta Paulo. “Já basta que as árvores foram eliminadas pra ter mais espaço para o público. Gostaríamos que devolvessem o Lago para a população”, finaliza Cida.
 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Morre Eraldo da Rosa Pereira, genro do vereador Jone Wulff

CANELA - Faleceu na madrugada desta segunda-feira (4), no Hospital de Caridade de Canela, Eraldo da Rosa Pereira, aos 48 anos, genro do vereador...

Quatro jogos que separam o Gramadense da elite do futebol gaúcho

Tiago Manique [email protected] GRAMADO – O Centro Esportivo Gramadense (CEG) encerrou no domingo (27), a primeira fase da Divisão de Acesso. Jogando pela 14ª rodada da...

O início do fim do comércio irregular?

Quem passou ali pelo entorno da Igreja Matriz, no Centro de Canela, viu que tinha movimento diferente na tarde desta sexta-feira (25). Era a...

Canela e SESAI alinham ações de saúde para comunidade indígena

CANELA – A Secretaria de Saúde de Canela realizou uma reunião, no dia 22 de julho, para alinhar, ações de atendimento de saúde para...

Tour de France Gastronomie celebra um ano em Gramado com novo cardápio e homenagem aos clientes

GRAMADO - O Tour de France Gastronomie completou, segunda-feira (14), seu primeiro ano de funcionamento em Gramado e marcou a data com o lançamento...
error: Conteúdo protegido