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Futuro incerto: o que vai acontecer com os elefantes brancos?

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Coluna publicada no dia 12/08.

Leonardo Santos

Na sessão de ontem, segunda-feira (11), da Câmara de Canela, o vereador Lucas Dias (PSDB) fez um resgate histórico que, na minha visão, foi daqueles que prendem a atenção. Ele trouxe à tona a trajetória cultural da cidade, especialmente do Festival de Teatro, e não foi só para contar curiosidades: foi para jogar luz sobre o estado atual – ou melhor, o abandono – de espaços públicos que já foram motivo de orgulho.

Lucas lembrou que tudo começou ainda nos anos 1980, no Festival da Criatividade, dentro da Escola Cenecista. Um evento que abria espaço para qualquer manifestação artística – dança, música, teatro de bonecos – mas que acabou tendo o teatro como protagonista. Com o tempo, vieram as fases comunitária e profissional, com nomes conhecidos nacionalmente, mas também talentos caseiros que cresceram e se destacaram.

E é aí que ele começa a apertar o nó: depois do auge, veio o declínio. Em 2003, acabou a fase comunitária, e em 2007 foi o último Festival de Teatro. Não foi só o fim de um evento, mas – como ele disse – o início de um abandono geral da arte em Canela. A Casa de Pedra, por exemplo, sobrevive hoje praticamente porque é feita de pedra, como ele mesmo observou, citando os problemas que o espaço cultiva no telhado. O Centro de Feiras, que já recebeu grandes eventos como o Chocofest, virou um “elefante branco”. E o Teatrão, que por mais de 70 anos foi espaço de entretenimento e cultura, hoje está “na UTI”, vivendo de aparelhos.

Foi nesse ponto que, confesso, senti uma mistura de concordância e preocupação. Concordo quando Lucas diz que não dá para colocar essa herança na conta do governo atual – e ele mesmo deixou isso claro. Mas eu tenho um receio enorme de que esses espaços continuem do mesmo jeito por mais anos. Não é torcida contra, pelo contrário: minha torcida é para que o governo resolva e prove que sabe fazer. Mas, sendo sincero, talvez seja só eu me “vacinando” emocionalmente para não me frustrar depois.

Memórias do passado político

Quando Cabo Antônio (MDB) pegou o microfone, a conversa mudou de tom. Ele entrou na comparação entre governos, trazendo o ex-prefeito Constantino e o atual, Gilberto Cezar. Fez questão de dizer que Constantino levou melhorias aos bairros – asfalto, luz de LED, escolas de turno integral – mas não escondeu que, na visão dele, a cultura foi deixada de lado.

E aí veio o detalhe mais ácido: lembrar que Gilberto passou sete anos como vice-prefeito de Constantino, recebendo salário, mas não quis assumir o Turismo quando convidado. Segundo Cabo Antônio, o atual prefeito não quis assumir pastas e depois “descobriu tudo aquilo que nós já sabemos”, provavelmente se referindo a Operação Cáritas, e saiu.

Ele também criticou escolhas de secretariado do passado, especialmente no turismo, dizendo que teve gente que “foi ali para ganhar dinheiro e não trabalhar”. Falou ainda da falta de regras para cargos em comissão, comparando com funcionários efetivos que podem ser desligados se não trabalharem direito.

Eu escuto isso e penso: é inegável que existe uma responsabilidade política compartilhada – ninguém governa sozinho, nem no sucesso, nem no fracasso. Mas também é fato que heranças assim ficam anos pesando no presente. O que eu quero ver, e aí minha torcida volta a aparecer, é se esse governo vai conseguir virar a página e entregar. Porque, lembrando do que Lucas trouxe antes, não dá para perder mais décadas de espaços culturais sem uso.

O lado humano

O vereador Roberto Danany (MDB), por sua vez, não ficou no campo puramente administrativo. Ele trouxe um assunto que, para mim, merece atenção: as filas para procedimentos como colonoscopia, endoscopia e cirurgias eletivas. Ele falou do assunto quando pedia aprovação do Projeto de Lei (PL) que reordenaria as emendas positivas, votado e aprovado ontem.

Danani lembrou que, desde setembro ou outubro do ano passado, esses serviços estão paralisados e que a fila já estaria em torno de 800 pessoas. Contou casos concretos, como o de uma paciente que estava sangrando e precisava do exame, e falou do drama de famílias que, sem recursos ou plano de saúde, veem a saúde de parentes se deteriorar.

Esse é o tipo de fala que mexe, porque não é sobre “números” ou “projetos”, é sobre gente. É sobre a dor de quem não consegue atendimento. E foi aí que, mesmo sem falar de alguém específico, Danany deixou uma reflexão: o quanto nós, na política e fora dela, conseguimos realmente absorver e agir diante da dor alheia.

Achei interessante esse recorte pessoal que ele trouxe. Porque, embora não estivesse falando de si, ele tocou em algo que muita gente prefere evitar: a exaustão emocional que vem com o contato diário com problemas que parecem não ter solução rápida. E talvez seja por isso que sua fala casou com a minha sensação desde o início da sessão: precisamos falar do que é urgente, mas também do que vai nos afetar daqui a anos. Cultura, saúde, memória… nada disso pode ser tratado como sobra de orçamento ou “quando der”.

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